A GOVERNAÇÃO e a VIDA

Pressupostos:

  • Temos que ser governados.
  • Seja quem for que nos governe tem que governar para todos.
  • Vote ou não vote no vencedor, seja ou não seja da sua cor política, aceite ou não as suas propostas, concorde ou não com as suas posições, goste ou não goste do seu estilo e goste ou não goste das suas decisões, elas ser-me-ão tão agradáveis ou desagradáveis a mim como o serão a todos os demais e afectarão positiva ou negativamente a minha vida como a de todos os outros. Talvez a única coisa que aqui seja diferente seja a compreensão e a aceitabilidade.

É do senso comum.

Passadas as eleições e formado qualquer governo nenhum de nós deixa nunca, ou quase nunca, de achar continuarem a ser os seus princípios os mais adequados, mais justas as suas causas e mais correcto o seu pensamento também. Por isso conversa, por isso continua a exprimir a sua opinião, por via oral ou escrita e, por isso mesmo, às vezes até discute. Sabendo que nada vai alterar mas, apenas e só, por afirmação pessoal e por intelectualmente a isso se ver obrigado.

Querer ou não querer este ou aquele partido ou partidos para governar é um facto que é inapelavelmente ultrapassado pela sua eleição- assim é em Democracia- mas cumpre-nos sempre o cívico dever de, através das pessoas que elegemos para nos representarem, exigirmos seja realizado o dever de cumprimento de promessas feitas e a obrigação de uma governação em função do bem comum e não de qualquer classe, por mais influente que seja. Que seja feito, portanto, o devido escrutínio.

Aqui reside no essencial a diferenciação da origem do nosso voto pois acreditamos que aquele outrem em quem depositamos a nossa confiança governaria com mais sentido de justiça, com mais equidade e com maior exigência ao nível do social. Mas tudo isto não pode limitar o nosso dever de pensar, o nosso dever de atenção e o nosso dever de preocupação.

Posto isto, e como disse, sabendo que o que a seguir expusermos, a crítica que fizermos e aquilo que com muito calor defendamos, não poderá nunca mudar o sentido do voto da maioria, também nunca será legítimo que qualquer exposição de diferença de opinião seja tida como ataque pessoal a quem diferente votou e muito menos como qualquer julgamento de carácter.

As diferenças de opinião políticas, e a sua confluência com a vida, advêm de causas exógenas e têm a ver com múltiplos factores, que muitas vezes não controlamos e fazem de nós o que somos, como o meio em que nascemos, a origem social donde viemos, a educação que tivemos, os professores que nos educaram, as vicissitudes por que passamos, o que fomos lendo e mais nos tocou, as companhias que tivemos etc, e que, resumindo, nos fazem pensar como pensamos. Mas o pensar como pensamos nunca fará de nós os detentores únicos da Razão, mas tão só e apenas da nossa razão e muitas vezes, entusiasmados na defesa das nossas mais puras posições damos por nós a fazer julgamentos de carácter, que nunca são aceitáveis quando não se sabe a verdade absoluta, e que ferem ou chocam quem, muitas vezes de nós próximos, como nós não pensa.

Por isso tendo a ser cada vez menos radical, no sentido prático da vida, e apenas mantenho aquela certeza interior e enraizada de que não era esta actual realidade que eu quereria. Mas entre a minha vontade mais profunda e a realidade crua da vida vai uma grande distância, pelo que o meu idealismo mais intrínseco não deixa nem deixará nunca de existir mas permanece guardado num armário que no meu cérebro guardo e que conforta a minha integridade.

Na vida concreta trabalho e luto ao lado de quem pensa o contrário de mim, de quem depende do que eu dependo, de quem luta pelos mesmos objectivos, de quem tem as regras que eu tenho, para quem a angústia da vida é igual e vencer custa o mesmo.

Mas às vezes esses meus radicalismos, que eu penso bem guardados, põem a cabeça de fora e, no entusiasmo das palavras e das sensações, digo e escrevo às vezes coisas de que a seguir me arrependo. São pecados meus mas estes pecados que tenho que corrigir nunca por nunca servirão para pôr em causa alguma amizade e ficarão sempre remetidos à diferença de opinião, pois tenho muitos amigos que não pensam bem como eu, alguns pensam mesmo o contrário e o respeito mútuo terá sempre que ser superior a isso. E globalmente assim tem sido.

Continuam e continuarão a ser meus Amigos, continuam e continuarão a merecer o meu respeito porque, quando somos inteligentes temos a obrigação de sabermos qual é a fronteira que não poderemos ultrapassar. Para proteger esse bem essencial que é a Amizade e cumprir essa velha e douta máxima que nos diz que A nossa Liberdade termina onde começa a do outro”.

E assim deverá ser!

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