A FALÊNCIA DA MORAL…

Há muitos dias que aqui não escrevo. Muito embora, como pessoa que tenta estar a par do que me rodeia, tenha sempre coisas em mente para partilhar, tem-me faltado o essencial: tempo e vontade. Ou, se pretenderem, vontade e tempo. Ou então as duas juntas porque tempo sempre se tem e vontade deve ter-se sempre que houver tempo, se para tal houver alguma obrigação. Parece até fácil,  mas juntar tudo é complicado.

Mas eu não tenho nenhuma obrigação e nem contrato com ninguém, nem comigo próprio, muito embora pense que quando alguém abre uma “ janela “ destas, onde e por onde  autoriza que nos vejam sigam, assume uma responsabilidade interior que não pode igorar. Por isso vou continuar a escrever, enquanto a vontade não colidir com o tempo. Posto isto:

Tal como todos os meus amigos, também eu vi e ouvi inúmeras coisas nestes últimos tempos, ricos de acontecimentos, de efemérides, de recordações e de revisitações e dessa amálgama toda consubstanciada em sentimentos díspares, ficam para mim várias certezas: a primeira, mesmo que eu, com a idade de 60 anos, já tenha vivido, em termos de 25 de Abril, três vidas- tinha 20 anos no 25 de Abril e mais 40 depois- e, portanto tenha vivido 20 antes, mais 20 durante e mais 20 depois,  correspondendo cada um desses vinte a três estádios diferentes, a primeira, dizia eu, é que valeu a pena este caminho de 40 anos desde o 25 de Abril! A segunda é que continua viva nas pessoas a certeza de que não se pode perder aquilo que se conquistou e foi muito! A terceira é que, mesmo estando a viver um momento de retrocesso, momento este personalizado em pessoas que não estão à altura nem da História nem do tempo, presente e futuro, subsiste a certeza de que, seja de que modo for, é urgente emergir novamente uma vontade colectiva que reponha o rumo do progresso e da justiça que vínhamos trilhando nestes 40 anos, apesar dos avanços e recuos, de alguns fracassos, das contradições e das hesitações e dúvidas quanto aos métodos a seguir. Porque continuo convencido, como historicamente está demonstrado, que este Povo é sempre capaz da regeneração. Faltará, para tal, encontrar o “ rastilho” e o “ detonador” que provoque a reacção potente e inultrapassável que é urgente e o tal caminho que dê luz e forma a essa urgência.

Mas, voltando ao tema, do muito que li e ouvi ficou-me uma frase, proferida pela Helena Roseta no último programa do “ Eixo do Mal”, que resume no meu entender na perfeição a origem e as causas do estado a que desta vez chegamos : “ A Falência da Moral…”.

A Moral e a Ética da Moral são conceitos ancestrais que definem e orientam o comportamento humano em sociedade e estabelecem fronteiras unanimemente aceites para o que é certo e é errado, no pressuposto de que, não vivendo isolados neste mundo, temos que ter regras de conduta que nos levem a que, façamos o que fizermos, tal não colida com o nosso semelhante, na sua dignidade e direitos, e o que nos for proposto fazer, enquanto ocupantes de cargos públicos, tenha que ser feito nessa conformidade respeitando a individualidade e o bem comum, tendo por fundo a justiça e a igualdade sociais, em detrimento do interesse próprio.

Mas o que temos vindo a constatar, de há largos anos a esta parte  ( e daí a terceira “ vida”- os últimos vinte anos) é que estes valores de conduta têm sido sistematicamente vilipendiados e desprezados por quem ocupa o Poder ou os Poderes, de forma sistemática e numa espiral que atinge, agora, contornos de quase normalidade.

Esta depreciação da Moral e da Ética da Moral  tem conduzido à apropriação ilegítima por parte de alguns de bens que são de todos, levando a maior parte destes à penúria e á desesperança, perante uma justiça desigual marcada pela impunidade obscena dos usurpadores. A corrupção galopante é disso espelho, sendo esta exercida a alto nível pelos poderosos que, apoiados por essa nova “ classe” daí oriunda- Os Facilitadores – têm vindo a concentrar em si todos os poderes, mesmo o de fazerem leis em benefício próprio e que, em última análise, obrigam todos os outros a pagar todos os danos das suas malfeitorias.

Mas a depressão e o desencanto que isto proporciona tem que ter um antídoto. Este estado de coisas tem que ter um fim. A Democracia representativa tal como está não serve e agora, tal como já várias vezes aqui escrevi, apenas serve para legitimar estes Poderes . Por falta de alternativas coerentes que levam as pessoas à lassidão, apesar de já terem intuído isto mesmo, mesmo continuando a ordeiramente votar nos Partidos do “ Sistema” e sabendo, apesar de descontentes, que nada de novo daí advirá. E é aqui mesmo que que está o cerne da questão e onde terá de se agir.

O “ Largo do Carmo” nas comemorações do 25 de Abril foi uma mostra diferenciadora dos rituais seguidos na Assembleia da República onde o que fica de fundamental é um apelo a uma nova “ União Nacional” através do entendimento dos Partidos do “ Sistema” quanto à inevitabilidade das políticas que vêm sendo seguidas.

Tal como há quarenta anos atrás esta “ União Nacional” que o PR vigente insiste em patrocinar, a “ União Nacional” dos interesses e das inevitabilidades também já cheira a “ mofo”. Marcelo Caetano, numa das sua últimas “ Conversas em Família” também falava na necessidade de manter o “ status quo”, de não criar ondas que poderiam por em causa a integralidade da Pátria e os Poderes instituídos, afirmando que era impossível e muito perigoso mudar… Mas mudou!

Também agora é urgente MUDAR!

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