Calma pessoal, não é pela saúde, pelo menos para já! É que vou fazer 63 anos no próximo dia 12 de Julho (apontem se faz favor). Nada de mais por este lado também, não é? Se o meu irmão vai fazer 66 no próximo dia 18 e não se queixa, porque raio havia eu de me queixar se só faço 63? Não é, portanto, por aí, embora não seja de menosprezar. É que ando mesmo a ficar preocupado comigo…
Porquê? É que, de há uns tempos a esta parte, estou verificando que estou a ficar demasiado piegas. Emociono-me vezes de mais e choro mesmo mais vezes que a conta.
Ainda hoje, por exemplo: Ainda há bocadinho, enquanto comia qualquer coisa, tendo a televisão ali à frente do meu prato, dei por mim a ver uma prova preliminar do Masterchef Brasil e apareceu-me como competidor um Baiano, que dizia ser agente de trânsito, mas que não multava porque tinha medo de “apanhar”! O radar que fizesse o seu serviço, disse ele! Ri a bom rir! Ele era meio gordo mas, com aquela disposição de Baiano, afirmou alto e bom som que o seu destino era ser cozinheiro! Que, mesmo meio gordito assim, também capoeirava, dizia ele! E chorei por tudo isso e também porque, no fim, ele até capoeirou e passou. Riso bom este…
A sua ad versária era uma negra linda pra “chuchu”, mas com destemperado choro na ponta da língua, que foi cozinhar com um belo vestido preto adornado com lantejoulas, uns olhos bem pintados e pálpebras avantajadas, lábios bem contornados e umas unhas longuíssimas a condizer! Vem cozinhar, perguntou um membro do Júri? Que sim, que ia, disse ela chorando.E eu também chorei, mas de pena…
Ali, de repente, fez-me lembrar uma atendente de loja num centro comercial aqui há uns anos que, quando fui a pagar, a esbelta moça, de tão enormes as unhas, não conseguia digitar! A carne do dedo não chegava à tecla, por mais esforço que fizesse. Ali mesmo e naquela hora passou-me pela cabeça perguntar-lhe, eu sei que de um modo um quanto abjecto, como é que ela limpava a parte traseira? Também aí eu chorei, e chorei também de pena…
Mas também choro de emoção e aí penso que nada em mim difere dos outros. Ainda hoje por exemplo chorei de emoção, uma das tais coisas que me andam a preocupar porque não as consigo reprimir, quando vi uma reportagem sobre aquelas portuguesas que amanhã vão ser feitas Comendadoras pelo Exmº Sr. Presidente da República, por actos heróicos praticados aquando do atentado do Bataclâ em Paris. Elas tiveram a coragem e a lucidez de fazerem exactamente o que deveriam ter feito. Que não fizeram nada de mais, disseram elas muito humildemente, mas fizeram sim. E chorei de emoção. É aceitável o choro, mas do modo que ele vem… Preocupado comigo continuei…
Eu já aqui disse que no passado domingo também me emocionei a sério e chorei quando António Costa fez aquele definitivo elogio ao Tiago Brandão Rodrigues, Ministro mas meu querido Amigo, e verti mesmo abundantes lágrimas quando chegou aquele rotundo e prolongado ribombar de palmas. Chorei de verdade e pensei para comigo: Mano, tu agora só choras? Será isso normal?
Eu, não encontrando de imediato satisfatória justificação, perguntei-me: Será senilidade? Senilidade? Não pode ser, mano! Que porra é essa, pá? Tu, senil? Se não é isso que será então, questionei-me uma vez mais? Eu acho que encontrei uma explicação: É que no meio de tanta “merda”, de tanta indiferença, de tanta futilidade, de tanto egoísmo, de tanta traição, de tanto despudor e de tanta ignorância…quando sinto e vejo algo, por mais singelo que seja, que me mereça alguma elevada admiração, por parca que seja, eu até me emociono!
Mas, ao mesmo tempo, negativamente e por contraste, choro e enraiveço-me com tanta debilidade moral, com tanta falta de decência e com tanta abstracção que, não conseguindo conter a raiva, choro. E choro, mais uma vez, de pena…Mas pergunto-me: Mano, no meio disto tudo, onde fica o riso?
E uma voz, vinda lá do fundo do fundo, pergunta-me também: Mano, já nada te faz rir? E a minha resposta é só uma: está difícil Mano, está muito difícil.
É que em Portugal tudo é sério, tudo é determinante e tudo é absoluto. Do mesmo modo que não há contraditório também não há humor. Onde estão os programas de humor? Fulano é um cabrão? É! Já ninguém pode rir mais dele. Sicrano é um ladrão? É! Como rir dele?
Rir-me do Passos? Nem com uma cebola! Da Marilu? Nem com duas. Da Cristas? Nem com três. Do Portas? Rir do Portas? Ele é que ri da gente… O que me poderá mesmo fazer rir? É que está mesmo muito difícil…
É que já nem “cromos” há! Onde andam os “cromos”? O único sítio onde de vez em quando os vejo é quando me aparece no Face uns apanhados do Programa do Jô e aí sim, aí rio-me a bom rir, porque aí aparecem “cromos” verdadeiros.
Mas eles são “cromos” e só conseguem ser verdadeiros “cromos” porque estão abstraídos da realidade. Se começarem a falar da realidade deixam logo de ser “cromos”. Tipo o Tiririca…vestiu fato e gravata e aguçado por alguns reais votou contra Dilma e o seu povo…Chorei de pena mais uma vez…
Tudo agora está apegado a qualquer coisa, apegado e colado e colado sem condições de descolagem. É incrível, não é?
No fundo até podemos rir de algo, mas esse riso é amarelo, forçado e pungente. É que estamos dicotomicamente demasiado ligados a tudo: Ao sim e ao não, ao pode e ao não pode, ao certo e ao errado, ao bom e ao mau, ao bem e ao mal, ao esquerdo e ao direito, ao concordo e ao não concordo…tudo sem meio termo e sem qualquer espaço ou desvio, sem lugar à equidistância e à independência…
Estamos no tudo ou no nada. Estamos comprometidos!
E depois choramos pelo que gostamos e também pelo que detestamos. De amor e de raiva, sem meio termo. Já repararam?
Pára Mano, já estou confundido…
Belíssimo texto. Percebo perfeitamente tudo o que diz. Acho que, e falo por mim, a emotividade tem fases em que está mais à flor da pele e outras menos. Provavelmente neste momento a sua está mais latente.
Eu percebo muito bem o que diz porque também me emociono com alguma facilidade – com a realidade do dia-a-dia (sobretudo com momentos bons, e mais se forem inesperados ou suscitassem dúvidas antes de acontecerem), com situações marcantes de filmes ou séries e até com músicas (então se forem músicas bem conjugadas com imagens!… às vezes até nas cenas finais do CSI Miami ou do House me emociono! 🙂
Deve ser por tudo isto que adoro os filmes do Pedro Almodóvar – ele é capaz de no mesmo momento me “sacar” um lágrima e um sorriso. Afinal o que interessa é que nos consigamos emocionar porque sem emoções a vida não vale nada…
Um abraço para si.