PORQUE NÃO SE ENTENDEM?

Eu tenho estado em “ black out”, em termos de publicação de ideias, quanto ao que à formação do novo governo diz respeito porque, sentindo algum clima de crispação e tendo já a experiência de vida que tenho, sinto que não devo meter lenha na fogueira e devo aguardar serenamente que todo o processo se conclua.

Isso não quer dizer que não tenha opinião e esteja desligado do que se passa. Quanto à legitimidade e quanto ao que eu intuo ser a solução mais consentânea com os ditames constitucionais eu já emiti opinião, e não me afasto dela, pelo que me eximo à obrigação de tal voltar a referir.

No entanto isso não quer dizer que não possa comentar os passos que estão sendo trilhados e as decorrências dos mesmos, avaliando criticamente os caminhos que vão sendo seguidos e as prestações dos seus personagens. Isto não se trata de um auto teatral ou de um jogo de futebol mas, às tantas, em muito se assemelha. Isto é, do mesmo modo que numa peça de teatro seguimos o enredo muitas vezes pressentindo já o fim e apenas avaliamos a performance dos actores e o seu envolvimento no mesmo enredo, num jogo de futebol observamos o critério e a objectividade com que, tendo em consideração um desiderato, o golo, os jogadores passam horas em tacticismos orientados por treinadores a passar a bola para o lado e para trás, à espera do momento em que o adversário mostre alguma debilidade e lhes permita fazer o tal golo que ganhe o jogo.

É o que se tem passado e é bem visível no “jogo” que têm sido as negociações entre as duas forças que são as maiores responsáveis para um entendimento que permita a Portugal ter um governo estável, com políticas previsíveis e responsáveis que venham de encontro à vontade do povo expressa nas eleições e que tenham como pressuposto principal a recuperação do País, dentro das limitações que advêm de ser um País ainda em observação, e que depende de um pragmatismo básico que deixe de lado as diferenças e valorize o essencial.

Mas que vemos:

– Passos diz que teve duas reuniões com o PS e que está farto e não quer ter mais nenhuma…

– Que pensa pôr fim ao que o País, atónito diz ele, tem vindo a seguir nesta semana. Pôr fim, disse ele…

– Eu confesso que não me senti atónito mas, a seguir, ele lá afirmou estar sempre disponível para atingir qualquer compromisso. Qualquer, sublinho, disse ele, afirmando depois que , não tendo obtido maioria absoluta, não pode governar só com o seu programa e, acrescenta, não vai governar com o programa do PS!

Que é que se pode concluir destas afirmações? Lá está, aquilo que eu disse: anda a jogar para o lado e para traz, sem qualquer objectividade e não quer de modo algum fazer golo, isto é, dizer que tem que governar com algum programa do PS! É tão simples, tão simples que até o meu neto de quatro anos e meio já percebeu! Não é que ele se já precoce, não! Estes políticos é que se mostram velhos e sem capacidade de simplificação. Aquilo que até as crianças têm… ( perdoem-me o exagero mas foi o que, de um modo radical, me surgiu…).

É que depois disto tudo, chamando mais uma vez o futebol, e desta vez o Italiano do velho “ cattenacio”, as pretéritas declarações de Portas acerca de como fazer maiorias, mais a violência verbal da “santa” Cristas ou o “ golpe de estado” da Manuela, tudo isso me faz lembrar aqueles jogadores Italianos que, depois de darem uma valente sarrafada no adversário, com o ar mais santo e piedoso deste mundo erguem as mãos em prece e dizem ao árbitro: “ Ma ce cosa! Ma prego…que a fato io? Niente!” Não fizeram nada!

Mas daqui resulta o quê? Resulta que ainda não perceberam que perderam a maioria! Que é legítimo que o Presidente os emposse mas…mas têm que negociar, ceder! Tão simples quanto isso!

Se têm legitimidade para serem empossados como governo? Toda!

Se devem ser empossados por terem ficado em primeiro lugar? Devem!

Se isso é possível, em minoria? Depende!

E depende de quê? De um acordo, que implica necessariamente cedências e compromissos, com alguma força que com a coligação faça maioria!

É possível e com quem? Com qualquer um à esquerda mas só se apresenta verosímil com o PS.

Mas querem?

Pois é, e aqui é que eu pressinto as dificuldades que estas negociações feitas de avanços e recuos demonstram, aqui é que está o “busílis” da questão e que eu, de um modo às tantas cru, vou identificar:

Eu até percebo porque o acordo é difícil. Há muitas coisas em jogo. Há uma reputação de solidez política e de boas contas que pode ser posta em causa. Há uma reputação de seriedade e boas práticas que pode ser desmistificada. Há uma podridão instalada ( estas nomeações à pressa a título definitivo são uma amostra…) que vai ser desmascarada. Há situações que têm sido encobertas que vão ver a luz do dia. Há incompetência a rodos que vai ser divulgada. Há tanta coisa obscura, que qualquer maioria sempre esconde, que vai ser descoberta e que a própria luz do dia pode encandear…Os esqueletos prometem ser mais que muitos e, por isso, não poderão sair dos seus armários.

Por isso há que dificultar. Não se pode aclarar nem divulgar tudo. Só aos pingos, como vem afirmando António Costa.

Nós ganhamos, eles dizem, mas dificultam. E não fosse o enumerado, tudo seria até simples…

Estou a delirar? Veremos! Na verdade eu até estou em modo febril…

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