A HISTÓRIA DO MIÚDO QUE DESAPARECEU NA MADEIRA E…EU!

      

                Que desapareceu e ainda bem que apareceu!

                E EU? Como é que eu apareço nesta história, perguntam Vocês?

                Simples!  É que EU, até este acontecimento, porque

nunca vi reclamado algo de semelhante, estava em primeiro lugar no GUINESS BOOK : fui o miúdo que “fugiu” de casa mais cedo e mais quilómetros andou! E esta?

                É verdade porque, se sempre nos foi contado pelo meu Pai e minha Mãe, é porque é verdade E os anais da zona o confirmam…

                Agora o meu Record está posto em causa, porque embora sempre me tenham “vendido” a certeza que tinha “fugido” de casa com 18 meses, a minha Mãe fez hoje melhor as contas e concluiu que foi com 20 meses, pois tendo eu nascido em Julho de 53 e os factos terem ocorrido em Março de 55…está correcto, foram mesmo 20 meses.  Mas está de pé o outro Record: o da distância percorrida. Eu andei 3,5 a 4 Km, cerca de metade da distância entre S. Leonardo e Mourão, e este miúdo só andou 2!

                Mas passo a explicar:  O meu Pai era Guarda Fiscal e prestava serviço na fronteira de S. Leonardo – Mourão,  no Alentejo, na fronteira onde anos mais tarde passou o Humberto delgado! Certo dia recebeu uma carta da sua Mãe Avó Micas ( aquela que sabia ler e escrever muito bem e escrevia as cartas para os namorados e maridos emigrados) e leu-a em voz alta para todos!

                Nós adorávamos a Avó Micas. Ela era a Avó mais distante. Vivia no oposto da freguesia, em Rio de Moínhos. A outra Avó, a Avó Laurinda, mãe da minha Mãe, vivia connosco e era a nossa santa protectora e a saia larga onde nos refugiávamos….A Avó Micas era mais desejada, porque estava mais distante! E era uma festa quando lá íamos, principalmente nas Festas da Senhora das Neves… íamos todos a pé, cerca de 5 Km?, e felizes porque íamos dormir em casa da Avó, em camas de palha, todos excitados…era tudo o que queríamos! Ir à Festa da Senhora, brincar com a nossa prima Celeste e ver o Tio Mário, o nosso herói, ganhar sempre aquele concurso de precisão com espingarda de setas, do Sr. Coelho, e trazer para casa, em ombros e vaidoso, o enorme galo em disputa!

                Enfim, aquela carta lida pelo meu Pai deve ter “ batido” na minha “tola”, afirma a minha Mãe e, certo dia, estávamos todos brincando naquele espaço até que deram pela minha falta. Aquilo era ermo, os miúdos brincavam, as mulheres lavavam roupa ou limpavam, os homens estavam ocupados e, quando deram pela minha falta, eu já deveria estar longe, pois a estrada era recta! À volta eram só campos de searas e casas só longe. Procuraram por todo o lado, nas casas, nas searas, nos poços de água…em todo o lado e nada!

 

                E eu, continuando a minha viagem solitária, fui visto por um Pastor que me perguntou: és filho de algum guardita? Sou da minha Mãe, disse eu! E para onde vais, perguntou? Para  a minha Avó, respondi!

                Deu-me de comer e segundos depois estava rebolando e  brincando com sua filha!

                Um filho de um Guarda pegou numa bicicleta e foi em direcção a Mourão. O Pastor viu-o e perguntou-lhe : procuras alguém? Procuro um menino, filho do Guarda Azevedo. É este? É! E lá fui eu, na bicicleta, acenando com o meu chapéu, como quem diz…voltei e tenho muito para contar… A minha Mãe, coitada da minha Mãe, levou o susto da vida. Como de outra vez em que também desapareci mas…estava a dormir detrás de uma porta!

                Concluindo: parte do Record está ainda em pé: o dos quilómetros percorridos, cerca de 4, por um “puto” de 20 meses! EU!

                Se fosse hoje, com Internet, Telemóveis, Televisões, Rádios, Redes Sociais, Bombeiros, Segurança Civil, Judiciária… o pobre do Pastor estava tramado! Seria sujeito a um batalhão de perguntas e a todas as suspeitas. E EU, também seria interrogado : por Pediatras, Pedopediatras, Pedoanalistas, Pedopsicólogos, Pedopsiquiatras, Pedo…o raio que os parta e perguntar-me-iam : porque “fugi” de casa com essa idade, 20 meses?

                EU que só queria ir à minha Avó…

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