O meu último fim de semana foi passado numa pachorrenta clausura, emparedado entre as obrigações e cuidados domiciliários e a lenta sucessão das horas. Mas também pela liberdade que tal clausura proporciona, livre assim de quaisquer outros compromissos, tive a oportunidade de, entre verdadeiros hinos à preguiça, assistir a dois ou três eventos desportivos que muito aprecio e ainda, quando as TV´s se lembravam, ao Congresso do PS.
E o primeiro grande evento no começo da tarde de sábado, ainda os comensais do PS não tinham voltado dos variados locais onde foram almoçar, mas já os apresentadores das TV´s iam exibindo o seu estado de excitação em crescendo com o futuro discurso do Assis (que iria dizer o corajoso Assis, perguntavam-se eles), foi a Final Feminina do Torneio de Ténis de Roland Garros.
Procuro seguir ambas as finais mas, porque considero o Ténis Feminino mais belo e atractivo, eu prefiro verdadeiramente a Final Feminina.
É, desde logo,um Ténis muito mais gracioso e, muito embora as forças musculares e braçais se revistam de essencial importância, os gestos técnicos adquirem uma graciosidade muito mais vincada porque, mesmo advindos da maestria mais pura, eles surgem adornados de beleza e dança.
E vi uma Gazela dançando e lutando contra uma Leoa! A espanhola Garbiñe Muguruza, uma esbelta mulher de 22 anos nascida na Venezuela, com uma longilínea altura de mais de um metro e oitenta e umas longuíssimas e elegantes pernas, apareceu em tons de amarelo vestida e com uma sensual mini saia com a orla que cobria as nádegas debruada num atractivo e redondo picotado, que deixavam quase perceber e sonhar uma bem delineada cueca beije. Uma Gazela de elegância pura!
Do outro lado estava uma Leoa! Uma experimentada e pujante mulher com um passado de luta e indómita vontade de vencer. Negra, patinho feio da família, mais possante e avantajada que sua irmã Venus Williams, mais esguia e equilibrada nas formas, tanto em peito como em anca, Serena Williams, assumindo esse “handicap”, tudo ultrapassou com a sua vontade férrea de ganhar, a ponto de se ter alcandorado ao lugar cimeiro, onde permanece há muitos anos. Todas as suas qualidades se mantêm evidentes mas, os seus 34 anos, com o cansaço de uma vida inteira feita de cansaços, já não lhe permitem fazer, de igual para igual, uma corrida de fundo contra uma Gazela! Mas foi muito lindo ver…
As mais de duas horas desse combate dançante tinham-se evaporado e, nessa tarde em que as TV´s generalistas bem podiam ter emigrado, eis que as outras, as de notícias por cabo, se mostravam em completo êxtase espiritual, com um frenesim e uma excitação agora a rondar a epilepsia e numa expectativa que atingia o absurdo: Que já só faltavam discursar dois…agora só um e…chegou o momento, o momento da verdade: Que irá dizer o intrépido e corajoso Assis, o único que verdadeiramente veste a pele do desacordo, da dissintonia e da veemente crítica ao estado de compromissos e alianças a que chegou o seu PS?
E o homem lá falou e disse aquilo que todos sabíamos que ele ia dizer e que os jornalistas e comentadores estavam também fartos de saber. A montanha pariu, portanto, um rato e ele, que penso não ter levado pateada, lá se foi pela esquerda baixa. Ele julgava-se um rei, mas não tinha corte. Nem um pajem sequer levou, apenas um “bobo”, um tal de Ricardo Gonçalves…
Mas que disse, afinal, Assis- o temerário? O óbvio: que não concordava com o rumo do PS, nem do seu compromisso de governo à esquerda, e utilizou, como sempre utiliza pois não conhece outra, a palavra “responsabilidade”. O problema é que esta grave palavra atinge, na boca dele, o mesmo significado que um antibiótico de largo espectro, que dá para tudo e, ao mesmo tempo, a de um placebo, que não dá para nada! É assim Assis- o temerário!
Assis arma-se em tarólogo e, colocando-se naquele contra que criticava a outros, prevê que esta solução de governo vai trazer muitos problemas ao PS e que o certo seria uma aliança com o PSD, uma aliança impregnada de “responsabilidade”, já se vê, na defesa do tal “arco de governação ou do poder, como queiram”, um “arco” onde ele “responsavelmente” sempre se movimentou com todo o à vontade, ora pegando no seu lado esquerdo ou no seu lado direito, ora pegando no balão que, cheio de um ar quente e redondo, se escapuliu nos ares…
O balão fugiu, mas ele queria ter sempre algo do arco na mão e não desejava que aquela populaça radical que vale aí uns míseros 20% se atrevesse a nele sequer tocar. Eles, esses radicais que sempre estiveram acantonados na sua “irresponsável” posição de estar contra tudo…O PS vai-se arrepender, alvitra ele, com a clareza de um tarólogo e a ambição de um egoísta.
Mas, no fundo, os tais “radicais de esquerda” eram “irresponsáveis” quando eram sempre do contra e continuam a ser “irresponsáveis” porque deixaram de o ser e deviam continuar a sê-lo! Uns “irresponsáveis”, portanto, diz o mestre Assis, de fácies já ruborizada, à semelhança do seu amigo e conselheiro do arco Rangel. É tudo uma cambada de “irresponsáveis”, dizem em coro e corando!
Mas ele não se vai ficar. Aguardem-no mais o seu exército de sete (ou onze?) valorosos soldados prontos para formar um quarto batalhão: O da Quarta Via! Ele já pertenceu à terceira e, portanto, porque não a uma quarta? E vai combater esse ilusionista do Costa que conseguiu, ele não percebe mesmo como, fazer do círculo uma quadratura.
Mas Costa conseguiu essa proeza e isso ficou bem patente no Congresso. Como bem patente ficou a sua estima, admiração e apreço por Tiago Brandão Rodrigues (outro “irresponsável” agitador…), o nosso querido e amigo Ministro da Educação.
E foi com emoção que assisti àqueles gloriosos minutos de palmas dedicadas ao Tiago e o meu orgulho por ele foi tanto que fui às lágrimas e nada mais me interessou no resto desse fim de semana. Nem a final Masculina que também vi, apenas vendo….
Aquelas gloriosas palmas valeram por todo um fim de semana!
Mas, e a Muguruza? A Muguruza? Sim, a Garbiñe! Ah, essa sim, essa sabe “geringonçar”…