Eu venho, por este meio, pedir encarecidamente a todos os economistas, a todos os analistas económicos, aos que escrevem nos jornais e aos que falam na TV e a todos os especialistas, e são tantos, que afirmam que a nossa Dívida é sustentável, mas sem nunca explicar como, que me ensinem o que eu não sei de Matemática para, assim, poder atingir a sua brilhante constatação.
Pelo que me foi dado ouvir e ler nós seremos obrigados, pelo Tratado Orçamental aprovado pelos estados membros da EU ( menos Reino Unido e Rep. Checa), a reduzir a nossa Dívida para o máximo de 60% do PIB ( neste momento atinge os 130%) e essa redução terá que ser feita a uma taxa média de um vigésimo por ano. Ora, pelo pouco que aprendi de Matemática, esta descida só será possível com subidas sustentadas do PIB e Saldos Primários nunca alcançados e com Taxas de Juro baixas e estáveis.
Mas Cavaco e Passos Coelho, na tal Matemática que só eles sabem e eu rogo que me ensinem, fizeram contas e concluíram que demoraríamos o primeiro 20 anos, num cenário idílico, e o segundo 37 anos, este num cenário mais moderado ( taxa de crescimento de 4% do PIB o primeiro e 1,8% o segundo). Tudo muito realista, portanto.
Mas como, na sequência da obrigatoriedade imposta pelo Tratado, ambos se propõem reduzir o nível da dívida ao ritmo de um vigésimo ao ano, eu gostaria que também me elucidassem, ou alguém dos que acima citei escrevessem algo sobre isto :
1- Como é que vamos crescer 3 ou 4% ao ano durante 20 ou 30 anos consecutivamente?
2- Como é que vamos assegurar excedentes primários dessa grandeza durante o mesmo período?
3- Como conseguiremos durante todo esse tempo taxas de juro médias abaixo dos 4%?
Sei que são perguntas inocentes feitas por um imaturo e irrealista, solidário com todos os outros a quem chamaram isto mesmo, apenas porque questionaram. Mas sonhar não custa e não me consta que esteja para ser descoberto petróleo no Algarve! E mesmo que seja descoberto pode acontecer como à Venezuela : tem reservas, as maiores do mundo, mas não tem meios para o extrair! Que coisa, não é?
Eu confesso que Matemática nunca foi o meu forte nem a minha paixão, mas eu juro que aprendi a tabuada, as contas de somar, multiplicar e dividir, mais as regras de três simples e compostas. E sempre me disseram que isto era suficiente para me safar. Ah! E sei trabalhar minimamente com o Excell! Mas eu temo verdadeiramente que para o caso vertente não chegue e solicito a Vossa desinteressada e douta ajuda.
Eu sei que todos vocês são peritos na arte de brincar com os números e de manobrar os indicadores. Sei também que de tão avançados e especialistas também são capazes de provar que 2 mais 2 são 4 mas também podem ser 5! Lembro-me que uma minha professora de matemática na faculdade conseguiu fazê-lo. Vocês também são capazes, por certo.
Mas, já agora, quando me elucidarem, não façam como Cavaco Silva que formulou valores inquestionáveis, programou-os no Excell, fez até uma previsão, mas não concluiu a operação, não carregou no ENTER! Teve medo do resultado? Nem como o Passos Coelho que diz que é sustentável mas não sustenta, ou a Ministra das Finanças que também diz que é mas não apresenta nada.
Compreendam, portanto, a minha angústia de perante as vossas elaboradas teses eu nada concluir… e de, depois de me chamarem imaturo e irrealista porque, segundo vocês, o que eu quero é incumprir, não me demonstrarem como vão cumprir.
Mas, agora mais seriamente, como eu penso que, baseado no tal conhecimento básico que tenho da Matemática, não vai ser tarefa fácil chegarem ao que afirmam, sejam de uma vez por todas transparentes e descaiam-se lá: quanto vão descer mais os salários e as pensões? E quanto vai aumentar mais o IRS e os restantes impostos directos e indirectos? Que mais património público vão vender? E, já agora, digam se é verdade que, depois de vender tudo e não chegar, vão pôr a MADEIRA à venda, livre de dívida e com o Alberto João no pacote?
PS– O Daniel Oliveira publicou ontem, no Expresso Online, um notável artigo intitulado “ Reestruturação da Dívida: quem foi resgatado” onde explica, prova e conclui que o “ resgate” a Portugal nos “ amarrou” a uma condicionalidade tal que limita qualquer reestruturação e nos subjugará até ao limite do último cêntimo possível. Como as Entidades que nos “ resgataram” estão a salvo de qualquer reestruturação porque assumiram dívida de Bancos privados europeus, restando os bancos nacionais e os pequenos aforradores, e são instituições políticas de poderes extraordinários, desde logo os de isolar, expulsar de declarar insolvente qualquer país resgatado…que reestruturação será possível? Tudo armadilhado, portanto, concluo eu.
Foi a isto que estes nossos grandes “estadistas” nos conduziram, até ao limite da inevitabilidade, foi isto que pretenderam e, finalmente, não apresentam solução porque não a têm e chamam imaturos e irrealistas aos que querem sair deste cerco…
Por isso o Manifesto diz que qualquer reestruturação, necessária e urgente, tem que ser negociada no âmbito da Comunidade Europeia, no convencimento que isto é um problema, um sério problema que nos afecta, mas não só a nós, os países da periferia, como também a outros grandes como a França, por exemplo…
A não ser possível, dado o condicionamento referido e o comprometimento nítido de todos estes governantes com os interesses dos credores, em contrapartida ao empobrecimento acelerado e inevitável, que se assuma então a saída do Euro e mandemos, de uma vez, toda esta gente pela borda fora! JÁ BASTA!