SENSIBILIDADE e BOM SENSO.

Hoje de manhã ao sair de casa e ouvindo notícias várias sobre a actualidade, nomeadamente as negociações que decorrem com Bruxelas quanto às linhas gerais de esboço de orçamento apresentado pelo nosso Governo, assaltaram-me estas duas palavras e desde logo, apelando àquela resistente memória que o tempo não dilui, constatei tratar-se de algo que eu conhecia.

E, na verdade, elas levaram-me de imediato para o famoso livro de Jane Austen, publicado nos inícios do século XIX e que, para além de diversas séries televisivas, foi também adaptado para cinema por Ang Lee em 1995, onde a autora, através de um quadro de relações amorosas familiares complexas, tenta demonstrar que a sensibilidade emocional e o bom senso da razão devem suster um estável equilíbrio que conduza à felicidade.

Ora, como disse, ouvindo a rádio, ouvindo a televisão e lendo tudo o que possa ler, vendo-me enredado num atropelo de informação e desinformação que só me pode tentar confundir, manter-me no imobilismo e na sensação de impotência, vi-me assaltado por estas duas palavras e achei-as de veras apropriadas para exprimir o que deve ser e tenho a certeza que está a ser o comportamento dos actuais governantes portugueses.

Pois, neste momento, trata-se mesmo disso: de não perder o equilíbrio entre a sensibilidade e o bom senso. Não colocar, por um lado, de lado a matriz política deste governo e que sustenta a sua estabilidade parlamentar (a reposição de rendimentos e alívio da carga fiscal aos trabalhadores) e a sensibilidade social inerente e, por outro lado, procurar esse balanço inevitável com Bruxelas (o cumprimento de metas assumidas por tratados) e com os credores internacionais diversos que estes representam.

“Seus representantes”, disse eu, e é isso precisamente o que todos aqueles burocratas que por lá deambulam e peroram são: representantes dos credores, desses ocultos deuses que financiam os países, de acordo com regras que lhes são impostas e exigidas, a todos, mas só por alguns cumpridas.

E nesses alguns está Portugal, como antes esteve a Grécia e como amanhã vai estrar a Espanha e talvez mesmo a Itália. Mas onde não está a França que tem reiteradamente défices excessivos e a Alemanha. A primeira diz que não vai cumprir coisíssima nenhuma e com esta coisa do “terrorismo” muito menos. A Alemanha nunca cumpre pois tem permanentes e sucessivos “superavits”. E depois os “migrantes”: todos reclamam ajudas e mais ajudas, mas quem apanha com aquela leva toda é a desgraçada da Grécia. Depois quem saca (rouba) os seus haveres são os países que a conta gotas os vão acolhendo. Entretanto, pelo caminho, vão “desaparecendo” crianças e dizem que aos milhares. Que é natural, dizem os especialistas. Que os números e estatísticas o indicam…desgraçados especialistas…

Neste esforço contra ventos e marés, mais os comentadores e o Rangel, o Governo que eu ajudei a eleger continua a ter o meu apoio. Desde já na procura de uma consolidação orçamental mais lenta, que permita o referido alívio das classes mais baixas, mas que é difícil de conseguir. Logo na devolução de alguns salários e pensões que permitam esse alívio e favoreçam a criação de oferta na Economia e traga um pouco mais de justiça social, o que também não é fácil.

Mas eu estou plenamente convicto de que tem havido por parte de António Costa e do seu “staff” esses necessários “sensibilidade e bom senso”. E tem sabido modelar. As medidas têm vindo a ser modeladas e isso é bem visível.

Como visível tem vindo a ser também a progressiva percepção disso mesmo por parte dos Partidos da Oposição, um a recentrar-se, o outro a aguentar-se e o Assis ( Assisismo para nome de Partido não vos faz lembrar nada?) a endireitar-se, que também têm vindo a modelar (digamos antes “moderar”) os seus comentários, talvez sucumbidos à habilidade negocial de António Costa. E a componente política passou a sobrepor-se à técnica pois esta começou a mostrar-se, para eles, um caminho demasiado lamacento e propício a afundanços! É, portanto, a questão política que agora sobre vale : bater ou não o pé a Bruxelas, insistir no cumprimento das promessas feitas e cumprimento do acordo parlamentar assegurado, dando como seguro o cumprimento das metas dos défices, tanto orçamental como estrutural. E manter a meta do crescimento anunciado, claro.

Mas eles não acreditam e dizem que é apenas uma questão de fé. Eles que nunca nisso sequer pensaram. Como no tal défice estrutural e coisas tais. Mandavam para lá umas medidas e mentiam dizendo que eram definitivas quando não passavam de temporárias. E o “cego” via e fazia que não via. Porque era “o bom aluno”, como ontem afirmava Braga de Macedo, à falta de outra argumentação.

Mas agora tudo gira à volta do tal défice estrutural. Mas o que é o “Défice Estrutural”, afinal, a qual a sua importância? Nunca ninguém soube, mas agora todo o mundo sabe. Ou fala como se soubesse! Ora a grande verdade é que ele é algo de indefinível, não palpável e de impossível medição que se apresenta como dado essencial! Mas esse essencial passará sempre por saber qual seria o nosso PIB máximo, PIB esse que se encontraria se todas as nossas capacidades produtivas estivessem no seu máximo, se houvesse pleno emprego, a capacidade turística a 100%, a comercial idem…. Alguém consegue, no seu perfeito juízo, definir um número? Pois a diferença entre esse PIB máximo e o concreto é que é o tão famoso “Défice Estrutural”. Pode ter muita importância, mas…como se avalia?

Mas também aí já meteram a viola no saco e o meu telemóvel avisa-me neste momento que os “ Técnicos” da Comissão Europeia já terão dado luz ao projecto de orçamento e que o tal Défice Estrutural “cairá” 0,4%. Cairá? É só uma questão de fé, agora digo eu!

A vitória é indiscutivelmente de António Costa, mas no final, todos se vão anunciar vencedores. Porque bem avisaram uns. Porque sempre estiveram de boa fé outros. E os outros? Os outros? Esses nem sequer falaram… Ou falaram e ninguém os ouviu?

Haja “ sensibilidade e bom senso”…sempre!

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