O DEPOIS.
Continuando…
O Papa Francisco foi falando, foi-se dando a conhecer, foi tomando posições desassombradas mas justas, foi-se chegando às pessoas e aos seus problemas e as pessoas começaram a respeitá-lo e a ver nele o seu porta voz e o líder consensual e verdadeiro de que precisavam. E, com ele, a sentirem-se chamados à sua Igreja mas, mais importante que isso, a respeitá-la. E a respeitar e dar ênfase às suas posições abertas, desarmantes e mobilizadoras.
O Papa Francisco começou logo por dar o exemplo do desprendimento, na forma de vestir e calçar, nas instalações onde pernoita e onde trabalha e vive, nos hábitos diários normais também e isso convocou, desde logo, um mais acentuado respeito por parte dos seus colaboradores, o que lhe possibilitou criar uma cintura de protecção que lhe permitiu abalançar-se às reformas mais críticas sem quaisquer receios ou limitações.
Ao mesmo tempo que reorganizava toda a mecânica do seu Estado ele foi chamando a pouco e pouco a sua Igreja ao mundo actual, ao mundo dos problemas actuais, aqueles problemas que o seu “ rebanho” vive e sofre e começou a partilhar as suas dúvidas e ansiedades. Mas começou a acusar também e a indicar os males, esses males que faziam com que as pessoas, como por exemplo eu, se distanciassem e não acreditassem na sua capacidade de regeneração. Os males do “Deus dinheiro” e do “ Deus poder”, em primeiro plano. E começou também a exorcizar os seus pecados, pecados próprios e terríveis, nomeadamente o da sua cumplicidade e encobrimento de práticas reiteradas de pedofilia, o que o levou, ao contrário dos seus antecessores, a demitir Cardeais e Bispos. E foi ganhando o meu respeito e o respeito do Mundo. E de governantes, desarmados e sem resposta. A Igreja de base foi ganhando ânimo, pois sentiu que tinha ganho um aliado, um aliado de peso : Francisco- o Papa!
Mas restava a Cúria. Dizia-se à “boca larga”, em pleno Vaticano, que havia um grande mal estar e descontentamento na Cúria pois o Papa estava a mexer em coisas perigosas, assuntos muito delicados, estava a tirar demasiados esqueletos de dentro dos armários, estava a deixar a nu muitas incongruências e estava a desafiar, muito ostensivamente, o seu poder : o poder dos Cardeais. Dos seus “ ghettos”, das suas “quintas”, das suas influências e das suas vaidades e privilégios. E analisando bem, diziam eles, trata-se apenas de pecados terrenos, pecados de todos nós. E não são eles os Ministros do seu Governo? E do Governo da Igreja, de uma Igreja que se quer universal? E estando eles em Roma não deverão ser Romanos?
Mas tudo isto cheirava a decadência, a fim de império, onde os “ valores” foram sendo secundarizados em favor do centralismo intriguista, da sede de influência e poder, da falta de autocrítica, do deslumbramento, da pequena vingança, da ambiguidade e da esquizofrenia. E a Igreja caminhava lentamente para o abismo com a sua total imunidade e impunidade.
O PAPA FRANCISCO, com uma coragem e uma lucidez inacreditáveis, veio lançar um balde água gelada sobre todas aquelas cabeças coroadas com aquele “ coágulo” vermelho de prurido já cristalizado. E, perante o seu olhar incrédulo, apontou-lhes todos os defeitos e todos os erros: Por pensarem serem imortais nos seus cargos o Papa convidou-os a visitar os cemitérios cheios de pessoas insubstituíveis; Que, ao invés de Homens de Deus, se tinham transformado em máquinas burocráticas; Rivalizando-se em vaidades e vãs glórias; Dizendo mal sem olhar olhos nos olhos, como fazem os velhacos; Que passam a vida a dar “ graxa”, um mal dos mesquinhos que, em vez de dar, só querem reconhecimento; Tudo fazendo para aparecer nas primeiras páginas num exibicionismo que só prejudica; De sofrerem de esquizofrenia intelectual e Alzheimer espiritual…
Tudo isto e mais lhes disse, daí eu perguntar-me: que consequências daqui poderão advir? Não sabemos ainda. Como reagirão, passados estes dias de festas e abstracção, todos aqueles seres? Não sabemos também. Mas que era preciso uma pedrada no charco, ai isso era! Que só este Homem a poderia lançar? Também! Haverá algum levantamento ou revolução ou haverá, isso sim, a visão de uma oportunidade única de renovação e futuro?
Na Igreja, tal como na vida mundana, tem que haver líderes, líderes capazes de serem respeitados e ouvidos. E depois seguidos. E a igreja tem um Líder: Corajoso, lúcido, alegre, acutilante e disposto à mudança. Creio que o Povo de Deus já o segue e está do seu lado e, em caso de necessidade, tomando o seu partido. Mas não só o Povo de Deus como todos os homens de boa vontade que, mesmo não pertencendo à Igreja, vislumbram nele capacidade de liderança para as coisas justas. E o Papa Francisco o que tem vindo a proclamar são traves mestras de qualquer boa governação, pela inclusão e não pela exclusão.
E é um Homem que, depois de dizer tudo o que tem para dizer, consegue ter sentido de humor, consegue exortar à amabilidade e apelar ao sorriso. E consegue rir.
Grande PAPA FRANCISCO: com Você a Igreja não será mais a mesma. Não será mais aquela Igreja anquilosada e triste que no “ Antes” descrevi. É nesta que que me revejo e é esta que me vai conquistando. A minha admiração e respeito por si são incondicionais.