Cinco anos fez hoje o meu neto Pedro, aliás ontem e, para ele, ter feito cinco anos foi assim como ter atingido a idade adulta! Uma idade que permite, do alto desses cinco anos, anos de liberdade, de franqueza e de medos isenta, responder aos adultos e insinuar-lhes que sabe do que eles falam, e dizer-lhes que escusam de encobrir, de esconder, de tentar driblar e coisas assim, que ele bem os percebe!
Tanto assim é que, perante algo em discussão à mesa, quando tentando ele intervir alguém lhe diz que aquilo não é para a sua idade, que ainda é cedo para perceber e coisas tais, ele interpela e diz: Mas eu tenho cinco anos!
Perante tal desafio e defronte de tal inusitada afirmação, todos sorrimos e até replicamos: Mas ele tem já cinco anos!
Foi lindo, como é lindo ver e constatar o que esta criançada tem de evolução comparativa connosco à mesma idade, e o que isso pressupõe, mesmo vivendo eles enredados, confundidos ou emaranhados entre um complexo mundo de ilusões, no confronto com a realidade da vida, a educação dos pais e a vivência em Escolas com regras que não se compadecem com essas mesmas ilusões.
São dois mundos que se criam, um em que a criatividade se confunde com os sonhos e alimenta o cérebro e outra em que a ordem e a regra os põe em sentido.
Todos nós já fomos assim. Os da minha idade com os Cowboys, com Os Cinco, com o Simbad o Marinheiro, com o Corto Maltese e quejandos, que nos transportavam para esses tais mundos irreais, que nos queimavam em sonhos impossíveis, mas que não evitavam que tivéssemos sempre que cumprir as obrigações que nos eram impostas. A ponto de que, com o tempo, esses mundos se fossem esfumando e se distanciando até se tornarem em memória!
E é sempre preciso voltar atrás para aceitarmos, sempre, os novos tempos…
E eu aceito tudo o que o meu neto gosta, dentre as quais até coisas que eu deveras detesto, mas há uma que eu instituí de proibida, seja para crianças, seja para jovens ou seja para adultos, na minha casa. E instituí sob forma de lei irrevogável e sem recurso: A entrada desses Poke…não sei quê! A minha casa é território livre, perceberam? Disse eu.
A Filipa, que já tem 17 anos, até tem um Iphone, disse que tinha o jogo e até jurou que no bolo de aniversário do Pedro até estava um! Eu, meio estúpido e a brincar, até lhe disse: pois então não o vais apanhar: vais antes come-lo e libertá-lo desta casa! Claro que ela o “apanhou” e eu disse-lhe: Pronto! Tu é que o trouxeste com o teu Iphone e, portanto, leva-o daqui para fora! Aqui nesta casa só por engano ou traição!
Ora o Pedro logo quis saber o que era aquilo!
Foi quando nós lhe dissemos: Pedro, esquece! Isto não é para a tua idade, é tudo a brincar e tem que se andar à procura deles, atravessar ruas, seguir estradas… e isso não é para ti. Eu ainda pensei dizer-lhe que isso não era para neto meu mas, contive-me…
Mas agora me recordo. Foi quando ele replicou: Mas eu tenho cinco anos!