Nota prévia: Eu sei que este texto, escrito há já vários dias mas não publicado por causas que não veem à conta, tende a ficar fora de ordem, e muito bem posso acrescentar mas, mesmo assim publico-o, por já estar escrito e por corresponder a algo que sucedeu, que vem sucedendo e, por merecer análise tanto comportamental como sociopolítica, merece ainda algumas considerações. Assim sendo, aí vai:
Segui com alguma frequência o debate do programa do governo e, muito embora a Direita continue a insistir na tese da ilegitimidade deste governo, mantendo todos aqueles epítetos com que o tem brindado, desde ilegítimo a fraudulento, desde golpista a imoral etc. parece-me ver já um pouco o canto do cisne nessa argumentação visto que: por um lado toda essa conversa começa a cansar por incongruente pois, quer queiram quer não, tem que seguir todos os trâmites do debate parlamentar e, por outro lado, porque a generalidade dos comentadores já não estão para aí virados e começam já a criticar tal incompreensível postura.
Porque tal argumentação, desde início hiperbólica, se torna no momento actual completamente pífia, não interessa vir aqui novamente chamar à colação o exercício do desmembramento dos votos de cada partido da Coligação, agora em minoria no Parlamento, face às anteriores eleições, pois outra possibilidade não há para aferir da sua real representatividade no actual Parlamento, e se a sua representação ao nível de deputados eleitos condiz realmente com a sua valia em votos. É que eles são uma Coligação mas possuem dois grupos parlamentares autónomos e, por isso, sendo um só como Coligação, falam sempre a dobrar e existem em duplicidade. Para esse peditório eu já dei!
Mas daí resulta sempre uma inevitabilidade: É que se o CDS se arvorar em valer mais do que o que valer, valerá inevitavelmente o PSD menos. E vice-versa! E se seguíssemos a sua errada lógica seria questionável a sua legitimidade. Mas não o é porque resulta muito simplesmente das leis constitucionais em vigor.
É que a mim, nem a mim nem a ninguém penso eu, não me passa peça cabeça que os partidos da Coligação não tivessem previsto a hipótese de não repetirem a maioria absoluta que tinham, como aliás quase ninguém nem nenhuma sondagem o previa. E nem durante a campanha, ou fora dela, disseram ao eleitorado como governariam se tal sucedesse. É por todos sabido que quando confrontados com essa inevitável pergunta eles, Coligação e PS também, sempre fogem à questão e dizem com toda a possível firmeza que o seu único objectivo é a maioria absoluta e que não valerá a pena colocar outro cenário que não esse. Todos o sabemos mas sabemos também que nem sempre assim é.
O que podemos então concluir? Só podemos concluir que não havendo para a Coligação qualquer partido disponível para uma aliança, eles tinham por seguro que, face à prática anterior, seria sempre favas contadas o apoio do PS a um seu governo minoritário! Mas, no entanto, se formos ver o que Costa disse na campanha nada apontava para isso.
E, já agora: Alguma vez a Coligação afirmou ou insistiu que, se não obtivessem maioria, proporia uma aliança ou acordo com o PS? Não, só o fazia para questões que necessitassem dos dois terços como a Lei de Bases da Segurança Social e outras como a revisão da Constituição, por exemplo.
Em que ficamos, então? E alguma vez o PS disse ou admitiu que se não tivessem maioria absoluta aceitaria essa tal aliança para que pudessem formar o tal governo minoritário? Então, em que ficamos? Fraude? Aonde e de quem? A haver qualquer fraude quem a cometeu, afinal?
Mais ainda: Para que foram os dois partidos coligados a estas eleições, quando nas anteriores não foram? Foi para depois alargarem a coligação? A quem? Ao PS? Ou não foi simplesmente para tentarem continuar em maioria absoluta beneficiando das possibilidades que o método de Hondt traz na optimização em mandatos das forças mais alargadas?
Sejamos francos e honestos: O problema é que a Coligação sempre se convenceu que o PS lhe faria o “frete”, em troca de algumas medidas por ele reclamadas, e se manteria no poder em nome do “ superior interesse nacional”! Mas nunca pensou nem se dedicou a pensar que, à esquerda, eu e muitos eleitores como eu há muito desejamos o que veio a acontecer, e por isso desta vez votei em Costa, e nem a sua Exª que ainda habita em Belém o previu, ele que até dotes de adivinhação dizia ter.
Ele, sua Exª, até deve ter pensado nisso mas num plano diferente: o governo viveria em gestão à custa dos passados atropelos à esquerda e sobre a sua batuta e manto diáfano.
Mas o que aconteceu realmente para que todo este irredutível pensamento tivesse desmoronado? O que aconteceu é que eles não se deram ainda, nem se dão, conta do que fizeram nestes quatro anos e do facto de, como disse o recente empossado primeiro ministro da Canadá, estarmos em 2015!
E também não se aperceberam, nem muito menos quiseram perceber, que o PP em Espanha nas últimas eleições para as Autarquias e Governos Regionais, mesmo tendo ganho em quase todas ( tendo ficado à frente, melhor dito ), foi praticamente varrido do poder em todas elas. Como? Porque apesar de ter ganho era minoritário e ninguém aceitou fazer alianças com ele. Porquê? Porque não se perguntam? É que os “ radicais” são eles e então formaram-se governos através de alianças entre o PSOE, os Ciudadanos, o Podemos e partidos Autonómicos!
Governos ilegítimos? Imorais e fraudulentos? Não consta…