Eles querem fazer-te a cama Marcelo! Eles andam a rondar-te, andam a instigar-te, andam a pressionar-te, andam a querer fazer de ti o que tu não és : um político na sua verdadeira acessão.
Querem que tu digas, preto no branco, que te comprometes, caso ganhes, a marcar eleições. E que nunca indigitarias o Costa. Mas que o digas já e sem rebuços. E que te comprometes a tudo fazer para rever essa Constituição que o impede desde já, para que haja eleições quantas vezes ser preciso até que ganhem a maioria e retomem o Poder, o poder que lhes pertence, dizem eles, por direito e por serem os únicos lídimos representantes da vontade do Povo. E ameaçam até colocar-te em segundo plano dos seus apoios caso o não digas. Vê lá tu.
E já falam novamente no Santana, que na SIC cantou elogios a Costa e não vê isso como desejo possível, que pensam ser facilmente dissuadido. Ou no Rio, grande amigo do Costa e tido por cumpridor das regras, que pensam ser também facilmente domável dada a teia de pressões que o cercam. Bem dizia Pacheco Pereira a propósito de outra coisa qualquer que ainda não sabem com quem se meterem.
Numa camisa de sete varas Marcelo! De sete varas mesmo. Se não repara Marcelo: Tu és três em um. Tu és Professor, comentador e agora candidato a político. Qual destas facetas tu eleges e qual destas facetas tu pensas que as pessoas em ti elegem? Esta é a pergunta de um milhão. “ The real question”! A única de letra grande é Professor. Como tu és conhecido: Professor Marcelo. O comentador era apenas lúdico, era a faceta que te mantinha à tona, que te dava palco, mas onde de substantivo nunca nada resultou. Apenas aquela dualidade como sempre tudo resolvias. O pode mas não deve. O não deve mas pode. O de manhã sim e à tarde não. O de manhã esteve bem e à tarde mal. Tu resolvias bem o problema como Comentador e dizias muito simplesmente à Judite : não se pode mas pode-se e tudo seguiria adiante. Mas deixaste de ser comentador e andas por aí sem saber o que dizer. Que coisa, não é?
Mas o candidato a político podendo ainda assim olvidar o ter sido comentador, que não pode em simultâneo ser pelo atrás aduzido, há uma coisa que não pode olvidar: o ser Professor! E, além de outras matérias, dada a tua enorme abrangência, o seres Professor de Direito Constitucional! És um Professor de renome, como todos sabemos, e já publicaste livros sem fim. Tu já examinaste alunos mais de mil e já ensinaste alunos mais que as letras do abecedário. Vais-te agora contradizer? E a tua reputação naquilo que tens de mais sólido e até do teu nome fazer parte?
Pois é Professor Marcelo, tu estás a ver bem a situação: com 38% não ganhas. Só ganhas com 51%! O La Palisse também o diria mas os teus promotores não pensam assim. Tu estás a ver bem o problema ao pensar que unicamente com os seus votos radicalizados não ultrapassarás essa tal barreira dos 38%. E tu, precisando dos tais 51%, tens que ganhar o centro e parte da esquerda. Que outra maneira existe de chegar aos 51%? Mas eles estão-se marimbando para ti. Eles querem é o já! Que os subscrevas e que o digas alto e bom som: que vais marcar eleições, caso sejas eleito, para dar força à sua tese perante o Cavaco para que não indigite Costa.
Já viste no que estás metido? Se o não afirmares às tantas tiram-te o tapete e fazem avançar algum Santana. Mas trocará ele a Santa Casa por um prato de lentilhas? Mas se o afirmares o centro e a esquerda fazem-te um manguito e ficas a ver a presidência por um canudo, assim como se faz no Bom Jesus ou no Sameiro da tua Braga. Está difícil, não está Marcelo?
Mas vamos supor Marcelo que o Cavaco lhe dá assim uma diarreia mental e deixa ficar um governo de gestão a arrastar-se. Quem te irá depois perguntar o mesmo? O Centro e a Esquerda! Depois vão ser estes a querer saber como vai ser: vais marcar eleições ou vais nomear o legítimo governo saído do Parlamento que, seja qual for a maioria que se forme, não tendo 70% dos deputados nunca aceitará fazer a tal revisão Constitucional? Como ficará depois o tal Professor de Direito que passa a não ver bem o direito? Um novo Cavaco? É o que queres vir a ser?
Está difícil Marcelo, está difícil. Essa tua gente não é de fiar. Um Professor para eles não parece servir. Nem Mota Pinto já os atura. Nem o Bacelar Gouveia, nem o Jorge Miranda, nenhum…a não ser aí uns imberbes que não deverão ter sido teus alunos e devem ter tirado o curso numa faculdade aí da esquina e estão dispostos a fazer o frete só para haver contraditório. Mais o Rangel.
Eles não são de fiar Marcelo e repara o à vontade com que dizem todas essas enormidades, a começar pelo teu chefe. Assim em público como se estivessem no recato familiar ou no segredo de uma reunião. Não, afirmam-no em público e de modo audível. Eu presumo que até coras, que te dá assim um frio na barriga e que as náuseas te obrigam a passar horas na casa de banho. Eu acredito que sim. É preciso ter estômago, na verdade.
Eles andam nervosos contigo e tu com um ar fechado e carregado. O Marcelo Comentador já era e que saudades tu já tens, não é. Tu que vinhas para unir os Portugueses, caramba! E querem que tu abandones esse louvável desiderato em nome de um simples capricho.
É que, repara, se tu cederes corres o risco de morrer duas vezes: como político e como académico! É dose e eu não quereria estar na tua pele: a de ser preso por ter cão e preso por não o ter. Triste sina, dirás tu, relembrando as outras vezes em que sonhaste ser político : numa apanhaste uma tareia e ias tendo um resfriado e na outra cedeste a uma mera “vichyssoise”, depois de te meteres com o Portas.
Mas tu não os conheces Marcelo? Tu não sabes que eles dão o coiso mais a coisa para ter o Poder? E a confiança deles Marcelo, eles que só valem 38%, que raciocinam como se mais ninguém houvesse, como se do outro lado não estivessem os restantes 51%, os tais de que tu precisas? Arrepia Marcelo, arrepia! Volta para Comentador, “man”. Ali tu estás nas tuas sete quintas, no de manhã bem e à tarde mal e de menhã mal e à tarde bem, no não se deve mas pode-se, no é proibido mas pode-se fazer, com a quele ar bonacheirão que tu mostras e na felicidade com que aconselhas livros e falas do Braga.
Olha para o teu fácies agora. Parece que envelheceste, “man”. Andas carrancudo, sisudo, alheio, sem alegria nem centelha. Arrepia, “man”, arrepia…