VAMOS AJUDÁ-LOS… ou o Público ou Privado?

Perto de Mil Milhões de prejuízo foi quanto o Novo Banco (o lado Bom do BES, para que não esqueçam) apresentou referente ao exercício de 2015. E vai daí o Governador do Banco de Portugal, que tem a obrigação endereçada pelo anterior governo, com legislação aprovada numa madrugada e tudo, de preparar a venda do Banco, muito embora diga que a nada é obrigado e tanto fale do que faz sem verdadeiramente nos dizer o que realmente faz e quais as responsabilidades que tem, de imediato veio elogiar a gestão de Stock da Cunha.

Mas veio elogiar a gestão do dito pelos resultados? Claro que não, nem podia. Foi pelo que o citado anunciou: 500 trabalhadores já para a rua e com uma extensão a mais 500. Mil, portanto.

Ora este elogio, que nem me atrevo a qualificar, feito com tanta naturalidade ou banalidade, porque normal ou banal passou a ser o despedir, faz-nos pensar o quanto do anormal passou a ser normal. Despedir trabalhadores passou da anormalidade à normalidade e agora ao elogio até. Daí que eu possa até suspeitar de que poderá haver uma causa efeito nisto tudo: os prejuízos apresentados justificam os despedimentos e os trabalhadores a mais, excedentários e inúteis, são a razão dos prejuízos. Daí o despedimento colectivo. Estão a ver?

A verdade é que esta questão nunca constou dos nossos cânones e havia um especial decoro adquirido no que respeita a esta matéria, em toda e qualquer empresa. Despedir assim era uma anormalidade. Mas estes gestores de fina estirpe, mais os governantes que tivemos nos pretéritos anos e seus mandantes na Europa e no Mundo, de isso se encarregaram e de fazer doutrina também.

Só conhecem este tipo de gestão e para eles é a única possível. Daí que há dias, na quadratura do Círculo, António Lobo Xavier, que fez questão de afirmar que também era banqueiro pois pertencia ao conselho de administração de um determinado banco, perguntado da viabilidade do Novo Banco passar para a administração do Estado, dono maior do seu capital, ele disse logo terminantemente que não: Impossível, disse ele. Bruxelas, face à lei bancária existente, não o permite e pronto! O que quer dizer, e ele disse-o, que com os nossos impostos teremos que os limpar (capitalizar, leia-se) para depois, limpos e sólidos, os entregarmos ao sector Privado! Porquê? Porque os bancos são essenciais para a nossa economia e que só entregues ao sector privado eles podem cumprir essa especial função.

Para termos os tais bancos, a quem confiamos as nossas economias que eles distribuem pela economia, eles terão que ser privados e dirigidos por gestores privados e nós teremos que os socorrer sempre que, sendo mal geridos, sejam levados aos prejuízos. Não interessa o que façam com o dinheiro que lhes é confiado, não interessa que joguem em mercados especulativos, em mercados de futuros de retorno incerto, em posições bolsistas de lucro duvidoso ou em sectores (como o imobiliário) de estabilidade precária. Não interessa, isso não interessa nada e de tudo isso o regulador lava as mãos. E lava-as porque sabe qual é o desígnio e quais são as orientações: No final os Bancos nacionais serem “limpos” com o dinheiro dos seus povos e depois serem entregues de mão beijada a meia dúzia de grandes bancos internacionais. Já ouviram falar?

Daí que quando alguém diz essa verdade cristalina que é “osse somos nós que pagam, então porque não é nosso?”, seja de imediato apelidado de irresponsável e lunático. E porquê? Pela mesma razão de sempre: os mercados inquietam-se, a nossa credibilidade no exterior fica em causa e não podemos ir contra o que está estabelecido pois podemos sofrer as consequências. Sermos chamados a pagar sempre que houver problemas na Banca, e há imensos problemas na Banca, é a nossa sina. Tal como cantava o Zeca Afonso “…aquilo ali era uma orquestra e quem diz o contrário é tolo…”.

E a linguagem que aplicam também é aviltantemente esclarecedora: É o “sermos chamados a pagar.”. Como fomos durante o resgate e eles dizem que de forma estoica e que basta ver os resultados. Grandes progressos como diz o Schauble, o Coelho e outros que tais…

“Há uma certa tristeza nisto tudo, mas as coisas são como são”, escrevia de forma superior Pacheco Pereira esta semana no jornal “Público”.

As coisas são como são! E como as coisas são como são e porque “somos chamados a ajudar”, vamos lá então ajudar a Banca Privada, Deus meu! Ela é que tem os bons gestores, muito melhores que os do público, que também passam a privados quando deixam de ser do público e vice-versa. Eles são apenas maus quando estão no público e passam logo a bons quando saltam para os privados. Eles são ao mesmo tempo bons e maus dependendo haver ou não o “suplemento” …o Prémio!

Quando não há distribuição de lucros e não há, portanto, prémios, eles passam a maus e precisam da nossa ajuda e vamos ter que os ajudar para eles poderem aceder a esse “suplemento” sem o qual não passam a bons. Simples…

Vejam o Stock, o da Cunha, que bom que ele era. Ele vinha lá da City Londrina. Mau era o Bento que esse estava aqui pela nossa e terá sugerido a hipótese de ele se manter público. O Stock, esse sim, apareceu para o salvar, para o limpar, para o domesticar, para o organizar e para dizer como se fazia a esses gestores que por lá andavam ( pelo Novo Banco, o Banco apelidado de bom!) e que, por terem passado a públicos passaram a ser maus e a não saberem administrar. Ele, ele sim, vinha racionalizar e catapultar a venda e, já desesperado com a falta do “suplemento” prometido, anunciou mil compradores, era só escolher. Afinal…afinal foram mil milhões de prejuízos e a venda foi vê-la por um canudo.

Vamos então ajudá-lo. Afinal as coisas são como são. Vamos ajudá-lo a ser bom, a voltar a ser bom. É que eles, é sabido, quando chegam ao público perdem capacidades. Basta que o Banco não seja público. Eles com o “suplemento”, qual “Super Homem” que sem a “kiptronite” não é nada, eles passam logo a ser bons. As coisas são como são, não são?

Por isso, e resumindo, sendo “chamados a ajudar” vamos então ajudar porque não funcionando eles, os gestores sem o seu “suplemento”, não teremos a nossa querida e estimada Banca Privada, essa preciosa Banca Privada sem a qual não conseguiremos viver. Há que “motivá-los” então, senão…

Irão mil trabalhadores para a rua? É, também eles são “chamados a ajudar”. Toca a todos! É uma tristeza, mas as coisas são como são, não são? É que é a nossa imagem, a nossa reputação no exterior que está em causa, não percebem?

É assim que tem que ser e “quem disser o contrário é tolo”, já cantava o Zeca…

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