Nota Prévia : Eu não percebo rigorosamente nada de políticas educativas e a única coisa que sei é aquilo que dizia à minha esposa, que era Professora do Ensino Básico e que durante anos e anos leccionou a primeira classe : “Porra” mulher, prefiro trabalhar o dobro das horas que tu trabalhas a ser Professor!
Não é grande a minha sabedoria, portanto, mas durante os trinta e dois anos que ela leccionou aprendi dela uma coisa muito simples: ela incluía enquanto grande parte dos/das seus/suas colegas excluía. Aprendi que ela se focava no ensino e na integração. E tratava todos por igual. E que assim tinha sucesso.
Quando casamos e ela veio de Paredes de Coura para Fão (1977 ) ainda vigorava o velho sistema: as Professoras mais antigas escolhiam as melhores turmas e as novatas/novatos ficavam com a “ralé”: os mais pobres e excluídos e os filhos dos pescadores que com essa política de exclusão tinham uma relação ambígua com a Escola e eram tido por inadaptados, mal educados, desordeiros e tudo o mais…
E foi-lhe atribuída uma dessas turmas: a turma da “escumalha”, de alunos que faltavam mais do que frequentavam e cujo aproveitamento era, por isso, muito insatisfatório. Ela chamou o Inspector Escolar e, mostrando-lhe a realidade, disse-lhe: Eu vou fazer destes alunos gente e agradeço que no fim do ano os venha avaliar. E assim foi! No fim do ano o Inspector lá foi e viu o que naquela Escola nunca se tinha visto: uma mudança radical no comportamento dos alunos e um grau de satisfação de aprendizagem nunca até aí atingido.
Qual foi o segredo? Muito simples: Tratamento de todos por igual, uma relação de proximidade e compreensão com todos eles, a integração progressiva dos pais no acompanhamento, o agradecimento dos mesmos por notarem uma revolução positiva nos seus comportamentos, o progressivo interesse pela Escola e pela aprendizagem e uma conclusão clara: a de que se integrarmos e valorizarmos as pessoas, sejam elas quem forem, e se elas se sentirem motivadas e não amedrontadas, o caminho para a integração na normalidade é um sucesso.
Mas a minha esposa, honra lhe seja feita, foi sempre assim por onde passou. Ligava mais à responsabilidade de educar e ensinar do que àquelas reuniões sem fim onde se discutia a regulamentação em catadupa que chagava, de como ensinar, de como fazer aprender, de como ser didáctico etc. etc. etc. uma regulação tão profunda e espessa que mesmo sabida e compreendida esbarrava sempre no essencial: na Pessoa que ensina e educa.
Isto que escrevo é uma homenagem à minha esposa Professora exemplar mas não única. Havia e há muitos/muitas como ela. Mas há coisas que fazem a diferença e essa diferença tem um nome: Espírito de Missão! Já aqui na Póvoa, em Terroso onde leccionou durante quase vinte anos, acolhia sempre os alunos que as outras/ outros não queriam : alunos com dificuldades, de famílias desadaptadas, ciganos e mesmo o lúmpen do lúmpen. Abraçava-os, beijava-os, dava-lhas colo e algumas colegas novas, assim umas “piriquitetes” de unhas coiso, assim gente “bem” percebem?, que nem no giz conseguiam pegar, perguntavam-lhe: Graciete, não sei como consegues!
Mas ela conseguia e fazia. Era Professora, Educadora, Mãe, Enfermeira, Assistente Social, tudo! Uma aluna mostrava renitência em ir para a escola pois se achava diminuída, vinha de um ambiente básico e a mãe também não sabia ler nem escrever. O que é que a Graciete fez? Convidou a mãe a vir também para a Escola, sentar-se no fundo e aprender também. Aprenderam mãe e filha. As suas vidas mudaram!
Eu não ia escrever nada disto e ia até passar para o computador um texto já escrito e cujo título é “ ESTUDAR PARA OS EXAMES”, fazendo contraponto com a polémica à volta das mudanças da avaliação, e não só , introduzidas pelo TIAGO ( é assim que o trata quem o conhece) e que visam recolocar o Ensino no seu tempo e não no tempo de antigamente, para onde o anterior ministro o quis levar. Talvez o publique depois…
Mas quando escrevi a nota prévia fui sendo levado pela emoção e acabei, mudando inclusive o título, com o exemplo da Professora Graciete minha esposa, por chegar ao ponto que eu queria e que é dizer que a Escola tem que ser inclusiva e não exclusiva, que sendo Pública deve ser direccionada para todos e não para elites, que a aprendizagem deve ser contínua e feita de muitos saberes, que deve na sua globalidade preparar os alunos para a Vida, que deve ser agregadora e participativa. E muito mais!
Quero mandar daqui um abraço para o TIAGO ( Tiago Brandão Rodrigues ) pela sua coragem, pela sua entrega à mudança e por ter tido a lucidez, a vontade e a força de recolocar a Escola Pública no seu devido caminho. Bravo TIAGO!
É que o TIAGO, como ele afirmou, “Votou para Voltar” e todos nós votámos para que ele voltasse!
Voltou e ainda bem!