QUALQUER DIA, QUALQUER DIA…

No Inverno bato o queixo, sem mantas na manhã fria..

…Qualquer dia, qualquer dia…

…No Inverno aperto o cinto, enquanto o vento assobia…

…No Inverno penso muito, oh. que coisas que eu já via…

…No Inverno ganhei ódio, e juro que o não queria…

…Qualquer dia, qualquer dia….

A grande maioria de nós há muito conhece este poema e esta música. A música é o Zeca Afonso mas o poema não é dele, mas que ele em boa hora, e muito excepcionalmente, o adoptou. Transcrevo-o porque ontem, nas minhas deambulações pela casa, subindo e descendo incessantemente escadas sem nem por isso emagrecer, vou ter à cozinha e tendo a TV sintonizada na TVI 24 ( que cada vez mais sigo em detrimento da SIC Notícias.. e posso explicar porquê!) deparo-me com o fim de uma conversa de Mário Figueiredo com João Afonso, Lena Afonso e Francisco Fanhais ( Padre Fanhais, como eu gosto mais de dizer) acerca do Zeca e a interpretação, à capela, pelo Padre Fanhais deste tema: Qualquer Dia, Qualquer Dia..

E porquê? Simplesmente porque “Qualquer Dia” a gente esgota, ” Qualquer Dia” a gente cansa, ” Qualquer Dia” a gente perde o medo, ” Qualquer Dia” a gente desassossega e ” Qualquer Dia” a gente salta-nos a tampa… e não o queríamos!

É isso mesmo. Era isso mesmo que o Zeca pensava quando adoptou este poema, cujo autor desconheço. O Zeca pressentia tudo, sabia tudo, antevia tudo, perscrutava tudo… e era por isso que ele era o nosso farol, o nosso guia, a estrela que nos guiava, o nosso mentor…que nos indicava o caminho e que, denunciando, nunca deixou de afirmar que havia alternativa, que há sempre alternativa.

E que não podíamos, que nunca podíamos deixar-nos cair no conformismo. E mais dizia que : “ quando encontramos “alibis” para o nosso conformismo…então está tudo ” lichado“!”Dizia o Zeca!

Mas vocês perguntarão, expectáveis por uma explicação, o porquê deste preâmbulo… E perguntam bem porque os meus queridos amigos e paciente leitores devem estar deveras admirados da razão pela qual eu ainda não falei aqui da questão que domina toda a ” Media” e todas as acaloradas, apavoradas e resignadas conversas : o BES! Mas é muito simples.Então não há noticiário que não comece pelo BES, pela PT, pelo Salgado, pelo Granadeiro, por essa ” corja” toda de malfeitores que nos governam e eu não falo disto?

Pois é! Por duas razões principais:  Uma porque já falei muito antes, e falei escrevendo, e falei o suficiente para perceber que, mais coisa menos coisa, isto ia acabar assim.l E, como eu sempre digo, não há melhor memória que a escrita e publicada. Porquê falar novamente? Em segundo lugar porque tudo isto cheira mal, cheira tão mal, e tem um cheiro tão fétido, tão horrível que não canso de pensar como há gente que ainda o aguenta!

Os comentadores económicos, essa classe suprassuma , por exemplo, eles que sempre admiraram, elogiaram e glorificaram este ” Sistema” por que sempre dizem que não há alternativa, mas sabiam bem o que era, sabiam bem das suas fraquezas e das suas infindáveis incoerências, mas que sempre, como disse, sequer pensaram haver alguma alternativa, estão hoje apalermados, resignados à sua tremenda ignorância e não lhes surge mais nada do que…clamar justiça! Mas para estes, só para estes, a face visível e impura do ” Sistema”, estes que o subverteram… mas os outros, todos os outros, os que o dominam…esses, esses são puros anjos…são a solidez do ” Sistema”, um ” Sistema” fora do qual não aprenderam a viver e sem o qual não sobrevivem. Ratazanas, pobres ratazanas de esgoto, amanuenses de merda, que julgando-se conhecedores…não sabem nada! Não percebem nada!

São como todos aqueles que embrenhados na sua fé julgam todos os seus sérios, inexpugnáveis e puros, e não admitem falhas na pureza da sua doutrina. Inocentes., Inocentes? Uma ova! Merda é o que eles são! Merda, com todas as letras do nosso alfabeto e com acordo ou sem acordo ortográfico : MERDAS!

E por isso o ZECA, já nessa altura, adoptou este Poema: Qualquer Dia, Qualquer Dia…

Mas nós vamos remoendo, nós vamos pensando, nós vamos suportando, nós vamos fazendo força para não perder a paciência, nós vamos apertando, às vezes apelando, em momentos de fraqueza acreditando, mas vamos exasperando, vamos ganhando ódio., um ódio profundo e irresistível  e no fim…no fim pode ser que nos salte a tampa...e juro que não o queríamos!

 

 

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