NOTA PRÉVIA: Como o próprio título indica, este tema será dividido em duas partes : o antes e o depois. É a visão de um crente mal resolvido, cheio de dúvidas mas carregado de esperanças e que tem uma quase obrigação genética de este dilema solucionar. E que, de certo modo, me atormenta, pois vejo as pessoas que mais gosto, nomeadamente a minha irmã, o meu cunhado e a minha sobrinha, integrados e activos numa militância que me faz corar de vergonha por não saber como actuar ou lutar! E sinto que o meu comodismo nada resolve. O que resolve é a acção! Mas também quero fazer constar que, com este PAPA, a minha imagem e a minha posição perante a Igreja Católica tem mudado. Basta? Não sei, mas tendo a admitir que, daqui para diante, o problema será meu e só meu!
O ANTES.
Tal como algures li, também eu não imaginava há cerca de dois anos atrás vir a gostar tanto de um PAPA!
Eu que nasci no berço de uma Família profundamente Católica e andei até cinco anos num Seminário, fui-me afastando progressivamente da Igreja por causa da sua opacidade, do seu reaccionarismo, do seu conservadorismo atávico, do seu distanciamento e desfasamento em relação à realidade, das suas cumplicidades, algumas criminosas mesmo, apenas em nome de um Poder terráqueo completamente oposto ao seu fundamento teológico e do comportamento da sua Cúria. Uma Cúria completamente presa e asfixiada a esses Poderes mundanos e vivendo em opulência insana que, baseada em mitos retrógrados, impunha aos seus fiéis o temor a um Deus justiceiro e implacável que puniria severamente quem ousasse desafiar a sua ordem.
Mais me distanciei ainda dessa mesma Igreja aquando do surgimento da TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO que, promovida por Padres e Bispos progressistas ligados às comunidades mais pobres e carenciadas principalmente da América Latina e África e imbuídos de um espírito libertador e de engajamento a um Cristo humano e redentor, foi severamente punida por essas mesmas hierarquias, desfasadas das realidades e das dificuldades dos seus seguidores. Os seus promotores foram perseguidos e destituídos por essas mesmas hierarquias, acusados de apoiar e fomentar revoltas e revoluções marxistas, quando aquilo que faziam era apenas, tendo como pano de fundo os Evangelhos e o exemplo de Cristo, lutar por mais justiça social nas suas comunidades e melhor e mais justa distribuição da riqueza. Também outros Padres como os Capelões que iam para a guerra para dar conforto espiritual aos combatentes foram punidos, como o Padre Mário da Lixa, por exemplo, por entenderem, muito naturalmente, que do outro lado, o do “ inimigo”, também existia gente filha de Deus que necessitava do mesmo auxílio! Igual se passava com os chamados “ Padres Operários” que exerciam a sua actividade em zonas pobres da grande Lisboa e de outras grandes cidades, por lutarem por condições de vida mais dignas nas colectividades operárias onde actuavam.
As hierarquias da Igreja, acomodadas e comprometidas, não gostavam e afirmavam, claro, que Deus não gostava também…! Era essa Igreja que imperava. Era em Portugal a Igreja do Cardeal Cerejeira, de mão dada com o ditador Salazar. E isso desgostava-me e incomodava-me e nessa Igreja eu não me revia.
E não me revia porque, felizmente, no Seminário onde andei, os Espiritanos, aprendi precisamente o contrário pois os seus Padres, Missionários, eram pessoas com vida, com mundo, com actividade pastoral exercida em lugares longínquos e recônditos da África e Américas, em meios pobres e desprotegidos, onde aprenderam a outra face da vida, onde viram e lidaram com a injustiça, com o abandono e com o nepotismo. E tiveram que tomar partido, em nome de um Deus humano e amigo. Não déspota! Eles ajudaram-me na minha formação e na minha tomada de posição. E ensinaram-me que na vida temos que definir o nosso rumo e escolher o nosso campo. Assim fiz!
Mas as coisas pouco mudaram. O mundo ia mudando mas a Igreja continuava fechada em si mesma e, entrincheirada nos seus dogmas e preconceitos, ia colaborando com ditadores e ditaduras, completamente alheia às transformações históricas que se iam realizando, a ponto de, em nome de um purismo teológico, ter eleito, muitos anos mais tarde, um Papa inenarrável, o Alemão que calçava Prada e vestia Armani. Foi claro para todos que aqui o “ Espírito Santo” cometeu um lapso, um lamentável lapso, que o mesmo Papa se encarregou de corrigir demitindo-se.
E chegou Jorge Mário Bergoglio, o PAPA FRANCISCO, um Papa oriundo da América Latina, um Homem com mundo, vivido, com fala e linguagem normais, com opiniões normais acerca da vida, do mundo, da política, da sociedade, de tudo, incluindo dos costumes e da sua evolução.
Logo eu e muitos como eu, distanciados e descrentes, vimos nele algo de diferente e eu concluí que, desta vez, o Espírito Santo tinha acertado em cheio! Não fiquei foi muito convencido que aqueles que por sopro do Espírito Santo o tinham eleito tivessem, depois, ficado tão convencidos.
Segue…