Eu já não escrevo aqui há uns longos dias. Não sei do que escrever. Já não sei. Criticar só e simplesmente não vai com o meu feitio. Eu queria falar de coisas mais sérias…
Querer eu queria mas…não me deixam. E teimam em não me deixar. Falar de algo realmente mais sério do que quase tudo o que leio e ouço, algo que merecesse análise mais profunda. Vivemos do que agora se chama de “ spins”, de coisas efémeras, de frases soltas, muitas vezes tontas e que nada acrescentam à discussão séria dos problemas que afectam realmente a nossa vida e o futuro de todos. Por outro lado tudo o que leio de amigos, de referências e mesmo de fazedores de opinião são queixumes, apenas queixumes e críticas, evidentemente que providas de razão, mas quase nunca uma orientação para o como fazer ou para o como fazer melhor.
E assistimos, pelo menos eu assisto, incrédulos à ligeireza com que se tratam assuntos tão determinantes no “modus vivendi” e futuro da nossa sociedade como a JUSTIÇA, como a EDUCAÇÃO, como a SAÚDE, como a SEGURANÇA SOCIAL, como a DEFESA e como a POLÍTICA EXTERNA, todos eles eixos centrais dos destinos de qualquer País e determinantes na maneira como se organiza o seu futuro. São eles que determinam a sua autonomia e diferença e são o pilar central de qualquer democracia porquanto, pela sua abrangência, a sua boa gestão e execução se destina a todos e não apenas a alguns mais privilegiados.
Assim sendo a evolução das políticas nestes sectores essenciais deveria ser obtida do modo o mais consensual possível pois, fazendo parte do corpo do Estado, os seus órgãos vitais diríamos, deveriam estar a coberto de quaisquer interesses partidários ou corporativos e seriam sempre os órgãos, pela sua determinante importância, a preservar. A melhoria e afectação de todos eles ao bem comum deveria ser um desígnio Pátrio e deveriam merecer o empenho patriótico de toda a comunidade.
Mas, infelizmente, eu não consigo falar de coisas sérias e porquê? Porque, na verdade, todas as medidas que vemos serem tomadas por quem governa são determinadas pelo efeito a curto prazo, o impacto eleitoral instantâneo e, pior ainda, por ditames externos que amputam a nossa soberania e coarctam o direito de determinarmos o nosso futuro.
Porquê? Porque, obedecendo aos tais ditames atrás referidos, são tomadas em secretismo, sem qualquer explicação ou, quando são minimamente explicadas, são-no sempre de modo dúbio, de modo enganador e apresentadas como não tendo alternativas, mas dando sempre a entender que existe inevitavelmente algo por detrás, algum desígnio escondido, algo que não se pode saber, algo que mesmo que se suspeite seja apresentado como inevitável, percebendo todos nós que aquilo vai dar errado mas é apresentado como inevitabilidade. Como o desprender de um corpo nocivo com o qual eles dizem que não podíamos conviver mas que, a seguir, e logo que é desligado, se percebe que poderia bem, e em melhores condições, permanecer ligado. Por exemplo: A Ministra das Finanças, assim como coisa surgida do nada, anuncia que para salvaguardar o equilíbrio da Segurança Social será preciso cortar 600 Milhões de Euros na Pensões do próximo ano. Porquê e porquê aquele valor ninguém sabe. Fala-se em perdas bolsistas na aplicação de fundos da SEGURANÇA SOCIAL etc. mas o que se sabe, no fundo? Há uma nebulosa sobre tudo isso e as quotizações de trabalhadores e empresas são usadas como arma política sem que se descortine, com o mínimo de rigor, serem a solução para a sua estabilidade e sustentabilidade. NÃO SERIA ESTE UM TEMA QUE MERECERIA AMPLA DISCUSSÃO E CONSENSO?
As PRIVATIZAÇÕES, como exemplo também, dada a sua irreversibilidade e se tratar de sectores estratégicos onde a influência dos Estados é determinante na condução de políticas de investimentos e sustentabilidade de preços, a quem serviram? A quem serviu a venda da EDP a Chineses, da REN a chineses, da ANA a Franceses, da PT a Brasileiros e Franceses e agora da TAP a Brasileiros e não sei quem mais? Não aumentaram todas imediatamente os preços? Como servirão no futuro para o progresso tecnológico e para o bem estar das populações? A que fica reduzido o Estado dada a sua irreversibilidade? E a nossa Soberania? Era inevitável que assim fosse? Não, não era. Ninguém sabe para que serviu o dinheiro arrecadado. Para reduzir a dívida? Como, se ela não pára de aumentar? Para reduzir o défice? Como, se ele só se vai conseguindo, a pouco e pouco, reduzir com aumento da carga de impostos e redução do investimento’? E os impostos que se deixaram de cobrar? E os empregos que o País deixou de ter? E os centros de decisão estratégicos que perdemos? E o nosso nome? E a nossa SOBERANIA?
Sim, eu sei, nós sabemos que essas verbas foram para pagar aos credores os seus juros e dividendos pelo acréscimo da dívida. E porque é que empobrecemos? Fácil: porque tendo que pagar esses juros e dividendos, não pagando essas empresas que passaram para mando deles, teriam que ser pagos por nós. Como? Empobrecendo e sugando-nos até ao tutano. Sim porque, ao contrário de tudo, esses juros e dividendos subiram para o dobro! Daí a exigência da austeridade, de mais austeridade.
Isto é TABU! A alternativa era a bancarrota, eles dizem. Venderam o País e o que resta? Resta que querem mais, que fizemos progressos mas que, como bons alunos, temos que fazer mais. E vão sempre querer mais, sempre mais…
Eu queria falar de coisas sérias, queria falar do futuro do País, queria lembrar como fomos, como lutamos contra Castela e os Mouros e defendemos a nossa identidade Pátria. Queria lembrar como por mesquinhez e sôfrega avidez desbaratamos as especiarias e o ouro. Queria lembrar como esquecemos este País e fomos depois obrigados a defender o indefensável. E como tivemos depois que sair para fugir à miséria originada pela concentração egoísta da riqueza. E como depois quem saiu financiou essa mesma concentração.
Eu queria falar de coisas sérias mas não me deixam. Queria falar de como poderíamos ser mais iguais, deixando cada um com os seus méritos poder orientar e exercer cargos de maior importância e proveito sim, mas mantendo um desígnio pátrio de envolvimento num futuro mais justo. Mas que vejo eu?
Vejo, por exemplo, um indivíduo que ocupa o mais alto cargo da Nação e ser, portanto, por definição o maior signatário da defesa da nossa Soberania, sentir-se “ aliviado” com a venda da TAP um dos símbolos dessa mesma soberania. Porquê? Por demissão? Por troca de favores? Porque lhe prometeram que, tal como ele acedeu a condecorar alguns, aproveitando para condecorar um desconhecido costureiro que por tentar fazer da Maria “ ancuda” menos “ ancuda” e mesmo assim não conseguiu, a Maria “ ancuda” seria nome de avião?
Mas que vejo eu mais? Gente que fala de coisas sérias? E fala delas com gravidade? Com a “ gravitas” que elas mereciam?
Não, eu vejo rapazolas estarolas tomarem todas estas decisões com uma leviandade tal que só desejo que, a estes rapazolas estaloras, não venha a suceder, caso haja mudança, um governo de rapazinhos….
Já nem sei o que é melhor, como no caso da TAP : se os Vitorinos ou os Mendes…
Eu que só queria falar de coisas sérias…
Excelente análise !!!
Obrigado!