E VALE A PENA?

Ou: Como se destrói um sacrifício?

Passos Coelho, numa daquelas suas frases enigmáticas, sopradas por alguém e a que depois chamam de “ spin” ou coisa que o valha para dizer que funciona, que é eficaz, que acertou no alvo e coisa assim, saiu-se com o seguinte : “ Ninguém tem o direito de destruir os sacrifícios dos Portugueses”.

Esta frase assim transcrita não faz qualquer sentido. Comporta poucas palavras mas todas elas têm sentido dúbio e estão mal colocadas. Se não vejamos: “Ninguém tem o direito de…”.Que quer isto dizer? Se ninguém tem um direito é porque não o tem, não é? Ou nunca o teve ou se o teve lho foi tirado. Como tantos outros direitos, alias. “…de destruir”. Mas destruir como se destruir não é um direito? Quanto muito será um crime. A não ser que seja uma destruição autorizada, programada, assim como fazer implodir uma Torre do Aleixo, por exemplo. Não havia o direito de destruir a torre mas foi autorizada a sua destruição. Ninguém pode destruir sem autorização, portanto, e se alguém o faz tem que ser denunciado de punido. E se ele diz que “ ninguém tem o direito de destruir” então estamos falados e pronto.

Agora : de destruir o quê? “ Os sacrifícios dos Portugueses”, disse ele. Mas aqui é que “ a porca torce o rabo”. Como se destrói um sacrifício se o sacrifício já foi feito, não importa se imposto ou não? Como se destrói algo que já aconteceu, cujo efeito já foi assumido, assim do mesmo modo que uma penitência que se teve que rezar depois do confesso, como uma reprimenda que ouvimos depois de nos portarmos mal, como um castigo que nos impuseram na escola porque fomos apanhados a copiar, uma reguada quiçá, como ter ficado sem a mesada porque desobedecemos etc… já foi, o seu efeito, bom ou mau, já aconteceu? Podemos olhar para trás e perguntar se valeu a pena mas…já nada vamos modificar.

A não ser que…Ah não! A não ser que o que ele pretenderia dizer é isso mesmo que estão a pensar: que eles têm que continuar. E, sendo assim, passam de imediato a ser coisa presente e sendo coisa presente não se poderão destruir. Agora percebi. Ele quer dizer, tão simplesmente, que tem” pena” que acabem com os sacrifícios, que acabem essas sagradas imolações. Ele não tem “ pena” dos sacrificados, ele quer é mais, sob “ pena” de, segundo ele, não ter “ valido a pena”.

Tudo se resume, portanto e no meu entender, à “ PENA”!

Em primeiro lugar a esta “ pena” com que escrevo a palavra “ pena”.

Em segundo lugar é a “pena”, a lamúria e o lamento com que diz que “ ninguém tem o direito”…

Em terceiro lugar é a “ pena”, a punição, a sansão, o castigo que representa o sacrifício que ele diz que não há direito que se destrua…

E, por fim, é a “pena”, a piedade, o dó e a compaixão que tudo isto dá.

Resumindo, ele quer dizer sem o dizer que esses tais sacrifícios têm que ser “ penas eternas” para esses tais, para os de sempre e que, em definitivo, não vale a “pena” ter “ pena”.

Mas, pergunta-se, “ valeram a pena” esses sacrifícios? Ele quer dizer que sim porque, senão, não iria dizer que  “ não há direito que se destruam…”. Mas se “valeram a pena” para quê insistir nos mesmos se um sacrifício em si já é uma “ pena”? Para além de eterna também quer que seja uma “ pena capital”?

Mas, pensando ainda um pouco mais, se ele diz “ não há direito de os destruir” eles já foram destruídos ou não? Se foram quem os destruiu? Eles não terão sido destruídos precisamente por ele e pelo seu Governo? E se foram destruídos eles serviram para quê em concreto?

Eu acho que “ valia a pena” responder e isto e, se não o fizer, é mais uma frase e é uma “ pena”…uma grande “pena”. Valeu a pena?

Falando ainda dessas tais frases do dito cujo que  no início eu caracterizei, há uma outra de que vale a pena falar e mesmo dissecar. Diz ela: “Há uma grande diferença entre (sonhar) e defender certas ideias e concretizá-las”. Conclusão imediata : para ele o sonho não comanda a vida e do sonho não nasce a obra. Tendo em consideração que tudo o que faz lhe é imposto e ele aceita fazer, para quê perder tempo a sonhar? Mas, de imediato, ele diz que “ isso é colocar em risco a possibilidade de podermos SONHAR, com os pés assentes na terra, com um futuro melhor”. Deixando de lado essa do “sonhar com os pés assentes na terra”, em que ficamos afinal? Sonha ou não sonha?

De modo que, voltando à “ pena”, para ele só “ vale a pena”, só vale a pena sonhar, se existirem ou continuarem os sacrifícios. Pelo contrário, não valerá de nada sonhar se não houver os tais sacrifícios, as tais imolações, as tais punições…só com sacrifícios é que os sonhos são realizáveis e têm eficácia. Quer ele dizer.

Concluindo então: quem quer ter o direito de sonhar tem que aceitar sacrifícios. Até pode sonhar, mas de nada valem. Só com sacrifícios de permeio. Ter ideias? Só com sacrifícios. Concretizá-las? Só com sacrifícios…sacrifícios…sacrifícios…

Já não me chega o sacrifício de o ouvir e ter que aguentar e ainda me obriga ao sacrifício de sobre isso escrever…

E vale a pena?

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