A COMISSÃO DE INQUÉRITO

O homem pode até já não mandar nada nisto mas mantém a sua pose de altivez. E diz que, ao contrário do leopardo do ditado chinês, não vai deixar a sua pele como troféu de caça. Vai lutar para lavar a sua honra e a da Família. Mas eu não sei se é a da Família toda ou da sua mais próxima pois, pelo que se viu, a do Ricciardi parece que não.

Mas, na verdade, e pelo que nos foi dado ouvir, parece que, e apesar de tudo, ele respeitou a Comissão, ele e os que o seguiram, ao contrário do que fez o outro, o do BPN. Mas esse outro não era Banqueiro, não tinha “ pedigree” e era um projecto deslumbrado de uma profissão que requer muita experiência, muita dignidade, muita sabedoria, muito “ savoir faire” e muito peso institucional e corporativo, que o outro não tinha, pese embora alguma reputação adquirida pela protecção “ divina” que lhe advinha de alguém que já havia nascido duas vezes, Cavaco, Cavaco que, valha a verdade, não lhe chegou a mão no momento difícil, como mandam as sagradas leis da Santa Madre Igreja que ele diz professar, ele mais a sua Maria e, por isso, mais cedo ou mais tarde terá que pagar, nem que seja isolado com os seus fantasmas num convento qualquer. De preferência com o dito a seu lado.

Esse outro que ia para a Comissão comer sandocas e só falava quando lhe dava na real “ gana”, gozando os “ Comissionistas” a ponto de os fazer exasperar e quase perder o tino! Mas estes não! Era “Sr. Deputado para aqui, Sr. Deputado para acolá”, “ Faça o favor de desculpar”, “ Como disse?”, “ O Sr. Deputado está bem preparado, dou-lhe os meus parabéns”. Só salamaleques!

E os “ Comissionistas” impressionados com tão impressionante figura, olhando cabisbaixos para a forma delicada e impressiva como ele tirava e voltava a colocar os óculos, para a profundidade do seu olhar, de leopardo sem dúvida, para a sua postura e linguagem pousada, sentiam-se incomodados e amedrontados. E alguns perguntavam-se: estarei eu na sua lista?

Eles tanto estudaram o processo, tanto leram, tanto compilaram, tantas perguntas prepararam, perguntas mortíferas e decisivas lhes passaram pela cabeça, tantas ideias e projectos teceram para o tramar, e também para justificar ali a sua presença, que aspiravam a gloriosas e dignas dos anais da Assembleia e suas Comissões, tanto, tanto que…se abespinharam e pareciam aqueles doces recém nascidos “ labradores” procurando afanosamente o leite materno. Que desilusão!

Mas a cada um a sua parte. Todos sonharam com deste bendito dia: O da voz profunda e professoral tece considerações, rodeia, anda à volta, serpentina querendo mostrar a sua sapiência e dotes oratórios, quer impressionar o cujo e faz tantas perguntas numa só, tanta embrulhada considerativa que, no fim, sendo questionado, o tal Ricardo apenas lhe pergunta: “ Mas qual é a sua pergunta, afinal?”. E diz : “ Ah. O Sr. é muito eloquente, os meus parabéns!”. Ele ficou garboso e emproado. Interrogou o Ex. DDT! Interrogou? Mas fez a sua parte.

Outro, ladino tribuno, é só estilo. A maneira como a cadeira se lhe assenta, a maneira como toca no micro enquanto fala, a maneira como desliga o micro quando de falar acaba, aquele toque preciso e seguro que impressiona e define a sua postura, tipo “ esta já está”, e baixa de imediato o mesmo para que não sussurre. Define a sua segurança. Mas…que perguntou?

E, depois, aquela menina, aqui tão docinha e noutros territórios tão lobo, de voz mansinha, delicada….pergunta : “ Sr. Dr. ; Pode, por favor, confirmar-me esta data?”. Coitadinha, também perante um “ galifão” daqueles! Valha-me Deus… Que desilusão!

É uma pequena amostra do que vale esta Comissão de Inquérito. Da sua ousadia frustrada de travestir de Tribunal um lugar daqueles. Para quê? Para encontrar, para chegar à Verdade? Mas que Verdade? Que desilusão! Tanta, tanta…que me dá “comichão”..

E o resultado vai ser? Zero a zero! Como sempre. Porquê? Por causa de um fenómeno, um fenómeno muito utilizado e em voga, em múltiplos aspectos da vida, presente, sempre oportuno e sempre eficaz: A LATERALIZAÇÃO!

É assim como no Futebol. Temos aqueles defesas laterais que dão um, dois passos em frente e depois passam a bola para trás, para o defesa central que, em não passando para o guarda redes para este lha devolver, lha devolve ou passa para o outro defesa central que, de imediato lha passa novamente até que, finalmente, este a passa para o médio, o médio dito defensivo, que a passa para o seu colega um pouco mais à frente, o médio ofensivo, que dá dois passos em frente e a passa para o extremo recuado, que dá uma voltinha com a bola e a passa para o avançado. Porra, chegou lá à frente! O Avançado até que podia rematar mas…não assume a responsabilidade. Passa para o lado, deste passa para trás e este, quando ia passar a bola, perde-a! Ninguém assumiu a responsabilidade de arriscar. Ninguém quer ser acusado de falhar. São uns “ empatas”, como por aqui se diz. Uns empata “bobos”, que não fazem nem saem de cima…

É isto a “Leteralização” : a passagem da responsabilidade para o outro, sempre para o outro, num enredo sem fim, num novelo intrincado e um amaranhado onde todos são culpados mas nenhum se assume, onde todos acusam todos mas todos são inocentes, porque não sabiam, não estavam lá, só recentemente tomaram conta do cargo, que o Chefe é que mandava em tudo, nós só estávamos calados e ouviamos e o chefe diz que são todos solidários porque até assinavam as Actas. Esse sou eu? Então estive presente. Mas não deliberei, ele é que resolveu tudo…Assim, lateralizando, sempre, sempre…

Resta a dialéctica, a feira das vaidades e os seus protagonistas. E eles, os supostos réus, calmos e pousados, falando de cátedra  e querendo dizer, no fundo : que é que estes “pirralhos” percebem disto? E vão respondendo, o que querem e só o que querem, com alguma bonomia, até, muitas vezes. E à frente deles aqueles seres procurando a Verdade. E vão procurar, procurar, vão ouvir, ouvir, perguntar, perguntar, falar, falar…tanto, tanto, tanto que a Verdade… a verdade é que a  Verdade há muito se foi, para longe, para muito longe…

Mas o tempo que demoraram a perceber!

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