Aquando da eleição deste Papa havia uma curiosidade e ansiedade latentes, com uma gradação proporcional à proximidade das pessoas à Igreja.
Os CATÓLICOS, depois de um Papa obscuro, vendido como um grande teólogo e filósofo apostado em fazer regressar a Igreja ao seu hermetismo, ansiavam por um Papa que lhes devolvesse a alegria e recompusesse a sua importância temporal.
Os ATEUS e AGNÓSTICOS olhavam para o assunto com curiosidade, pois cientes da importância da Igreja no mundo aguardavam por um Papa mais humano e interventivo, capaz de assumir um papel de relevo na geoestratégia política global.
Os OUTROS, os católicos distantes como eu, de tradição sem acção, depois do exemplo do último Papa, ainda por cima demissionário em circunstâncias estranhas e nunca esclarecidas, de alguma polémica até, também esperavam que algo de importante acontecesse para lhes provocar a reaproximação da Igreja. E ainda mais porque, sabendo da falta de grandes Estadistas neste mundo global, de gente liderante e inspiradora, esperavam que dali saísse alguém capaz de, pelo seu exemplo e palavra provocar o retomar da esperança.
Eu, um moderado pessimista, não esperava nada de muito diferente, mas estava curioso. Ouvi a proclamação do seu nome e o facto de ser da América Latina e de vir de longe dos corredores do poder, já era um bom sinal para mim. O ter escolhido o nome que escolheu foi um sinal ainda mais diferenciador, mas não esperava, nem de perto nem de longe, o que depois se seguiu: um Papa exemplo de despojamento e simplicidade, afectuoso, interventivo e frontal, sem medo de “fantasmas”, agindo como uma pessoa normal e ainda por cima sem medo de encarar a Cúria lobista, acomodada , em alguns casos, corrupta e que, de um modo simples, encetou um caminho de reformas e métodos que, alicerçados no tal respeito adquirido e na liderança não imposta mas normalmente aceite, têm vindo a convencer daquilo que um Papa deve ser: Cristo na Terra!
E assim foi actuando: de um modo simples e directo, com sorriso aberto e chegado, sem medo das pessoas e da sua proximidade, com humanismo e bonomia e dando sempre atenção especial aos mais débeis. A alegria que descortinamos nas pessoas que o vêm e aplaudem, na Praça de S. Pedro por exemplo e o interesse com que pessoas como eu o seguem, são demonstrativos do mais importante daquilo que ele já, transversalmente, conseguiu: o Respeito!
Pois só depois de conquistado este “Respeito” o Papa pôde passar para o outro patamar onde agora está: o da Palavra e o da Doutrina.
E aqui, como todos vemos, ouvimos e lemos tem tomado posições de grande coragem e lucidez, que nos apaziguam e nos fazem convencer que a mudança é possível e a justiça necessária.
Mas, para além da Doutrina Social da Igreja onde, como disse, tem tido relevante presença, eu não consigo ser inconsciente ao ponto de achar que este Papa vai alterar a matriz essencial do que é a Igreja Católica, desde os seus dogmas ao “modus faciendi”, desde os seus rituais aos seus princípios seculares ( casamento dos padres, sacerdócio das mulheres, doutrinas da vida estc.) a posições estruturantes. São aspectos que me distanciam da Igreja mas que eu não espero que tão facilmente mudem.
Mas nos tempos actuais em que estamos sufocados num sistema perverso, injusto e sem alternativas visíveis e em que só o tomar de consciência dos povos desfavorecidos da violência que lhes está a ser imposta os pode vir a libertar, este “ EVANGELLI GAUDIUM” deste Papa agora publicado é um documento e um contributo essenciais a essa tomada de consciência e libertação. E é um testemunho ÉTICO e MORAL relevante.
Porque, como diz o Papa Francisco, “ ESTA AUSTERIDADE MATA!” E “ não matarás” é um dos mandamentos da Igreja Católica. Esta austeridade faz regredir a História, distancia e subverte os princípios básicos da justiça. Este documento é uma bandeira e ao Papa Francisco a devemos.
Mas, para terminar, perante o entusiasmo das bases da Igreja, como tem actuado a sua hierarquia, a Portuguesa neste caso? Em silêncio. Não se ouve uma palavra de ninguém, exceptuando D. Januário Torgal Ferreira. Que se passa? Não concordam? Também são adeptos do “ aguentem, aguentem…”? Ou será que, não augurando grande futuro a este Papa, preferem hipocritamente aguardar? É muito esquisito…OU NÃO!Ver mais