O nosso “ Menino de Oiro” faz cinquenta anos e como menino doirado que foi resolveu festejar. E resolveu festejar convocando todos quantos sabem que ele foi um menino de oiro e outros ainda que mesmo não o sabendo, mas suspeitando, a saber irão ficar. E resolveu festejar julgando que, tendo sido um menino de oiro, seria obrigatório festejar. Decretando assim que se tem que festejar isso mesmo: o ter sido um menino de oiro! E nós condescendemos e cá viemos. Festejar os seus cinquenta anos, realmente coisa muita para um menino de oiro.
E só pode ser porque eu e muitos dos aqui presentes que há muito já fizemos cinquenta anos, não tendo deixado de tal efeméride comemorar, não festejamos como se meninos de oiro também tivéssemos sido, coisa que, infelizmente, nunca fomos nem nunca da refulgente e doirada cor perto chegamos.
Mas tu foste! Tu foste e eu bem me lembro. Quando te conheci tinhas uns seis anitos, por aí, e lembro-me bem dos teus cachos doirados, dos teus caracóis enrolados pelas tuas tias e iluminados pelos seus seios, das Lurdes, das Mias, das Tinas, das Beuas, das Tutas e das Betas, porque as outras nem seios tinham, assim como se as asas de um anjo fossem. Com a perfeição de um anjo, um anjo que para elas tu eras. Porquê? Porque tu foste aquele anjo imaginário que se tornou presente vivo na vida delas e do teu Avô e da tua Avó. Sim, porque tu nasceste no ano seguinte ao desaparecimento de um outro menino de oiro, não de cachos e caracóis doirados, mas de oiro também porque tinha a aura de ser o único entre muitas. Era um Príncipe!
Mas ele partiu e tu, principezinho logo nascido, foste elevado à categoria de Rei, ou melhor de Reizinho, porque ainda pequenino vieste ocupar um lugar vazio, um lugar ocupado com a força que detinhas de, sendo pequenino, seres levado a crescer, a crescer num berço doirado com as atenções de um Reizinho, um Reizinho de caracóis doirados, de pele alva e luzente, um Menino de Oiro. Eu ainda me lembro…
E lembro-me do enlevo da tua Avó, do carinho quase possessivo do teu Avô, tu eras o seu primeiro neto, eu lembro-me…e tu ficavas, tu ias ficando enquanto os teus Pais se ausentando corriam terras porque ele e elas precisavam de ti. Tu, menino de oiro, tu eras o bálsamo, tu eras quase que um anestesiante para a sua dor da ausência. O primeiro neto, menino de oiro, de cachos doirados e de refulgentes caracóis. Tu não o sabias, nem tão pouco o imaginavas, mas foste. Eu lembro-me e já tinham passado uns anos…
Foi a importância de um menino doirado, foi a importância inalienável de se ter caracóis dourados. Tu foste o Menino de Oiro!
Mas os anos passaram e, apesar de teres traído a nobreza e a “avôleza” quando passaste do Sporting para o Benfica, tu não deixaste de manter a tua aura. É que tu só tiveste irmãs! Consequência? Continuaste um Reizinho. Fazias o que querias. Não tinhas linhagem mas tinhas trono. Obrigações familiares? Trabalhos de casa? Ordens de serviço? Tabelas de tarefas? Isso é que era bom! E sabendo como as tuas irmãs eram e como a tua inesquecível Mãe lidava, sobrava para ela. Ela tinha que fazer por ti aquilo que as tuas irmãs, mesmo aturando os teus resquícios de realeza, não aceitavam fazer. Onde um reizinho numa casa onde só havia serviçais? E a tua realeza foi-se esbatendo, esbatendo, esbatendo…assim como os cachos doirados, os caracóis de outros tempos. A idade filho, a vida!
E foi-se esbatendo mas até que resistindo, a tua aura do menino doirado. Até que, até que, até que…surgiu a Tuxa! Surge sempre uma Tuxa na vida de um menino de oiro e o doirado já era. Foi-se! E tu foste ficando prateado. E já não é mau. Mas mais vale a prata que o bronze. E mais vale o bronze que a lata…
…A “lata” que sempre tiveste. Até a suprema “lata” de festejar os cinquenta anos. Porquê? Porque quem festeja, pá?
Mas eu sei, nós sabemos: são as reminiscências de um Menino de Oiro!
Parabéns Mário!