Mas nem o Rato pariu uma montanha ( de promessas ), nem a montanha pariu um rato. O que foi explanado acerca da visão macroeconómica do País pelos Economistas convidados por António Costa para o efeito surge coerente e diferenciador.
Para mim isso era o mais importante : mostrar que existem caminhos diferentes, não assentes na austeridade pura e dura, caminhos em que o seu simples abrandamento e o levantar do pesado jugo em que fatias significativas da população se encontram possa provocar um encadear de sinergias que conduzam, pela melhoria na distribuição dos rendimentos e inevitável melhoria da procura interna, ao crescimento económico imprescindível para o seu sucesso.
Crescimento económico que é a variável mais importante para colocar precisamente as pessoas em primeiro lugar, numa política pró-activa direccionada a elas e não contra elas.
Eu ainda não li nada sobre o apresentado nem ouvi qualquer comentário a não ser hoje de manhã na rádio uma apreciação insuspeita do outro António Costa, o do Diário Económico que, pesem embora as suas esperadas reticências, sempre disse ser este documento um enunciado de raiz prioritariamente política, porquanto apresenta uma alternativa ( concorda que é uma alternativa ) diferente da até agora seguida, mas que tem que ser provada, diz.
Ser provada! Não posso estar mais de acordo. E tanto mais estou de acordo quanto a outra, a até agora utilizada nestes últimos quatro anos nada provou a não ser empobrecimento, exclusão e sofrimento. Para além da indecente submissão a poderosos interesses que deles fizeram autênticos fantoches. Nada provou e antes pelo contrário : estamos pior em todos os indicadores, sejam eles económicos ou sociais.
A simples apresentação de um compromisso alternativo quando já quase se tinha institucionalizada a “ inevitabilidade”, e por isso o Aleluia!, é, como disse, o aspecto mais positivo para mim, independentemente do esmiuçar das medidas apresentadas que o PS se compromete a implementar se for Governo. O “ Aleluia” é como quem diz : Finalmente! É evidente e claro, presumo e pressinto eu, que a base de sustentação de todo o quadro apresentado é o incremento da actividade económica que a recuperação de alguma justiça social proporcionará. Tal como no Brasil de Lula. E também não vejo que possa ser de outra maneira. Tirar pessoas da pobreza, está provado, para além de trazer mais dignidade à política, traz aumento da procura e as sinergias daí advindas são inquestionáveis.
No entanto, e esta é uma cogitação minha, não pensemos que qualquer destas medidas anunciadas vá ter um impacto imediato nas contas gerais do País. Não! Tem que haver uma linha de conduta consequente, de raciocínio e actuação, que possa ultrapassar os inevitáveis constrangimentos que irão continuar a aparecer e que têm a ver com compromissos assinados ( o Tratado Orçamental, por exemplo) e com obrigações assumidas como o controle do défice e outros.
E, no imediato, aparece logo o problema das receitas pois se se puxa o lençol para um lado ele tenderá a destapar do outro. Até agora tem-se batido e batido à exaustão nos funcionários públicos e trabalhadores por conta de outrem quer pela redução de rendimentos quer pela subida estrepitosa dos impostos sobre esse mesmo rendimento e, ainda, na população pensionista. Naqueles que não têm qualquer alternativa que não seja pagar. Depois nos apoios sociais. Que fazer agora? Viram-se para as empresas e demais agentes económicos? É muito duvidoso e contraproducente. Para as profissões liberais? Talvez um pouco. Para as grandes fortunas? Também é duvidoso pois a facilidade como os capitais daqui voam é impressionante e os seus detentores estão sempre a coberto de alguma lei e só aceitam que o seu dinheiro volte se lhes derem benefícios fiscais. A Banca? Esqueçam…
Então? Onde ir buscar mais receitas? Este programa conclui que só pode ser pelo crescimento económico e nas suas virtualidades. Também no bom aproveitamento deste novo quadro comunitário de apoio, o Objectivo 2020, que agora começa e é, sem dúvida, o último grande instrumento à nossa disposição para esse desiderato.
É preciso consenso e força política para o fazer um sucesso. Será António Costa capaz? A ver vamos. Para mim tem que provar. Para já, para mim, este passo foi importante porque mostra alguma ruptura e se tiver sucesso não deixarei de mostrar satisfação. Mas António Costa terá que ser coerente e terá que fazer melhor, muito melhor do que o que tem mostrado. E às vezes é simples, muito simples e eu vou dar aqui um exemplo do que essa simplicidade pode significar se for acompanhada de seriedade, de abertura, de verdade e de boa gestão :
O de RUI MOREIRA e sua equipa na Câmara do Porto! É um exemplo de como fazer diferente e fazendo simples fazer melhor. Mandando às malvas qualquer visão fatalista e de inevitabilidade e desmontando qualquer divinização do caminho anteriormente seguido tido como único e de exclusiva virtualidade, o de Rui Rio que, ao fim de um ano, já está esquecido e devolvido às calendas. O trabalho de RUI MOREIRA à frente da Câmara do Porto, com a sua equipa onde pontificam Manuel Pizarro no Urbanismo e Paulo Cunha e Silva na Cultura, é visível e, apenas num simples ano, virou a cidade ao contrário virando-a para os cidadãos. Que se tornaram parte activa do seu processo pelo acesso prioritário à Cultura, pela participação activa no melhoramento dos Bairros, através da exortação ao empenhamento das Comissões de Moradores num trabalho de partilha de objectivos, através da Cidadania participativa com a abertura demonstrada no conhecimento das decisões, pela lealdade e transparência manifestadas e pelo envolvimento conquistado nos destinos da cidade e que só o pode ser manifestado se houver seriedade, lealdade, orgulho, simplicidade, compromisso e saber.
Já fez mais pela cidade num ano que o anterior em doze! E conseguiu que houvesse capitais para o que antes não havia, investiu mais, tem cumprido linha por linha o que havia prometido, teve orçamento excedentário e…diminuiu a dívida! Quadratura do Círculo? Não! Apenas sensatez e Gestão! Gestão essa que não se circunscreve apenas à economia e às finanças. Gestão é tudo! É envolvimento das pessoas, é ir, é falar abertamente dos problemas e das suas soluções, é aparecer sem ser anunciado, é auscultar, é partilhar, é dessacralizar a função, é falar a verdade às pessoas, é dizer-lhes que é possível cumprir o prometido e não ceder ao populismo. É ser livre!
Se há pessoa que na vida pública Portuguesa me tem positivamente surpreendido é RUI MOREIRA. Não que essa surpresa seja absoluta porque já sabia do seu carácter, como sei daquela burguesia Portuense tradicional, amante da Cultura e da Filantropia, séria e empreendedora, amiga do trabalho e liberal no bom sentido do termo, independente por não dependente dos favores do Estado Central, que fez do Porto a cidade que é, orgulhosa e competente e com elites nas áreas da Cultura, da Ciência, da Engenharia, da Arquitectura, do Ensino etc. etc… eu já sabia mas RUI MOREIRA tem provado uma coisa essencial : que gerir até é fácil . Basta querer saber o que se quer e ser-se independente. Este “ independente” não significa ser independente partidário mas é, sim, ser independente dos interesses. É saber e querer que se saiba que não são esses “ interesses” que vão conseguir manietar a sua gestão.
Este é um exemplo que deveria servir de inspiração a ANTÓNIO COSTA nas funções em que, presumivelmente, vai ser incumbido. Que tal governar fácil, com verdade e transparência, com compromisso, com partilha e com rigor?
Nada é definitivo na vida, exceptuando a morte, e como dizia Pablo Neruda : A Primavera é inexorável! Nada é inevitável, exceptuando a dita. Pode-se fazer diferente, pode-se fazer simples, desde que se fale a verdade às pessoas e elas sejam convencidas a integrar esse titânico esforço comum que é o de preparar o futuro!
PS 1- Serão de esperar as reacções lógicas e críticas do PSD ao enquadramento macroeconómico apresentado e desde logo pela voz desse paladino da boa gestão ( vide Câmara de Gaia) que se chama Marcantónio. Eu só pergunto: como é que ainda ninguém disse a esse personagem que vá dar lições para o diabo que o carregue?
PS 2– … pois foram eles que ganharam a confiança dos mercados, dizem…! Pois! Mesmo sendo apenas uma pequena fatia da verdade eu sempre digo : ganhar a confiança de alguém à custa da punição de outros e principalmente quando estes são os mais fracos e os mais desprotegidos, não abona a nenhum dos lados : nem quem a dá nem quem supostamente a conquista. É um acto hediondo e reprovável. É vergonhoso e não é cartão de visita que se apresente. Alguma vez terão algum pingo de vergonha na cara?