Escrevi há dias no Facebook, com fotografia publicada, aquando da comunicação de Sua Excelência o Senhor Primeiro Ministro, devidamente acompanhado pelo seu par de acólitos, que, mais que todas as palavras ditas, o que mais me chamou à atenção naquele acto foi a “ cara de enterro” que aqueles três protagonistas apresentavam ao anunciarem a tal “ saída limpa” e a tal recuperação de “ parte da nossa soberania” perdida.
E eu, estupefacto, perguntava: mas não era suposto ser motivo para grande comemoração, para alegria esfusiante e brindes com o melhor champagne? Para sorrisos, palmadas de parabéns e foguetes pela grande e histórica vitória alcançada? Não foi “ parte da nossa soberania” que foi resgatada”? Não se sabe bem a quem mas mesmo assim resgatada? Ainda por cima fruto do seu superior rasgo político, empenho e saber inequívocos? Então qual o porquê daquelas caras fechadas, daquelas faces contraídas e de “ velório” como disse? Será porque, agora que a Troika se vai, já estão com saudades dela?
Pois é! É que o “ limpinho”, “ limpinho” não é assim tão “ limpinho” como queriam fazer crer. Sabemos todos agora que a tal “ Saída Limpa” não era por eles desejada porque difícil senão impossível de concretizar. Preferiam, claro, uma “Saída Assistida” , com Programa Cautelar, mas…levaram um “ tampo”! Deixaram-nos à sua mercê e entregues a um destino que não queriam. Como uma casca de nós num mar revolto. Mas não queriam porque sem eles, Troika, não sabem governar. Sem ser tutelados e sem a desculpa da tutela. Pois, que desculpa terão daqui para a frente, eles que não chamaram a Troika mas assinaram o acordo, eles que fizeram tudo e muito mais do que lhes foi pedido, eles que cumpriram religiosamente o caderno de encargos e que, apesar de todos os indicadores terem piorado, obtiveram sempre nota positiva? Eles não mereciam ser abandonados! Qual escravo a quem deram acarta de “ alforria” mas que prefere continuar servindo…porque não tem para onde se virar. Como aqueles presos que acenando-lhes com a liberdade preferem ficar na cadeia porque aí ainda vão tendo que comer e cama para dormir. Que vão fazer agora, entregues a si mesmos, quando uma “ rabanada” de vento surgir, e surgirá, fizer desmoronar todo o castelo de cartas construído? Como vão poder justificar o inevitável fracasso quando antes, tutelados, tudo era sucesso?
As “ caras de enterro” são de tristeza pela fuga dos tutores e não de alegria pela sua saída. É que eles vinham cá, negociava-se, entregavam-se uns números, umas projecções, umas intenções, dava-se ar de forte, afrontava-se o Constitucional, mascarava-se…podia-se imaginar mil e uma coisas e eles iam embora satisfeitos. Era bom viver com eles! E agora? Não é que os “ tipos” nos vão vigiar à distância, dizem que até 2037, ano em que se prevê estarem pagos 75% dos empréstimos concedidos pela Troika? E ainda por cima com a espada do Tratado Orçamental que até os “ pulhas” do PS votaram? Uma vitória de “ Pirro”, concluem…e daí a cara de enterro…
É de perceber, portanto, aquelas “ caras de enterro”, aquela angústia e aquela tristeza. Feitas de saudade, sem dúvida. Aquelas caras perguntam-se : que vamos nós fazer, agora que fomos abandonados à nossa sorte, agora que a nossa estratégia de vida paralela, qual “ second life”, começa a ser posta em causa em confronto com a dura realidade dos números e dos
inevitáveis indicadores apresentados pela OCDE e outras Instituições…agora que o enredo da ficção montada começa a ficar sem solução…que vamos nós fazer? Agora que a credibilidade do “ limpinho” começa a soar a João Capela, agora que a “ real life” não se compadece com a nossa narrativa, por muito que Cavaco esbraceje, agora que o mundo claro e limpo que prometemos para 2015 e 2016 e sucessivos começa a cheirar a embuste, que vamos nós fazer?
As “ caras de enterro” dizem isso mesmo : é que para um “ Programa Assistido, o tal “ Cautelar”, os “ gajos “ lá do Norte, os da “ guita”, exigiam garantias extraordinárias e colaterais que ninguém está na disposição de oferecer. E que sem elas não há mais “programas”, dizem os tais. Até o OLLY REN, em campanha eleitoral, ficou “ chateado” mas…nada feito. Com a Irlanda foi o mesmo. Também teve que dizer que era “ limpa”. Agora também , que remédio. E o relógio parou…por falta de corda ou de pilha.
AH! Mas temos uma almofada! Certo, mas dará para o primeiro “ sismo” que houver. E foi conseguida com recurso a mais dívida que os credores, antes tão nervosos, agora condescenderam porque sabem, agora com mais certeza, que alguém há-de pagar…
E a dívida cresce, alegremente cresce. A OCDE diz que em 2015 chegará aos 131% do PIB. Que continua sustentável, eles afirmam. E, no fundo têm razão: enquanto todos os juros forem pagos ela será sempre sustentável. Mesmo quando todo o nosso “ tutano” estiver sugado ela vai continuar sustentável e sustentada no …. espaço etéreo do tempo e das almas que ainda restarem…Amen!