PAULO CUNHA e SILVA

Da série Pessoas de quem vale a pena falar.

Era um nome que muitos vagamente já conhecíamos ou ouvimos falar, nomeadamente aquando da Porto 2001 e da Guimarães Capital da Cultura, mas que emergiu nos últimos dois anos, qual gigante adormecido nos lagos da memória, com o convite feito pelo seu Amigo Rui Moreira para, como vereador, dirigir e impulsionar a Cultura na Cidade do Porto, pondo fim a um período de trevas de doze anos.

Não foi preciso muito tempo para ficarmos a saber que, na verdade, não são precisos avultados recursos nem tempos infinitos para se conseguirem coisas. Basta ter um órgão superior envolvido ( Presidente da Câmara), ter ideias, ter querer de capacidade de trabalho, ter pensamento e cultura, saber aglutinar vontades, ter percepção da essência, ter imaginação, saber congregar, projectar o futuro, sonhar e ser aceite.

Ser aceite e reconhecido. Paulo Cunha e Silva era aceite e reconhecido por toda a gente porque com todos falava, todos tentava perceber e com todos convivia. E tanto frequentava altos salões como os “ Maus Hábitos “, onde a minha filha me disse o ter encontrado, noite alta, e rodeado de jovens. Bebendo certamente ideias ou conjecturando projectos.

E a obra foi nascendo e crescendo. Nunca ninguém tanta coisa conseguiu fazer em tão pouco tempo e com tão controlados recursos. Era célebre, a quem o acompanhava no Facebook, aquela sua permanente pergunta: “ O que faço aqui? “. Fazia e estava constantemente a fazer.

Devolveu a Cultura à Cidade. Devolveu os Teatros à Cidade. Devolveu os Museus às ruas e às pessoas, a música aos largos e passeios, os Artistas ao seu público, a Alegria às avenidas, as Festas da Cidade a todos. Ofereceu diversidade aos visitantes e “ movida “ às juventudes. Que vão e voltam e que, embrenhando-se, ficaram indelevelmente marcados e identificados com a Cidade. Não “ O céu de palavras paradas/ A palavra distância e a palavra medo “ coma a  “ Cidade” definia Ary dos Santos nos anos 60, e foi o Porto durante muitos anos, mas a cidade aberta, a cidade “ líquida “ como ele tão bem a identificou.

Ele era uma abelha saltitante à procura do doce pólen para o transformar em mel. Ele que disse era frase rotunda e perpétua: “ A Cultura é o cimento que se infiltra. Que cria uma ideia de identidade e de pertença, favorecendo a coesão social.” Isso mesmo : “ Favorecendo a coesão social”. Que mais pode ser a Cultura?

As pessoas, todas as pessoas, habituaram-se a vê-lo pulando pela Cidade, visitando lugares, galerias e lojas, criando ideias, sempre distinto e impecável honrando o Cavalheiro que ele era, mas sem solenidades nem preconceitos, promovendo a marca PORTO. Ponto! Todas essas pessoas que também se habituaram a ver Manuel Pizarro a ir para o seu trabalho na Câmara de Metro ou Rui Moreira percorrendo a cidade a pé à procura dos seus problemas.

Paulo Cunha e Silva tornou, sem dúvida, a Cultura por ele impulsionada num elo de coesão social. Já não há um problema contabilístico insanável com o Teatro do Campo Alegre e já se encontrou solução para o insolúvel Rivoli que reabriu pujante. Como o velho Teatro do Bolhão e ajudaram o Porto a tornar-se a tal “ Cidade Líquida” que ele tanto referia ser seu sonho.

Até Paris o reconheceu quando lhe atribuiu alta comenda. O seu sonho era tornar o Porto numa espécie de mini- Berlim ou uma Florença do século XXI, onde todos cabem e todas as manifestações culturais se congregam e se enlaçam.

Eu acho que conseguiu traçar o caminho e os estrangeiros que cada vez mais e em massa demandam ao Porto o confirmam. Vislumbram agora uma Cidade aberta, uma Cidade alegre, sem medos nem distâncias, uma cidade onde as pessoas reganharam vida e onde sentem Vida. E a Cultura é isso : a substância que cimenta e dá sabor à vida.

Perdeu-se um inesquecível vereador/ fazedor da Cultura do Porto. Perdeu-se, quiçá, um grande Ministro da Cultura no futuro governo. Perdeu-se isso tudo, eu sei, mas ficou um grande legado. Ficou também uma grande memória. E ficou uma certeza : o não se poder retroceder.

No Facebook, num comentário, li alguém sugerir para seu substituto o nome de Pedro Abrunhosa. Aceito e subscrevo sem qualquer rebuço.

Quem quer que o substitua tem que ter o Porto no coração.

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