Um amigo meu que honrosamente ostenta o sobrenome de Silva e que, por isso mesmo, votou ontem num “Silva”, disse-me do seu desencanto e desilusão perante o comportamento dos Portugueses pois, sabendo ele ser o sobrenome “Silva” maioritário na população portuguesa e havendo uma maioria de Silvas no cardápio de votação, não entendia a tão parca votação dos Portugueses nos Silvas.
Eu de imediato lhe disse que numa coisa ele tinha razão pois está mais que provado ser o “Silva” o sobrenome mais comum nas Famílias Portuguesas. Dizem até que nas Galegas mas isso custa-me a acreditar. Silva é português e ponto!
E por esse facto os “Silvas” estejam tão presentes no nosso quotidiano a ponto de, e “pour cause”, termos tido um Silva como presidente durante dez anos. E essa é que é essa!
Dizia-me ele, talvez imbuído dessa constatativa consciência que, quando ontem foi votar, não deixou de constatar que no boletim de voto havia dois “Silvas” entre os dez nomes à compita. E ele, como bom Português, respeitante das maiorias e das suas tradições, viu a sua caneta, impulsionada pela mão, que directamente estava ligada ao braço e este conectado com o subconsciente, colocar a cruzinha num “Silva”.
Mas depois, vendo os resultados e a parca percentagem de votos obtida pelos “Silvas”, deu por si a pensar o quanto é injusto o Povo Português pois este, na verdade, foi votar na sua maioria num Sousa.
Sobrenome respeitável com certeza, mas que não é, nem de longe nem de perto, representativo da grande maioria dos Portugueses. Assim como não é o sobrenome deste que escreve, Abreu, que por alguma razão não aparece em nenhum boletim de voto. Não era, portanto, preciso ter muito poder de observação para constatar a maioria de “Silvas “no dito boletim e ajuizar do seu significado. Daí a amargura do meu amigo.
A sua quase revolta contra esse desinteresse cultural e identitário de um Povo, desinteresse esse afagado por pessoas como ele que, atentos e conscientes, não deixam nunca de assumir as suas responsabilidades, só pode ter como causa recente o facto de um dos seus, um “Silva” como ele, não ter sabido ocupar o seu lugar enquanto representante dos “Silvas” e essa próxima razão só pode vir do facto de ele, além de “Silva”, usar outro sobrenome: o de Cavaco!
E daí resulta que Cavaco causou danos irreversíveis aos “Silvas “. Quando recuperarão eles o seu elã, o seu fulgor e a sua importante representatividade? Daí que o Edgar e o Vitorino bem podem agradecer ao Cavaco os seus medíocres resultados. Resultados esses que, mesmo assim, o Edgar reconhece terem ficado aquém das expectativas, mas o Vitorino afirma terem sido gloriosos.
Correcto, dir-me-ão, pois há Silvas e Silvas e cada “Silva “é avaliado enquanto tal, mas por critérios distintos. Mas eu não concordo e pensando que mesmo sendo cada Silva um Silva em sua plena dignidade, entendo ser esta discrepância uma falta de noção do que é ser “Silva “, e só concorrer para o desprestígio dos Silvas.
E foi com este sentimento que o meu amigo foi votar e não foi votar numa qualquer “menina engraçada “, como efabulou o Jerónimo, admitindo que teria sido mais eficaz ter levado à votação uma “Silva” em vez de um “Silva”, por muito que o seu “Silva” viesse lá da terra da “Laurissilva”!
Eu não esperava isto do Jerónimo e, conscientemente ou não, e afirmam a pés juntos que não, ele prestou um mau serviço aos “Silvas” e isso tem que ser levado em consideração. Um pedido de desculpas formal e publico é o que se exige e será o que de mais decente o Jerónimo pode fazer e lembrar-se que, quando decidiu avançar com um “Silva “, não poderia nunca deixar de saber o que isso representava para os “Silvas “, pese embora o desclassificado Silva, o outro.
Eu não sei se ele pensou ou não pensou nestes considerandos, mas, se não pensou, deveria ter pensado e não podia cair na tentação do arrependimento, arrependimento de hostilidade aos “Silvas “, há que dizê-lo, quando admitiu que “qualquer menina engraçada” faria melhor que um “Silva”.
De modo que, concluindo, o sobrenome “Silva “foi o grande derrotado da noite pois o seu sobrenome estava em maioria e a desilusão do meu amigo advém do facto de, mesmo tendo votado num “Silva”, nem isso ter obstado ao seu fracasso.
Aconselhei, como amigo, o meu amigo a esquecer o “Silva “do antes e projectar o “Silva “do depois. E aguentar o Sousa, já agora.
Mesmo que, para seu descanso e resignação, possa concluir que o “Silva “do antes representava mais os Cavacos, pois nenhum Silva merecia nunca tal Cavaco!