O BRASIL, a DILMA e a BOLSA FAMÍLIA.

Independentemente dos resultados das eleições Brasileiras e da da aproximação de dois blocos que mostram, sem dúvida, uma separação inequívoca de duas realidades, mesmo que dentro delas haja franjas mais eloquentes e politizadas que divergem desse dique, o que me interessa aqui é interpretar e tentar encontrar as razões para este suposto enquartelamento desta sociedade multifacetada, enorme e diversa.

Aparentemente o que estes resultados dizem é que existe um Norte pobre que vota Dilma e um Sul mais rico e próspero que vota em Aécio e mais conservador e à direita.

E aqui, tal como as divisões entre o Norte e o Sul na Europa, entre o Interior e o Litoral em Portugal, entre as cidades e o campo, entre os mais ricos e os mais pobres em determinado território e realidade, o que ressalta é, mais uma vez, a linha fátua entre aquilo que é o individualismo, o interesse de classe e a preservação de interesses e privilégios de sectores mais favorecidos em relação a outros que, habitando o mesmo território pátrio, em relação a outros compatriotas que não tiveram a sorte de nascer e viverem igual lugar.

E o sentimento de união pátria, neste caso concreto, exige que os seus dirigentes, cientes que qualquer cidadão é credor do seu País das condições mínimas de sobrevivência na adversidade, olhem para esses mais desfavorecidos e lhes concedam o mínimo exigido para alguma dignidade na sua existência.

A Bolsa Família no Brasil, como o Rendimento Mínimo em Portugal, são a expressão justa dessa exigência é não é impunemente que foi implementada em ambos os casos por dois Estadistas da escola Humanista e de Esquerda como Lula da Silva e António Guterres.

Sendo políticas e iniciativas tomadas que levaram milhares ou milhões de famílias ao acesso à cesta básica da sobrevivência e ao consequente estímulo da economia, pelo seu acesso ao consumo e a alguma normalidade da vida, causa- me perplexidade e até repulsa que sejam tão odiadas pela Direita conservadora e retrógrada, que pensa que esses valores lhes são subtraídos, aos seus impostos subtraídos, em favor de uma cambada de vagabundos que nada produzem…como se os mais elementares direitos à vida e subsistência de uma considerável parte dos seus cidadãos não fosse obrigação intrínseca de qualquer governante.

Mas isto coloca- nos questões mais complexas e que, no fundo, tendem a definir exactamente o que somos enquanto Homens, enquanto seres pensantes e sensíveis, educados e com valores e aquilo que , na realidade, revelamos perante estas questões concretas. E aí vem ao de cima o nosso individualismo, o nosso egoísmo e o nosso medo. Tomamos consciência de, tendo a sorte de ter nascido em meio benévolo é suficiente, teremos é que sustentar essa posição que herdamos e abstrairmos de todos aqueles que nos possam de alguma maneira ocupar o lugar e dividir aquilo que nos foi doado: a tranquilidade, o sucesso subsequente e a posição adquirida.

E isto leva a fenómenos de crueldade e inanidade que eu, na minha simples ingenuidade, pensava serem impossíveis: que um País seja transformado num País murado, entre o Norte pobre e o Sul rico e que a complementaridade, a solidariedade e o sentimento de unidade pátrios sejam postos em segundo plano e sejam ultrapassados por interesses de classe, de posição, de egoísmo e de estabilidade.

Isto a mim separa-me dessa gente de modo radical porque, mesmo não professando activamente a Igreja Católica, não posso de algum modo conceber que se possa ser contra a atribuição de um rendimento básico de subsistência enquanto ser humano a um semelhante que não teve a nossa sorte. Não concebo tanto egoísmo e insensibilidade.

E não me importa nada que haja algumas incongruências e aproveitamentos. Nada! Isso serão sempre reminiscências e “ peunits” perante a fuga ao fisco, as benesses e a amoralidade que perpassa pela classe que tanto os crítica. Não concebo!

Para mim trata-se apenas de dignidade, de respeito pelo semelhante, de respeito pela sua má sorte, de respeito pela injustiça e do remédio mínimo para que fiquemos de alma lavada. Tão só! E nem isto esta gente concede? Que raio de gente é esta? Que moral aprenderam nas aulas de catequese? Que ética aprenderam na vida? Que homens ou mulheres são?

Como é possível saberem que no interior e norte do Brasil haja detentores de milhões e milhões de hectares de terra e haja milhões de pessoas sem qualquer palmo de terra e, na sua opulência e insensibilidade imoral, não cedam um metro que seja dessa terra que lhes sobra para poderem ao menos subsistir! Como é possível? Como é possível, ao mesmo tempo, explorarem toda essa gente pobre quando lhes poderiam dar alguma parceria e dignidade? Que gente é essa? É essa gente que a direita conservadora e canhestra defende? São estes valores? É, por fim, por isso que estão contra a Bolsa Família?

Quem conhece um pouco da história recente do Brasil sabe que só com Lula da Silva houve algum renascimento nesta ideia de abrangência pátria: que todos têm direito a caber nesse grande País, que todos têm direito a um cabaz mínimo de subsistência enquanto homens dignos e humanos, que todos têm o direito a fruir das riquezas e oportunidades deste País e que todos têm direito a ser Brasileiros. Lula tirou milhões de Brasileiros da pobreza. Conseguiu que milhões desses mesmos acedessem à classe média. Impõs os Brasil no Mundo. Dignificou o Brasil. Dilma continuou. Apanhou a crise universal, foi confrontada com uma corrupção endémica e tomou medidas. Até ministros demitiu! Há corrupção no PT? Há e é endémica e, infelizmente, no Brasil, ela não é só privilégio da Direita que sempre viveu nela. Mas resta um olhar diferente e resta uma esperança para milhões e milhões de pobres Brasileiros que com os outros nem existir merecem…porque são vagabundos, são pobres, são imundos, são asquerosos…são gente que não devia existir…

Mas, porra! Votaram Dilma. Disseram que, afinal, existiam! E eles não gostaram…

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