À medida que a nossa idade avança todos nós temos a tendência para ficar mais piegas, em emocionarmos-nos com mais facilidade e mesmo a não controlarmos aquela furtiva lágrima a que a emoção nos conduz.
É natural e é sinal de que vamos ficando mais sensíveis e mais disponíveis para verificarmos em qualquer coisa que vemos, que ouvimos ou que lemos, algo em que identificamos aquilo que gostamos ou gostávamos que fosse o normal e que fosse de encontro aos princípios que adoptamos e que nos regem.
Eu não fujo à regra e ontem vi-me incontornavelmente emocionado quando li, em rodapé de uma TV, esse expoente máximo do nacionalismo pátrio, esse refúgio da famosa ética portuguesa, esse político que antes quebrar que torcer e que nunca recua nem volta com a palavra atrás, a irrevogabilidade assumida, o “globetrotter” da nossa expansão económica e mundial e esse autêntico “guru” da infalibilidade chamado Paulo Sacadura Cabral, que também usa o sobrenome de Portas, dizer que tinha ido a correr a Bruxelas falar com o seu “ MEIN FREUND”, que é como se diz em alemão “ MON AMI”, para pedir ao Presidente da Comissão, o Sr. Esquentador, que “fosse tolerante com Portugal”!
Como não ficar emocionado com tanto altruísmo e fervor pátrio, como não ficar? Só quem seja mesmo insensível e já não sinta amor à sua Pátria. Como ele tem e à saciedade aqui provou.
Eu sei e todos sabemos que ele tem aqueles “rabos de palha” todos, aquelas “chatices” dos submarinos, dos sobreiros, do desaparecimento em série de documentos e petições, enfim…Todas aquelas situações em que ele está e depois não está, mas onde continua a estar, mas temos que admitir ser verdade a sua arte de ilusionista. No meio de tanta penumbra convenhamos que ele é um resistente e por isso esteve 16 anos à frente do CDS e uns tantos no governo da nação. Onde fez tudo e de tudo. Onde disse, desdisse e depois disse e sempre com a mesma cara de pau que se lhe reconhece.
Não podemos, pois, desvalorizar a sua visita de cortesia, onde ele foi, para além de outras coisas certamente, pedir clemência e complacência da Comissão para com Portugal. Não para o novo Governo Português, obviamente, mas para Portugal. E não em nome do seu Partido ou da Cristas, que alheia a este esforço de recentramento em curso, continua a dizer que esse Orçamento em negociação era “uma manta de retalhos”, uma “ficção” e uma autêntica “Ópera”, talvez referindo-se ao dramatismo que lhe incutiram, e mesmo um “Toma Lá-Dá Cá”, secundando aqui o PSD. Não, ele foi em nome próprio falar com o seu “MEIN FREUND”, que em Francês é “MON AMI” e em Português um simples “Bom Amigo”. Sem aquela carga e importância de um “MEIN FREUND” e nunca a de um “MON AMI”.
Mas por falar em “Toma Lá-Dá Cá”, que eles acusam ser este orçamento da “geringonça”, abro aqui um parêntesis para dizer que nem sabem do que falam. Sabem lá eles o que é um “Toma Lá-Dá Cá”! O que é uma estrada com dois sentidos! É que eles, como se verificou no anterior governo só conhecem o “Dá Cá”! O “Toma-Lá” só se for para fazer aquele célebre gesto do boneco do Bordalo. Dirigido ao Povo, claro está!
Mas ele foi e esse nobre gesto, juntando o facto de ter deixado de ser dinossauro por ter abandonado, ao fim de 16 anos, o poder ou os poderes, só lhe pode vir a merecer uma condecoração. Só pode vir a ser agraciado no próximo, já no próximo porque depois pode ser tarde pois nunca se sabe o que ele poderá aprontar, 10 de Junho com uma comenda qualquer. O Marcelo saberá qual mas, suspeito eu, pelos seus feitos de conquistador deverá estar-lhe reservada uma Torre e Espada. Estarei enganado?
Pois pois, eu divaguei porque isto foi o que transpareceu mas, diz-se nos “mentideros”, não foi nada disso o que aconteceu. Que o Sr. Esquentador, o presidente da Comissão, o sucessor do Barroso para que percebam, já trémulo de raiva e com o aquecimento na sua potência máxima, o terá chamado para ver se colocava na ordem aqueles seus dois afilhados que no Parlamento Europeu já ninguém aturava pois estavam constante e reiteradamente a denegrir a sua formosa Pátria. E que não podia ser pois só sabiam falar de “trincalhices”, como bem referiu o Tino com todo o seu tino.
E que o Passos imbuído no seu recentramento já não o atendia e que só ele o poderia fazer. Mas o nosso astuto diplomata disse que seu afilhado só era um e até que era pacato, tinha a mania de falar e falar mas que aquilo resumido nem sumo dava nada e que, quanto ao outro, não se podia responsabilizar. Que aquilo já era defeito de fabrico. Disse ele ocultando o facto de ter sido digamos que encaixado na mesma linha de montagem…
Então o seu “MEIN FREUND”, o Sr. Esquentamento, depois daquela sua intervenção em que os apelidou de “primitivos” (eu teria ficado cego, e com toda a veemência acompanhada de uma carga de pérolas do nosso vernáculo cancioneiro, ter-lhe-ia de imediato devolvido a afronta), parece que lhe terá dito: Vai, vai em paz e conta com a minha amizade para o sucesso dessas empresas todas que dizes que vais formar. O teu empreendedorismo será compensado e ainda lá tenho um cantinho naquele escritório onde estão sediadas aquelas multinacionais todas, naquela avenida única do Luxemburgo, para lá sediares as tuas. Conta comigo, conta comigo sempre, mas não digas ao que vieste. Diz que no estrangeiro nunca falas de Portugal, que só vieste apresentar cumprimentos de despedidas e só por isso, mas só por isso, tiveste esse vislumbre de patriotismo ao pedir compreensão e clemência para a tua Pátria.
Mas foi bonito! E foi aí que me assaltou a emoção e até chorei…