MAS, AFINAL, QUEM VAI DECIDIR?

Eu não sei se este indigitado governo vai cair ou não, não sei se vai haver novo governo ou não e não sei o que vai na cabeça da cabecinha mais pensadora que em Portugal existe. Já me habituei a ter apenas como certo que o dia de hoje já é passado.

Isto para dizer que aquilo que vou escrever quando for lido já fará parte do passado e será, portanto, um simples exercício retórico a verificação da sua verosimilhança. É que nos últimos tempos todos nos habituamos a dar como verdadeiro o dito daquele defesa do Porto, o João Pinto, que afirmava que prognósticos só no fim do jogo.

Neste dirimir entre esquerda e direita acerca da legitimidade para governar a minha opinião é bem clara ( quem obtiver maioria no parlamento, com certeza), mas eu vou tentar elucida-la recorrendo a uma analogia que fui buscar à Igreja Católica e a um dos seus grandes dogmas: o da Santíssima Trindade. Isto é: o de haver três seres distintos, o Pai, o Filho e o Espírito Santo que, no entretanto, se congregam, se unem, se fundem ou se transformam num só : DEUS. Correcto, não é? Todos sabemos e conhecemos e acredita quem tiver Fé.

Mas como, apesar de ter vasculhado, eu não consigo dizer como se diz “ sendo dois” ( uma santíssima dualidade?), eu vou transformar o PSD mais CDS em três e ficará assim PPD+ PSD+CDS ( o PP já está no PPD) e, à semelhança do exemplo dado, teremos então três entidades distintas que se fundem, quando interesse nisso houver, numa só entidade: a Coligação! O seu Deus!

E então a Coligação, essa divindade que ganhou as eleições, desfez-se em dois grupos parlamentares, com chefes de bancada e tudo, e passou, no Parlamento, a ser duas entidades distintas mas com um objectivo único. Estão a ver?

Estamos a falar de grupos parlamentares. E o desabrochar da Coligação em mais que um grupo parlamentar, mas nunca deixando, qual santidade, de ser Coligação, equivale a ter mais benefícios, claramente. Por um lado o terem ido às eleições coligados permite-lhes afirmar que ganharam as eleições tendo, inclusivamente, eleito mais deputados por isso mesmo. Por outro lado o desabrochar em mais que um grupo, qual flor, permite ter mais intervenções, mais tempos, mais estatutos e tudo o resto. Perceberam agora? Mas à esquerda também é verdade e há o caso particular do PEV que também desabrochou e tem um deputado. Um grupo parlamentar de um deputado só! Coisa risível, não é? Faz-me lembrar a “Olívia Costureira” da saudosa Ivone Silva que era, ao mesmo tempo, patroa e empregada. Uma mandava e a outra reivindicava! O PAN é o mesmo mas não entra para estas coisas. Esse, partido dos cães e dos gatos e da águia vitória, deverá reunir com a natureza ou coisa assim.

E então, depois de tudo bem dividido e dos grupos parlamentares bem definidos mais os seus chefes de bancada, fica assim : PPD+PSD= 89 deputados. CDS= 18

PS…………= 85 deputados. BE…= 19 e CDU+ PEV= 17

É fácil de ver: PPD/PPS e PS equivalem-se. CDS e BE equivalem-se também. Nenhum destes dois grupos faz maioria. Quem sobra? A CDU! Quem decide? A CDU! Quem manda? À primeira vista parece ser a CDU.

É por isso que eu digo: “ granda” Jerónimo! Tu deixaste que a Catarina espalhasse por todos os jornais e televisões o verde dos seus olhos como se fossem os verdes mais verdes e, na verdade, demonstrou-se que eram mesmo “verdes”. Tu preferiste ser o último, ser avisadamente o último. A pedra angular. A que fecha a curvatura do círculo! E de quem tem olhos maduros…

Tu, quando tinhas que te adiantar, adiantaste-te e disseste ao Costa: só não fazes governo se não quiseres! E o Costa quis…

Também disseste, tu e mais uns não sei quantos insuspeitos comentadores, que palavra dada é palavra cumprida. E todos acreditamos nisso. E tu vais cumprir : o aumento do salário mínimo, a retoma dos rendimentos da função pública, a retoma da contratação colectiva, a redução dos escalões do IRS, a actualização das pensões, a marcha atrás da privatização da TAP e da concessão dos transportes a privados, a extinção da sobretaxa…etc. etc…. Tu e a CDU vão cumprir religiosamente isso tudo e deixar o PS governar. Quanto a tudo o resto…

Pois é Jerónimo, “granda” Jerónimo, eles pensavam que isto de negociar era assim uma coisa simples, uma deriva apenas da boa vontade e da vontade alicerçada, tudo bem, de varrer a direita do poder. Eles pensavam ( será que ainda pensam?) que o teu presente é igual ao deles, como se só houvesse presente e o presente não ficasse na História. Eles não sabem, meu caro Jerónimo, que o futuro é feito de presentes e que nenhum presente, passando imediatamente a passado, da História se dissolve. Eles nem sonham Jerónimo, apesar dos seus olhos esverdeados, que a ti não te interessa a glória vã, que tu és um corredor de fundo, um maratonista, que a meio do percurso pode até sofrer de “ dor de burro” e pára, recupera, retempera forças, bebe água e depois, e depois segue o seu percurso, um percurso longo, uma maratona longa, difícil, exigente mas possível de vencer. Eles não sabem…

Para que é que ficaste para último? Ora, nem é preciso perguntar : já todos sabem!

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