Sinto-me GREGO!

Não no sentido de estar baralhado com a situação ( e nestes últimos tempos muitas coisas têm sucedido que nos fazem pensar quanto tudo é efémero ), mas por me sentir irmanado  em tudo aquilo que julgo ser um forte movimento de mudança e que, pelo menos a avaliar pelas sondagens, me tem feito sentir que os Gregos perderam o medo e estão dispostos a arriscar algo de novo, algo revolucionário e a romper o cerco imposto pelos ditadores desta democracia por eles balizada que, no fundo, diz : “ Podem mudar de políticos mas não podem mudar de políticas! Têm liberdade de escolha desde que escolham estes e só estes!”.

Sinto-me Grego e convoco toda uma História, desde os Mestres da Filosofia, do Saber, da Ética, do Teatro, do Direito…de tudo o que nos legaram, convoco toda uma História de lutas heróicas pela Liberdade, convoco na actualidade tudo aquilo em que na Grécia me revejo, convoco o grande Mikis Theodorakis e o seu Zorba, a Nana Mouskuri e o George Moustaki,  o seu Sirtaki, o seu Bousouki  e a sua sonoridade, as suas belas ilhas, a bela Santorini que conheci… enfim, no fundo a sua História milenar  e  no domingo vou ser SYRIZA e vou estar com ALEXIS TSIPRAS, a lutar contra o medo! E como dizia na TV uma cidadã Grega, querendo enfatizar o “ pra pior já basta assim…”, “ quando não conhecemos bem um prato temos que prova-lo!”. E os Gregos parecem dispostos a vencer o espartilho e eu sinto-me Grego e solidário com quem tem lutado e luta por esta mudança, porque ela pode ser um poderoso tiro neste porta aviões da prepotência e da arrogância de quem sentindo-se dono de tudo impôs e teima em impor programas de ajustamento tão violentos que levaram o Povo Grego à penúria e à desesperança. E ao sentimento de espezinhamento da sua dignidade.

A Grécia é, neste momento, um país falido e com uma dívida insustentável que atinge o valor estratosférico de cerca de 300 mil milhões de Euros. Mas começa a ser consensual, mesmo para os seus credores, essa mesma insustentabilidade, pelo que se torna cada vez mais forçoso e inevitável um entendimento com o futuro governo no sentido da reestruturação negociada dessa mesma dívida e no desacelerar dessa punição mórbida. E também aqui algo está a mudar e alguns mitos a cair pois tudo aquilo que antes era inaceitável e colocado fora de qualquer hipótese e de cogitação, como todos e os nossos governantes em particular vinham afirmando, passa a ser agora inevitável  e esta “ revolução” a cidadania Grega vem catapultando.

Mas haverá mais consequências? Haverá com certeza pois até o BCE se antecipou a mandar cá para fora a sua “ bazuca” financeira, anunciando tomada de dívida em grande escala, à semelhança do que já fizeram o Banco Central do Japão e a Reserva Americana,  no sentido de proteger o Euro e evitar a deflação, dizendo que isso poderá promover o crescimento e o emprego. Pois, mas o problema é mesmo a escala e a Portugal estarão reservados cerca de 2,5% desse “ QE” ( quantative easing, como lhe chamam ) e esse dinheiro  vai direitinho para os Bancos que, esses sim, vão levantar as costas e, mais uma vez, utilizá-lo a seu bel-prazer e em mais especulação, digo eu! E quem são os maiores beneficiados? Os dos países mais poderosos, como a Alemanha que, farisaicamente, dizem estar contra.

No entanto, dizem os “ mentideiros”, já tudo em segredo está a ser  negociado, pois o medo precipita as coisas e esta gente não brinca. É com  o SYRIZA? Pois então falemos com o SYRIZA!

Mas a Grécia já teve dois resgates e a Alemanha ameaça dizendo que a Grécia tem que cumprir exemplar, escrupulosa e integralmente as tais reformas ditadas por Bruxelas e Berlim, sob pena de ter que abandonar a Moeda Única e a Zona Euro. É uma chantagem destinada a meter medo aos Gregos acenando-lhes com represálias e o regresso do Dracma e do caos. Discurso que, lá como cá, encontra eco na Nova Democracia, o partido de direita agora no governo.

Dizem os jornais que a Nova Democracia está em pânico com a previsível derrota ( que bom…) pois, perdendo o poder, pode ver serem desenterrados muitos esqueletos dos armários e, lá como cá, diz que os “ esforços tremendos” feitos pelo País não podem ser comprometidos e que é preciso seguir no mesmo rumo, o de manter a credibilidade conquistada (!) o que, traduzindo, quer dizer, também lá como cá, “ o povo que continue a pagar para nós podermos continuar a usufruir dos nossos direitos ( direitos divinos) adquiridos etc. E também lá como cá falam de “ responsabilidade”, que “ não se pode deitar a perder o enorme esforço que todos fizeram”… Todos?

Ora, a que levou esse “ grande esforço”? A Economia encolheu 25% desde 2009, os Salários e Reformas caíram para metade, o Desemprego atingiu quase os 30% e o Jovem ronda os 60% e 25% da população deixou de ter acesso aos cuidados de Saúde. Alguma coisa melhorou? Mas a Alemanha, o BCE e o FMI defendem a continuação desta “ punição” pelos anos de “ desvario e despesismo irresponsável” das suas elites políticas. Das sua elites políticas, têm toda a razão. Não do Povo que é quem paga a factura. Quem falsificou as contas para que a Grécia pudesse entrar no Euro? Quem os inundou de submarinos ( 6 duma vez só ) e aviões de combate ( 56 de uma só vez) ? Quem foi? A Alemanha e a França e os seus Bancos que, depois, foram ressarcidos com os resgates e a penúria de todo um Povo. E quem financiou aquela aventura dos Jogos Olímpicos? Só não lhes venderam um TGV pois ali era difícil… Claro que tiveram cúmplices na Grécia. Desde logo aquela elite política que sempre rodou. Lá como cá, Direita Esquerda Moderada. Esquerda Moderada Direita, intervalados por alguns generais que ameaçando tomar o poder levam sempre uma grossa fatia. Que alguém depois pagará. Lá como cá!

Só que as dívidas também são responsabilidade de quem as concede. A mim, às vezes, e tal como os “ dealers” da droga, até me parece que de propósito, tendo em conta que, quando se exige o pagamento, o “ garrote” imposto torna a vida das pessoas e dos países insustentável e isso destina-se a retirar-lhes a sua soberania, exigindo-lhes tudo em troca. Primeiro pela Moeda, depois pelas Privatizações de tudo o que é lucrativo, depois pelo sonegamento dos seus Recursos  Naturais, pelo confisco dos seus Impostos e pelo empobrecimento, tornando esses Países totalmente dependentes e sem independência próprias.

É por tudo isso que me sinto Grego e, no domingo, vou torcer pelo TSIPRAS e pelo seu SYRIZA! Para ver se isto dá mesmo uma volta.

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