Eu sou um tipo de pessoa que, perante o que quer que aconteça, tenho o velho e já enraizado hábito ( bom, mau?) de imediatamente tomar posição e definir o meu campo. A independência é coisa que em mim não existe, tida ela como equidistância entre uma coisa e o seu contrário.
Na questão actual da geopolítica europeia e os reflexos que as eleições Gregas nela tiveram, tornaram-se evidentes a já prevista recusa dos governantes Portugueses em, por preguiça intelectual e por comprometimento, lobrigarem coisa alguma e a sua explicação com minudências sem qualquer valor substantivo, como bem provam as
afirmações do nosso Primeiro Ministro e os números de galhofa circense de uns seus apaniguados e, ainda, o estranho dilema do PS entre ser Syrisa ou ser Pasok, de não querer ser uma coisa nem outra, mas não saber posicionar-se. Quer ou gostaria de se afirmar Syrisa mas isso iria trazer-lhe fortes críticas dos seus aliados e mesmo internamente e não quer afirmar-se Pasok pois, neste momento, isso era suicidário. E é aí que eu não navego.
Eu, como disse, defino intuitiva e imediatamente a minha posição, o meu campo : sempre com tudo o que traz mudança, que mexe com as estagnadas águas, sempre contra quaisquer ideias pré concebidas, sempre contra o bolorento “ status quo”, sempre a favor da novidade, sempre mesmo, mas sempre que essa novidade não cai do céu mas é proveniente de um esforço consolidado de uma luta longa mas consequente e que agita as águas, como disse. E estou a ficar farto de políticos que fazem oposição unicamente detalhando o que o Governo faz de mal, fazendo sempre o diagnóstico já mais que incutido em todos nós, não apresentam quaisquer medidas alternativas e de ruptura e se limitam a dizer que vão promover o emprego, baixar a pobreza, baixar a dívida, subir o salário Mínimo e aumentar as Pensões, aumentar a produção e as exportações…mas sem nunca dizerem como. E não o dizem porque sabem que isso só é possível com rupturas e isso eles não têm coragem de fazer.
E aqui cabe um parênteses para avisar os meus caros amigos que eu sou um dos que acredito (ou acreditava) que António Costa poderia promover essa ruptura e até fui votar nas Primárias do PS precisamente para o eleger. O meu esforço eu tenho-o feito e fui até a um jantar convívio na Ponte da Barca ( terra a que me ligam muitas afinidades e onde o meu irmão é Presidente da Câmara eleito pelo PS) com o António Costa. E, com toda a minha “ lata”, fui à mesa onde ele estava, com os meu irmão, minha cunhada, deputados eleitos por Viana do Castelo e outros membros das estruturas do PS e disse-lhe isto : “ O Senhor não se limite a ouvir unicamente os que estão nesta mesa pois eles só falam de dentro e para dentro. Ouça outras pessoas, como eu, que tem que convencer e… “ cést pas facille” ( aí ele riu-se e concordou) pois vai ter que fazer muito melhor e muito diferente”. E segundo me contaram parece que não ficou muito satisfeito com o que ouviu! Mas, na verdade, ouvindo-o hoje mesmo na TV ouvi mais do mesmo. Críticas ao Governo, Ok tudo bem, mas nada mais…
Fechado o parênteses e continuando, pois como em tudo na vida, seja na Saúde ou na Medicina, seja no Trabalho ou nas Empresas, na Educação ou onde quer que seja, se a receita se mostra prejudicial e a medicação ineficaz, eu sou sempre a favor da experimentação de algo novo e alternativo que, apesar de muitos pensaram que não, até já foi testado, não sendo, por isso mesmo, uma novidade absoluta.
O Cristóvão Colombo, diz a História, resolveu com uma facilidade tremenda aquela impossibilidade do ovo, dada a sua ogival estrutura, se manter direito e sem tombar, e o “ Ovo de Colombo” ficou para os anais de tudo daquilo que parecendo impossível é, afinal, de fácil resolução. Como esta crise!
A questão é que para resolvê-la, com a facilidade com que Colombo resolveu aquele enigma, há um pressuposto fundamental que tem que ser colocado como prioridade primeira : A da colocação do HOMEM, da Pessoa Humana, da sua Vida, da sua Integridade e da sua Dignidade e Importância como objectivo único e inequívoco! Mas, infelizmente, como no caso do “ Ovo de Colombo”, parecendo fácil, é ao mesmo tempo muito difícil, porque se parte sempre do princípio que é uma miragem, que é uma impossibilidade, que não é viável e que nem vale a pena tentar. E que fazê-lo só demonstra “ criancice”… alguém disse!
Mas é aqui precisamente que os campos se definem e que a escolha é feita: entre quem coloca a Humanidade e o ser Humano em primeiro lugar, como origem e fiel depositário de , ou quem coloca o Poder, a Ganância, o “ Deus” Dinheiro e a sua pequena e temporal importância acima da Vida das pessoas. E é por isso que há fome no mundo, por isso há pobreza, por isso há conflitos e por isso há guerras, em suma.
Abdicar pessoalmente de algo em função do bem geral é a génese da generosidade e da solidariedade. Não o fazer é agir em função do nosso pequeno “ ego”, do nosso pequeno interesse pessoal e no de quem nos manda. É o oposto, é o egoísmo e nesse egoísmo está, neste momento, edificada a nossa civilização, a Ocidental neste caso.
Nestas águas temos navegado e estamos já saturados que nos digam da impossibilidade de mudar. Que é uma impossibilidade sair do “ espartilho” onde fomos colocados pois tentar sair traria prejuízos sempre maiores que os ganhos. Que não podemos usar a afronta porque, sendo perigoso e dúbio, isso só desafiaria a ira e a condenação de quem manda. E disto não saímos. Só que é certo e sabido, como diz o ditado popular, que “a quem sempre se abaixa sempre o rabo lhe aparece”. Sempre estará exposto, em posição sempre débil e sujeito a todos os mandos e desmandos, a todas as exigências, a todas as vontades e a todas as iniquidades. E a História sempre nos ensinou que, perante o egoísmo de quem manda e do poder que detém, só a rebelião resulta.
Ora essa “ rebelião” está, neste momento, em marcha de uma forma diferente : jogando o mesmo jogo! Não por revolução mas, sim, por Eleição! E isto é um avanço de uma força enorme, entusiasmante e inaudita, porque vem do Povo, vem do fundo da legitimidade que todos aceitam e vem da força erguida contra os medos, os ancestrais medos, como já aqui afirmei. Mas não se trata de um acto de desespero, muito embora seja advindo do desespero, pois tem origem no conhecimento de alternativas às realidades que nos impõem e julgam que não conhecemos. Mas sabemos! E como sabemos que é possível, exigimos que seja feito.
É o que o governo Grego tem feito. E afirmou uma coisa primeira e inequívoca : não voltaremos a negociar com quem só nos tem feito mal ( a Troika)! Mas muitos e muitos perguntam : vão ser capazes? É possível? Como vão fazer? Como vão pagar? Vão rasgar contratos? Vão afrontar as estruturas Europeias? Não, não vão. Vão, simplesmente, escolher o que aceitam e dizer o que não aceitam e como pode ser feito, sendo que aquilo que já provou ser malévolo está fora de questão e de qualquer acordo. E vão trilhar um caminho no pressuposto de que vão ter seguidores naqueles que são vítimas de semelhantes problemas e da ineficaz receita até agora aplicada, sabendo que se pode fazer diferente.
E pode! A “ bazuca” do Draggi prova, logo à nascença, que os meios existem. Só que, mais uma vez, todos esses meios são dirigidos aos Bancos que se vão ver livres das Dívidas Soberanas em que apostaram e não vão resolver o problema das Dívidas excessivas nem esse dinheiro vai chegar á economia. Ora melhor seria que fosse destinado à sua mutualização, proporcionando aos Países esse tal novo “ NEW DEAL” que promovesse o investimento e a criação de emprego.
E YANIS VAROUFAKIS, o nóvel Ministro das Finanças Grego e os seus amigos académicos Stuart Holland e James Galbraith estudaram uma séria e detalhada proposta, a titulada “ PROPOSTA MODESTA”, que servirá de mote para as suas negociações com os seus parceiros Europeus e que, não prevendo rasgar tratados nem assumindo quaisquer “ deffaults”, prevê sim uma alternativa à austeridade que vem sendo imposta por Bruxelas. E a sua proposta é a de que os Países com dívidas superiores a 60% do PIB ( o máximo previsto pelo Tratado de Maastricht ) ficariam com uma Dívida não superior a esse dígito ( 60%) e o restante seria convertido em o Obrigações do BCE sobre as quais esses Países pagariam juros aos preços do BCE. A Dívida exposta aos Mercados não ultrapassaria, portanto, os 60% do seu PIB e a Dívida restante, sustentada no Mecanismo de Estabilidade Europeu não contaria como exposição e isso libertaria meios para os tais investimentos conducentes á normalização e ao crescimento. O Sistema Bancário esse seria recapitalizado por esse Mecanismo Europeu de Estabilidade libertando, portanto, os Governos desse ónus. Isto é a síntese mas o princípio é que é possível, há meios e é preciso é conversar.
Então qual é o problema para a intoxicação de que temos sido alvo? Que será mais uma vez a Alemanha a pagar, outros Países também etc. etc…o problema, afinal, é que eles é que querem emprestar, dizendo que é dinheiro do seu Povo e virando, assim, o dito Povo poupador contra o chamado Povo gastador! Para , depois, lhes irem buscar os seus recursos e utilizá-los a seu bel prazer. Já aqui o disse e não vale a pena aprofundar. Claro que um mecanismo como este resolveria o problema dos Bancos e dos credores. O problema é que também diminuiria a sua prepotência, os seus lucros desmesurados.
A solução existe e, na Grécia, o Governo do SYRISA está a fazer História. Para mim foi o “ rastilho”, o “ detonador” que provocará a “ explosão” de mais exemplos. Talvez a começar por Espanha. Ontem centenas de milhares de pessoas juntaram-se ao “ PODEMOS” afirmando que SIM, que é Possível e que Podemos. Da Irlanda tem vindo solidariedade. E Portugal? Em Portugal desgraçadamente damos os primeiros passos mas temos um Partido Socialista que, esse sim, poderia dar um “ golpe de asa” e desfazer o nó em que se encontra enredado, dar um “ grito” de libertação da encruzilhada de compromissos em que se encontra mergulhado, mas não, não o faz. A isso ele chama “ ter responsabilidade”, como noutro texto aqui aludi. E isso vai sair-lhe caro. Ai vai, vai…
Um novo “ NEW DEAL” é possível e é necessário. É preciso é ter coragem para o montar. E mais uma vez eu digo : perante uma tomada de posição inequívoca e fundamentada a mobilização não seria miragem pois não havia quem não entendesse esse enorme sinal de mudança.
Como no Grécia : não é preciso rasgar acordos. É preciso é reescrevê-los para que seja possível cumpri-los. Para restituir a Dignidade ao Povo, só isso.