O “ Principezinho de alcova”!

O seu CDS ( ainda ) existe? Seu, sim, porque se tratando de uma sociedade unipessoal, assim é.

Mas, objectivamente, parece existir e até com alguma pujança na Assembleia da República, com uma negociada representação que ninguém sabe se corresponde à sua real implantação, visto há muito não ir a votos. Mas está profundamente espalhado e enraizado por toda a Administração Pública e por órgãos de poder intermédio, que lhe vão dando um “poder” absolutamente desproporcional àquilo que em votos e representação valerá.

Foram quatro anos de poder em que a sua sociedade unipessoal “a muleta” tudo muito bem negociou.  Para ” a muleta” tudo era negócio. O Ex Ministro da Economia Álvaro Santos Pereira explicou tudo muito bem num seu recente livro: Paulo Portas negociava qualquer medida a legislar em troca de lugares, disse ele. Nunca fez por menos. E mesmo quando sentiu que o caminho estava a ficar pejado de pedras ele não teve qualquer pingo de vergonha em fazer aquela cena da “irrevogabilidade”. Para ganhar mais poder, é bem claro. O chamado “core business”, como agora se diz.

A sua asistente Cristas, pensando certamente ter alguma coisa a ver com Cristo, e por isso lhe ser permitido levantar a crista, por ter no nome o plural de Cristo no feminino e por tão apegada a ele dizer ser e por tanto o citar, veio até depois dizer que foi um acto de grande inteligência política Paulo Portas desdizer-se e voltar com a palavra atrás…Assim como se nos estatutos da “muleta” tal estivesse previsto.

O seu “ poder “ não foi, portanto, construído com uma espada conquistadora tipo “ Star Wars “, mas com uma “muleta” mágica, a muleta da sem vergonhice e da chantagem  em que o PSD sempre se deixou embalar. Porquê eu não sei bem e talvez só o futuro o con siga decifrar. Mas talvez aquilo a que se costuma chamar o “ abraço do urso “ o possa explicar mais tarde porque, quer se queira quer não, a ambição desmedida acaba sempre por matar. É dos livros…

Mas o “ poder “ é um lenitivo muito forte e a adrenalina do seu corpo se alimenta. É como uma droga que transporta para o imediato mundos imaginários que depois não assegura.

E o que é que essa deriva alucinogénia de imediato trouxe? Uma bebedeira infindável de nomeações, as nomeações mais díspares, desde a Cristas para a Agricultura e Pescas com o competente pescado e repescado das suas gentes na larga rede, ao Mota Soares no Emprego e Segurança Social empregando nos lugares de topo, e após criterioso concurso, os seus, os melhores entre os melhores sem dúvida, mais a ASAE, o Turismo e tudo o resto.

Um rol infindável de nomeações de “técnicos” e de “técnicas”, todos com relevantes currículos para a sua idade e com salários assim a modo que obscenos. Desde secretárias a motoristas, de assistentes a assessores, desde adjuntos a impedidos, uns por terem carta e outros por boa carta terem, uns por terem bons bíceps e outros por quadratura larga, eles lá foram contratados. Os motoristas para levarem os “ pequenos sultões” ao SPA e as “pequenas imperatrizes” ao cabeleireiro ou a fazer as unhas. Umas, habituadas pelo ginasial Yoga a posturas curvadas ou horizontais, estão sempre prontas para qualquer pátria solicitude e outros, com carta na mão, a terem carta para tudo e em tudo darem cartas.

“Técnicos” e “Técnicas” que lemos chegarem a auferir o dobro que um técnico à séria aufere.  Coisas de um País transformado num “ sultanato” e pretendendo tornar-se um País chefiado por um “ principezinho de alcova”.

É este o País que esse “principezinho de alvova” quer deixar e nos deixa, um País capturado por um bando de “nenúfares” saltitando alegres no seu encantado mundo, num mundo cheio de plumas, de brilhantes e de pernas rapadas, de peitos depilados ao léu e sombreros a condizer, numa permanente festa, uma festa sem fim como se a vida só isso fosse e o mundo apenas a eles pertencesse. Como que o seu dono, o “principezinho de alcova”, de tudo continuasse a tratar, indestrutível como um ”Super Herói “, até  que algum dia alguém dele trate! No fundo um filme já mais que visto…

Mas não, o seu poder não tem tradução popular. É um poder de espertezas construído e por isso a sua acrimónia. É que tradicionalmente os partidos que estão intrinsecamente ligados à raiz popular, bem ou mal, têm disso reflexo na sua representação autárquica. Possuem bases mais ou menos estáveis, activas e cooperantes no terreno ao nível do poder local, actuando no concreto do dia a dia, numa actividade corrente e diária em prol dos seus iguais e tudo isso depois se plasma na conquista de Autarquias e de mandatos autárquicos. Esse poder de base que é visível e é permanentemente escrutinado.

E este é o caso de outros partidos como o PSD, o PS e o PCP. Mas não é o caso do CDS, como também não é o caso do BE, embora por razões políticas e sociológicas diferentes mas que, no meu entender, entroncam em algo de origem simétrica mas semelhante: representam ambos estratos sociais de algum elitismo. De um lado o CDS por um legado conservador e de várias posses e arbítrios acostumado e, do outro lado, o BE por um legado diferenciador, por ter origens na extrema esquerda e por ter causas fracturantes  e por ter nas suas bases não proprietários e terra tenentes mas jovens esclarecidos, de definição progressista, mas com actuação bem vincada ao nível das lutas.

O CDS não é um partido de base popular e autárquica porque do Povo é distante e representa mesmo a sua antítese. E sendo do Povo distante, dele e das suas causas e lutas, o seu objectivo é transpor para a representatividade política e do poder esses tais “poderes” mais altos, aonde não se chega com trabalho mas por nomeação directa e classista. Que dispensa eleições, eleições que, no limite, só necessárias são quando elas sirvam para esses “ poderes “ legitimar.

Mas agora está na oposição. E sendo estar na oposição o contrário de estar no poder, como irá agora o “ principezinho de alcova”, essa vírgula caprichosa de lugares comuns habitada, alimentar a voracidade das suas crias? Eu ainda não falei do PSD mas será que o tal “ abraço de urso “ não vai começando a ser dado, suavemente e com carícias agora dos pêlos sedosos dos seus braços, com impaciência e mais ousada força depois e, finalmente, com toda a irredutível capacidade daqueles sufocantes apêndices?

É por muitos tido como dos piores dos fins. Mas, mesmo não sendo esse “abraço” definitivo, será que ainda sobrevirá depois, depois de desmantelada a sua usurpação de todos esses “poderes”, ou ir-se-á acantonar numa extrema direita qualquer, populista e cascavel como todas elas, e defender todos aqueles ideais abjectos que nunca deixaram de ser os seus?

O CDS/PP (ainda) existe?

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