Acerca deste Manifesto, que dizem já ter cerca de 1.500 assinaturas, eu tenho que dizer, antes de tudo, que nunca na minha vida texto tão ostensivamente hipócrita e sem nome, a ponto de poder afirmar que é preciso ter muita “ lata” e nenhuma vergonha na cara para o escrever e subscrever. Isto é, aqueles que foram instrumentos, beneficiários, responsáveis e principais obreiros vêm, candidamente, dizer : NUNCA MAIS!
Abreviando, este Manifesto começa por um preâmbulo onde, de um modo compungido, vêm dizer que “não querem ver repetidos estes três anos de excepção e restrições…que em 2011 este País onde trabalhamos e educamos os nossos filhos entrou em colapso financeiro, sem condições de honrar os seus compromissos…tendo perdido o crédito e o bom nome…e foi obrigado a pedir a ajuda externa para evitar a bancarrota e que, portanto, como assumimos o seu cumprimento temos o direito de dizer “ NUNCA MAIS”.
Depois, enumera as decisões que foram sendo tomadas e que concorreram para a gravíssima situação que o País apresentava. A saber:
– As Fundações que apareciam a cada 12 dias…
– As dívidas no sector da Saúde…
– O aumento dos desempregados…
– Os milhões de financiamentos a empresas inviáveis e falidas, que serviam unicamente para camuflar o desemprego…
– A subida dos juros da dívida…
– Os buracos nas contas públicas portuguesas descobertos pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu, consequência de anos de finanças públicas descontroladas e opacas…
– O défice de 10% em 2010 quando se percebeu a dimensão dos “ buracos” e fenómenos de desorçamentação…
– O s sucessivos PEC´s que não resolviam nada…
– As obras públicas de fachada em parcerias público- privadas com prazos de pagamento a 40 anos…
Eu devo, em comentário, afirmar que é difícil ser tão competente na análise!!! Valha-me Deus…
Mas acrescentam que “ A austeridade da emergência financeira não foi uma escolha mas uma imposição… e que todos os portugueses, cidadãos, trabalhadores, empresários e funcionários públicos fizeram um grande esforço para equilibrar as contas públicas e para melhorar q nossa economia e que nós ( eles ) num ambiente desfavorável responderam e porque responderam têm o direito a dizer “ NUNCA MAIS”…
Entram depois no delírio absoluto. Leiam por favor : “ Mas, com o esforço de todos, os indicadores mudaram para melhor, aumentou-se a poupança, criaram-se empresas em ritmo extraordinário, Portugal deixou de viver a acumular dívida externa e pública. O Estado, que ainda gasta de mais (concedem) passou a gastar menos e o défice que estava em 10% passou agora para 4,9%. Retomamos o crescimento económico e a criação de emprego, recuperamos a confiança e a credibilidade desbaratadas dos nossos parceiros e das agências de “Rating” e esta recuperação de Portugal merece o aplauso e a admiração. E como fechamos ( os subscritores, só pode ser) o programa de assistência financeira dos últimos três anos, temos o direito a exigir : NUNCA MAIS! E como não queremos voltar atrás, temos o direito de afirmar:
– Nunca mais à humilhação da bancarrota, ao descalabro financeiro, à recessão económica, à pobreza a pôr em risco o futuro das novas gerações…
– Nunca mais ao défice encapotado, a dívidas insustentáveis e a parceria público-privadas…
– Nunca mais a uma sociedade a desenvolver-se na total dependência do estado, subalterna da burocracia e dos negócios de favor…
– Nunca mais um País vivendo com riqueza que não produz e com investimento que não precisa..
– Nunca mais um colapso como o que vivemos em 2011 que constituiu uma ameaça para a solidez do nosso estado social…
– Nunca mais a Troika…Não queremos voltar atrás… NUNCA MAIS “. Fecho citação.
1º Subscritor : António Nogueira Leite. Que fofo…
Enfim, fui um pouco extenso nesta citação mas, reitero, nunca vi tanta demagogia e descaramento! Nunca!
Aqui está, na mais despudorada e desavergonhada demagogia, um programa laudatório e celestial da desresponsabilização passada, de todo o passado, assentando todas as culpas no último. E eles, esforçados guerreiros, com o total empenho e apoio patriótico do Povo Português, salvaram o País da derrocada. E mais : puseram o País no trilho certo. Este País que, fruto da memorável acção deste governo, em que agora vivemos, pujante e credível, com voz firme nos areópagos internacionais, verdadeiro impulsionador de mudanças e bons ventos, como a descida das taxas de juro nos mercados internacionais, disponível para novas dívidas, estas saudáveis porque impedem que dívidas futuras emperrem, este País do crescimento económico acelerado, com subidas do PIB inimagináveis, com o desemprego a cair de forma consolidada, um País onde se prometem reposições de salários e pensões…menos o salário mínimo! Também já era demais, não?
Os ´ últimos” é que foram os culpados. Não fosse esse terrível Sócrates não seriamos obrigados a “ pedir “ tanto esforço as Portugueses…
Este delírio de total abstracção da realidade, com certeza fruto desta maré pré-eleitoral e da real impunidade com que esta gente profere os maiores disparates, é demonstrativo do completo alheamento do que à sua volta se passa e do total falhanço do programa que nestes três anos foi implementado e só pode provocar sorrisos de pena e comiseração. Mas esta gente não tem vergonha : fala da situação a que chegamos, de um modo tão ligeiro e anedótico que causa até admiração. Fala da situação a que chegamos, de um modo controverso aliás, mas nunca das causas, nem muito menos das suas responsabilidades, pois essas são e teriam que ser sempre dos últimos. Mas recordemos algumas coisas :
1º- A Direita esteve no poder de 1980 a 1983. Que sucedeu então, em 1983? Portugal teve uma intervenção violenta do FMI. Foi chamada por Mário Soares com Hernâni Lopes como Ministro das Finanças. Lembram-se?
2º- Depois veio a entrada na União Europeia e veio…CAVACO! E vieram os Fundos Europeus, fundos sem fim… E foram dez anos gloriosos. Um “ regabofe “. Trocamos a agricultura por tractores com ar condicionado estacionadas nos armazéns e Mercedes nas garagens. Trocamos a nossa frota pesqueira por um prato de lentilhas e um IP 5. E vieram muitos GEEPS. Foram gloriosos anos. Ficou tudo rico e todos ganhavam dinheiro na Bolsa até que, num dia de Outubro de 1988, depois de terem deixado a Bolsa numa espiral especulativa sem memória, Cavaco veio à TV afirmar que se estava a vender “ gato por lebre” e, de imediato, deu-se a maior transferência de que há memória das poupanças de milhões de pequenos investidores para as mãos de meia dúzia. Fez-se “ justiça histórica” : quem os mandava ser “gulosos”? E as verbas do Fundo Social Europeu para a Formação Profissional? Para onde foram, exceptuando pequenos casos que se conhecem? É melhor nem falar…
Foi a chamada década perdida. A direita diz que foi o melhor PM de sempre. Pudera! Como se tão tivéssemos memória! E, como temos memória, também sabemos como se criou o “ Monstro” e quem o criou. E como começou a ignomínia e a prepotência. O amiguismo e o aparelhismo. O assalto ao Estado e às Empresas Públicas. Como se formou o BPN e onde começaram as obras faraónicas. E os “ Cavaquistões “ onde tudo era permitido. Onde as Obras Públicas custavam sempre o dobro do orçamentado, numa cadeia de facilidades que cheirava a libertinagem. Onde as Câmaras se endividavam alegremente e onde funcionava o compadrio e a podridão. Onde a Saúde estava a saque e era todos os anos preciso um orçamento rectificativo. Onde imperava a indústria farmacêutica que, pelas dívidas acumuladas, chantageava. Todos ganhavam dinheiro, muito dinheiro. A todos os níveis. Foi o tempo em que os Professores ( a minha mulher também ) e outros Funcionários Públicos tiveram, num ano, um aumento de 28%. E o direito à reforma aos 52 anos! Tempos gloriosos, de poder e abundância. Tempos de Fundos e Subsídios a fundo perdido. Foram os anos da “ compra de anos” para a reforma da segurança social, dos subsídios eternos as deputados e políticos, da deambulação de gestores de uma empresa pública para outra, recebendo na saída chorudas indemnizações que, por legislação própria e em causa própria, se repetiam…sem terem nunca qualquer responsabilidade pelas gestões. Onde todos os ministros e políticos afectos passavam ou pelo Banco de Portugal, ou pela Caixa geral de Depósitos… numa roda viva e acumulando pensões.
Pensam que não temos memória!… E não coram de vergonha?
E que é feito e onde está toda essa gente, os grandes governantes do tempo desse “ enorme” primeiro- ministro? Onde estão e como estão? Quem são os poderosos afinal? Quem dirige os grandes gabinetes de Advogados dessas consultadorias de milhões? E os do BPN? E o Sr, António Nogueira Leite, por onde andou estes anos todos?…NUNCA MAIS, claro que NUNCA MAIS!
Por isso este “ NUNCA MAIS” é um manual de sobrevivência e de esquecimento. Um manual de limpeza histórica. De quem esqueceu a origem e só ,e deturpadamente ,recorda o presente. Ou melhor : o anterior!
Quanto a este tudo bem. Tudo certo. Culpar quem teve culpa : os que viveram a cima das suas possibilidades. Ter casa própria? O governo não faz habitação social? Onde já se viu? Ter carro próprio, com dinheiro do Banco? Fazer viagens? Fazer viagens, vejam só. Ter computador, LCD, telemóveis como os nossos… e com dinheiro emprestado? Claro que merecem castigo. E merecem castigo porque ousaram querer coisas a que só nós temos direito. Um direito adquirido ao longo de gerações. Democracia…coitados!
E agora mesmo vejam como estão os nossos Banqueiros, essa classe nomeada por Deus, injustamente passando um mau bocado. E porquê? Porque tentaram ajudar as pessoas, as empresas e o Estado. Eles que financiaram altruisticamente as empresas públicas, as auto estradas, as parcerias público privadas, os submarinos e até as casas das pessoas e os carros em que andam nessas auto estradas, como estão agora? Até dá pena. Prejuízos, só prejuízos. Vejam que até têm que recolocar nos Bancos todo o dinheiro oriundo dos prémios que bem mereceram para repor o capital social. E porquê? Porque as pessoas deixaram de pagar as casas, as empresas foram à falência e as empresas públicas nem os juros pagam… e tiveram que se endividar. E vender coisas… Uma injustiça. Claro que o Estado os tem que recompensar… e os criminosos que deixaram de pagar têm que entregar as casas e os carros. E têm que ser castigados! Os Bancos têm que emprestar dinheiro mas eles…quem os mandou pedir? Irresponsáveis, têm o que merecem.
Mas as coisas vão voltar a ser como sempre foram….nem que “NUNCA MAIS”.