Tal como as ostras dos mares do Pacífico também o VALTER guarda bem fechadas nos seus livros pérolas valiosíssimas que vamos achando, abrindo e saboreando com particular gosto quando neles penetramos.
Essas pérolas são frases nunca lidas nem ouvidas que nascem do seu poder criativo, um poder que ele alimenta com doses maciças de sensibilidade e com o encantamento das palavras. Digamos que os seus livros são poemas pérolas transformados em prosa.
Dentre todas essas pérolas, pérolas bem guardadas e escondidas nas páginas dos seus livros e que só podem ser descobertas quando se leêm, eu elejo uma! Uma frase curta mas que compreende e define o humanismo que da sua descrita emana: “Quem não sabe perdoar só sabe de coisas pequenas”.
Poderíamos derivar, extrapolar ou inventar e dizer que “ Quem não sabe perdoar” poderia ser substituído por “ Quem não sabe amar”, “ Quem não sabe ouvir, condescender, dar, ceder…” e muitas coisas mais mas…nunca seria igual. A palavra “ perdoar” é a palavra certa e exacta porque remete para o sentimento humano de mais difícil expressão que é o da cedência, da dádiva, da compreensão, do desligamento dos egos, do altruísmo, do despendimento e muito mais e eleva para o limiar da grandeza o humanismo que encerra.
Mas ela é também, e por inerência, definitória do que é o nosso Amigo VALTER, tanto o Homem como o Escritor, e só uma pessoa como o VALTER a poderia ter escrito.
O VALTER é um Homem que ganhou mundo mas é uma casa aberta ao mesmo mundo, um mundo que percorre quase sem parar, mas onde a sua casa nesse mundo é a sua Casa. A sua casa em Vila do Conde, uma casa que quando chega se transforma sempre em espaço de festa da chegada. As saudades dos Amigos são tantas, daqueles seus amigos de sempre, fiéis e devotados Amigos, aquele seu batalhão de rectaguarda de que não prescinde a ponto de exigir sempre a sua presença que, em chegando, logo os convoca. E todos lá vão, levando cada qual sua coisa, contentes com a sua chegada e saudosos de o ouvir.
A sua casa, uma casa recheada de Artes que ele vai coleccionando com esmero e rigor, a que eu passarei muito prosaicamente a chamar “ Casa das Artes Valterianas”, é um repositório de arte sacra e profana, inundada de santos e diabos, de senhoras de Fátima e Cristos e de iconografias várias, é um retrato do seu complexo misticismo. O VALTER quando era pequeno sonhava ser “Santo” (O Nosso Reino) e daí o porquê da sua casa estar repleta de “ santidades”.
E é essa “ santidade” que ele revela quando faz também da sua casa o abrigo de algum Amigo retirante, o refúgio de algum ferido de Amor e o aconchego de algum pedindo Lar e para quem, em dado momento, a vida se tornou madrasta.
O VALTER é o “santo” protector da Amizade e quando chega e vai ao Pátio a sua cor crepuscular ilumina-se! O VALTER senta-se e todos o rodeiam para o ouvir, para ouvir as suas histórias sem fim que ele sabe contar como ninguém e para atestar da sua condescendência. Condescendência ou benevolência que ele sempre demonstra quando algum de nós intervém dizendo alguma “bobagem” e ele não o rectifica. Ele deriva, aproveita a “bobagem” e continua, aprofundando a conversa e dando a oportunidade ao Amigo da mesma retomar. Quem não sabe de condescendência só sabe de coisas pequenas, diria eu!
Mas voltando ao VALTER Escritor ele é, neste momento, um Escritor global, conhecido em todo o mundo, premiadíssimo até mas, seja em que lado for, a sua simplicidade continua a ser desarmante. Por isso reconquistou o Brasil e pelo Brasil foi conquistado. Por eles e por elas. Mais por elas que por eles, essa é que é a verdade, a ponto de só me apetecer clamar: VALTER, Valter, quando me levas contigo? Uma vezinha que seja? Pois, apetecia-me mas não posso! É que eu não sou das Letras e nunca por nunca terei a sua “ letra”!
O nosso Amigo VALTER faz hoje anos! Mas o VALTER não está mais velho, está apenas mais sabedor. Uma sabedoria adquirida e conquistada que ele nos distribui pelos seus livros, pelas suas crónicas, pelas suas conferências e palestras e pelos seus textos. E pelas conversas com os seus Amigos.
E os AMIGOS, os mais antigos e os mais novos que mesmo sendo mais novos são de sempre e fazem parte daquela guarda “pretoriana” que faz a sua rectaguarda, os Amigos dizia eu, quais Reis Magos, vão-lhe levar coisas. Não vão levar nem ouro, nem incenso, nem mirra mas vão levar o que têm e podem levar:
A “BABY” vai levar novos quadros. O VASQUES vai levar a PAULA e atrelado um RIOS carregado de poesias. A OLGUINHA vai levar a sua cúmplice ternura. O PAIVA um silencioso sorriso. A ISABEL a calma e o gosto de lá estar. O ISAQUE montes de versos e alfarrábios. O ESGAR e o LUIS ilustrações e desenhos. A PAULA ROSENDO vai levar graciosidade. A JULIANA elegância. O NÉLIO leva uns jardins da Madeira. O PAULINHO filmes e projectos escondidos no seu chapéu e nas barbas do MANEL. A RITA e o NELSON fotografias. O PEIXOTO leva a viola e histórias de pescadores. A SUSANA leva o riso e o BRUNO a pantominice. E a LUISA monta o Circo.
Resto EU. Que poderei levar eu além da minha presença? Este texto!
PARABÉNS VALTER! Obrigado pela tua Amizade. Obrigado por fazeres da tua casa a nossa casa e das nossas casas a tua casa. E obrigado pelo que nos ensinas!
PARABÉNS!
25 de Setembro de 2015!
Invejo-lhe a proximidade com o “santo” Valter. Por osmose, a sua escrita partilha a mesma leveza que a dele. Parabéns ao Valter e a si por tão bem o ter descrito. Muito obrigada.