O RICOCHETE ( das balas do Seguro)

O Seguro tinha três balas. De reserva e muito bem guardadas. Ele sabia que, mesmo dizendo-se forte e inexpugnável nos seus princípios, tinha fraquezas, humanas fraquezas. Ele sabia e guardou as balas.

Ele, metódico e determinado sonhou em grande : sonhou ter o poder, primeiro no Partido e depois na Nação. E fez o seu caminho. Feito em pés de lã, em urdiduras que ninguém pressentiu. Qual formiga ele foi andando, carregando, alicerçando e seduzindo mas…tudo na sombra. E esperou, pacientemente esperou, sentado numa sexta fila do Parlamento, durante anos, mas sempre aliciando correlegionários que já adivinhavam o extertor do Socratismo a juntarem-se a ele e esperarem o dia e o momento certos.

E esse momento apareceu. E ainda Sócrates moribundo se despedia dos seus já ele descia o elevador e se perfilava. Aqui estou eu e o Poder não vai cair na rua…E assim se fez chefe..

Muita gente já desconfiava do seu silêncio, já vinha suspeitando. Ele, conscientemente, nunca havia apoiado Sócrates. Mas ele já tinha os seus. Já lhes tinha prometido cargos, lugares e futuro radioso. E, naquele momento, foi fácil : todos estavam órfãos.

Ontem Costa lançou-lhe ontem a frase certa: “Tu deves estar desde pequeno a sonhar com esse cargo! Mas, para mim, os cargos são uma missão…”.

E aqui começa e acaba o grande confronto de mentalidades, de posturas, de saber estar, de preparação para o Poder e não olhando para ele como um desiderato onde se esgota uma vivência, um desejo a todo o custo. Mas sim olhar para o Dever como uma consequência, um acto natural para o qual ou estamos preparados ou não. Ou temos perfil ou não.

E é aqui que Seguro não entende, não percebe e certamente jamais perceberá. Que, para além da sua vontade e do seu querer muito, existe um Povo que escolhe e que normalmente sabe o que escolhe. E sabe, logo em primeiro lugar, o que não quer. E não entende também Seguro as evidências, os resultados eleitorais e as sondagens.

E não compreendeu a entrada em cena de Costa. E não compreendeu porque, no seu mundo, ele seria naturalmente o próximo. Perder? Isso não era importante, o importante é que fosse ele! E, como aqui escrevi no ano passado, ele até nem teria que fazer nada pois eles cairiam de maduros.. ledo engano…

Ele nunca percebeu que o problema era ele, que culpa da inevitável manutenção da direita do Poder era dele e nunca aceitou as evidências : ele era o problema!

Mas quando finalmente o descobriu, quando Costa apareceu e disse ” alto e pára o baile”, ele acordou! E deu um passo em frente . Congresso? Nem pensar! E quis ganhar tempo, para reorganizar, para pensar, para preparar ( ele que já tão preparado estava!)…e lembrou-se então que tinha guardado três balas. Cada uma com seu nome : A Traição ( do Isso não se faz António…), a Corrupção ( dos poderes fátuos) e a Eleição ( da redução dos Deputados…)..

E utilizou as balas. Mas pensando dar tiros certeiros, não treinou e correu mal : as balas fizeram ricochete e acertaram-lhe em cheio. Uma na testa, outra no peito e a outra nos pés! E ficou sem poder pensar, sem poder respirar e sem poder andar…

E ouviu de Costa coisas ” bonitas”…

1- Tiveste três anos para afirmar a liderança e não saíste da cepa torta…

2- As sondagens dizem que numa próxima eleição o Coelho te ganhava…

3- Eu não me conformo em entregar de mão beijada o poder à Direita…

4- Só tu acreditas na narrativa que construíste…Vives num mundo irreal…

5- Já concorreste alguma vez a uma eleição? Já foste a votos?

6- Com essa Lei Eleitoral que propões como fica o Interior? Diminui a representação!

7- Quem quer ganhar na secretaria só tem maus hábitos…

8- Não é “absurdo” é Matemática! Deixaste o campo livre para a Direita fazer o que apeteceu…

9- Se tivesses tido, num único mês, com o Governo a agressividade que tiveste comigo, o Governo teria caído…

10- Que fizeste na vida para combater a corrupção?

11- Quem recorre ao insulto e ao populismo jamais terá condições para presidir ao PS…

12- Não te enerves…não te enerves…não te enerves…

13- Não recebes lições de moral vindas de mim? Mas fazia-te falta…fazia-te falta...

E assim se consumou o Ricochete…

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