Antes de mais “O MEU BRASIL” é o Brasil que me habituei a conhecer, desde muito novo, através dos seus escritores, nomeadamente JORGE AMADO! Eu sabia que meu avô e meus tios tinham demandado ao Brasil, ali pelos sessentas, à procura de vida melhor e seguindo, por certo e como é hábito, outros familiares e conhecidos que os mesmo fizeram e que das suas experiências não devolveram más notícias.
Num País acossado pela ditadura e pela descrença abria-se assim uma janela de esperança: a emigração! Emigração que, ao mesmo tempo e aceitando os apelos do regime, se dirigia também para a províncias ultramarinas, Angola e Moçambique como preferência. Mas antes tanto Uruguai, como a Argentina e depois o Brasil foram destinos privilegiados e não deverá haver família para os meus lados que se honre que não tenha família espalhada para essas bandas.
Mas, por mais respeito que me mereçam o meu avô António Vassalo, como os meus tios Manuel e Avelino, não foi o Brasil para onde foram levados e onde foram obrigados a fazer pela vida que me ensinaram e aprendi a gostar. Foi outro Brasil: O Brasil dos deserdados, dos sem terra, dos do desenrasca, dos sem quaisquer direitos, dos da selva e sem ninguém, dos que eram obrigados a matar para sobreviver, mas matar sempre a mando do rico, dos poderosos e donos das terras, dos pescadores sem barcos, dos bêbados, das crianças abandonadas, das meretrizes, dos heróis sem nome, que Jorge Amado tão bem descreveu e de quem eu li todos os livros…mas também dos coronéis, da sua grandeza e da sua impiedade, do seu temor a Deus e do seu contínuo pecado, do atropelo às leis e à inexistência das mesmas….
Tudo isso eu aprendi com Jorge Amado ainda no anterior regime e isso foi fundamental para a minha aprendizagem e consciência.
De modo que esta dialética entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o com acesso a tudo e o com acesso a coisa alguma, o com lei para se defender e o outro com lei nenhuma, o que vive para ganhar e o outro para sobreviver, o que tem direito à cama e o outro ao solo para dormir, o que manda matar e o outro que mata a mando, o sem esperança e o outro com todo o poder, o que não pode dizer não e o outro que não deixa falar, o que tem terras sem fim e o outro que nem um bocado tem…me levou a escolher um lado, o óbvio: o dos que nada têm!
Isso eu aprendi com Jorge Amado! E aprendi que para se ser digno é preciso ser forte! E desde os seus “Capitães da Areia”, a “Zumbi dos Palmares”, a “Teresa Batista”, a “ Jubiabá” e ao “ Cavaleiro da Esperança” e a tantos outros, eu aprendi que o mundo, quer se queira quer não é dicotómico e havendo poderosos por certo que haverá os fracos que fazem da vida e da sobrevivência um acto heroico. Convivendo sim, sem dúvida, mas com vidas diametralmente opostas. E de um lado eu tinha que estar…
Mas não me esqueço de muitos heróis, muitos heróis desconhecidos, que nem eu conheço, e de muitos que eu conheço e deixaram lastro. E vou falar de um. De um insuspeito, rico e de boa família, mas que nunca se esqueceu qual era a sua obrigação e o seu desígnio: O Grande Arquitecto, ÓSCAR NIEMAYER! Era o arquitecto burguês que, nos Subterrâneos da Liberdade, e na vida real, acolhia os que na clandestinidade lutavam por um País mais igual. E que nunca teve medo. Ele que, a pedido de Juscelino Kubischek, desenhou a cidade do futuro, Brasília!
Depois veio a ditadura, e veio com pressupostos idênticos aos de hoje. E eu pergunto: como é possível? Como é possível que hoje, em nome de um poder que já há uns anos largos não se tem, um grupo de corruptos declarados e confessos pretenda arrear do poder uma mulher, a mulher que mais combateu a corrupção, essa corrupção que eles ostentam na lapela?
Não dá para entender! Como não dá para entender que, tendo supostamente Lula da Silva caído em qualquer acto menos próprio, isso seja inibidor de considerar ter sido sob o seu governo que as assimetrias tanto tenham diminuído!
A ponto de eu considerar, como muitos infelizmente já consideram, que no Brasil, como noutros cantos do mundo, o que eles não aceitem nem querem, é que pobre possa estudar, frequentar faculdade, ter acesso a bens que supostamente são só de alguns, tenham bolsa básica e possam, algum dia ser como eles. Isso não, isso tem que estar vedado….
E dizem-se cristãos, vão à missa, comungam e dizem amém…
Para quê? Para redimir seus pecados e voltarem a pecar? Assim, sucessivamente….?
Eu estou do lado onde sempre estive: Do lado onde o meu Pai me disse para estar!Ele que tendo estado onde esteve, via os seus colegas enriquecerem….mas ele não! E não por falta de princípios!Dele, que seguia a doutrina de Cristo com rigor! Que orgulho, meu Deus!
Finalmente: Povo Brasileiro, Tios e Primas, o País é Vosso e de algum modo também meu. Não digo que sigam o que eu escrevi, mas ao menos….pensem bem!