ESTARÁ O MUNDO FALIDO?

Ou melhor dizendo, em bancarrota? Parece que sim, e essa é a conclusão de um estudo promovido pelo nosso Vitor Gaspar para o FMI, para quem, de resto, trabalha.

E porquê? Porque ele conclui uma coisa que já todos sabíamos: é que a dívida global, do mundo, é o dobro da riqueza (PIB) produzida anualmente por esse mesmo mundo: o nosso! Há quem diga mesmo que é o triplo! O que quer isto dizer? Quer dizer muitas coisas: a primeira é que o mundo está em putativa bancarrota. A segunda é que, afinal, Portugal está na média, pois a nossa dívida em relação ao PIB anda mais ou menos por aí. A terceira é que sendo a nossa dívida, mais a da Grécia e países afins, que são alvo permanente das diatribes constantes do seu patrão, uma pequena gota na amplitude da dívida global, quem é que, afinal, é responsável pela grande fatia dessa dívida?

Manuela Ferreira Leite, ainda há pouco na TVI24, referia-se ao tema e dizendo que Vitor Gaspar concluía que sem desenvolvimento, ou crescimento, não seria possível reverter esta situação, e fazia-lhe a pergunta óbvia: E? Soluções, caminhos? Nada! Apenas referia que era um estudo comparativo, mas que era o primeiro…Então se era o primeiro como poderia ele ser comparativo? Enfim, Gasparices…

O que também ela diz, e nesse aspecto é coerente, é que sem reestruturação dessa dívida, ou dessas dívidas, não poderá haver crescimento, e continuaremos a viver num mundo de faz de conta, onde os países com menos recursos empobrecem e não crescem para pagar os juros das suas dívidas e outros se endividam à tripa forra porque o sistema global assim o permite. Permite, por exemplo, que sejam escondidas imparidades enormes nos Bancos de escala global, vítimas também das enormes dívidas de muitas empresas multinacionais, nomeadamente e nos últimos anos das petrolíferas, pelos investimentos colossais feitos na pesquisa de petróleo e penalizadas pelo baixo preço em que nos últimos anos tem estado a ser cotado. Só a Petrobrás Brasileira tem uma dívida acumulada de 140 mil milhões de dólares…Mas elas mandam nos países e os países delas são reféns!

E adia-se, adia-se, chuta-se para a frente e não se faz aquilo que é óbvio: refazer o “sistema”, encarar o problema e começar de novo! COMEÇAR DE NOVO! Ter a coragem de MUDAR! Agir globalmente e encarar de frente o problema das desigualdades crescentes neste mesmo mundo.

Eu sei que hoje é dia de falar de Guterres e eu associo-me orgulhosamente à celebração da aclamação de Guterres pelo Conselho Permanente da ONU como seu próximo Secretário Geral. Mas sobre isso já quase tudo se disse e eu, para ser diferente(!), vou pegar no tema por outro lado e referindo o que me disse ontem uma sobrinha minha, depois de me ter criticado por nunca nele ter votado! Coisas da vida…

Ela disse, em jeito de síntese, que a vitória de Guterres, pela via seguida e pela sua eleição conquistada por percurso e mérito pessoais e não por fruto de qualquer “convite”, consubstanciava, em suma, aquilo que diferencia o ser-se de esquerda ou ser-se de direita e o ser-se humanista ou ser-se interesseiro ou lobista. E que o espelho disso mesmo eram os casos de Barroso e de Guterres! O percurso seguido por ambos, no fundo.

Poderão perguntar-me o que tem isto a ver com o acima explanado, e eu direi que tudo, essencialmente no que respeita à forma como se vê o mundo e com que desígnios se exerce o poder nos altos cargos que se possam ocupar e do modo como lá se chega, e que, obrigatoriamente, condicionam o seu exercício e toldam as suas competências. E mesmo a sua liberdade e independência na actuação.

E a verdade é que, a determinada altura, eles coincidem num mesmo facto: ambos abandonaram os seus governos. Barroso para ir para Bruxelas, para onde Guterres já antes também tinha sido convidado e recusado o convite, e Guterres porque, numa situação de “pântano” político, sem maioria e sem soluções à vista, achou humildemente que não seria ele a pessoa capaz de alterar o estado de coisas e deu a voz ao Povo.

E um (Barroso) esteve dez anos no lugar para onde foi convidado (melhor dizendo, “mandado”), quiçá como prémio pela sua grande carreira de estadista que culminou naquela cimeira de má memória que determinou a guerra do Iraque e está na origem de todo este delírio tenebroso em que se tornou o Médio Oriente, para ser o mínimo denominador comum dos interesses e saiu de lá cheio de “pasta” mas sem pena nem glória para, passado o período de “nojo” ( ele há realmente palavras que são tramadas!), ser recrutado por um dos Bancos que estão no epicentro da crise financeira mundial, que ainda perdura, e pela desigualdade e concentração de riqueza que existe neste mesmo mundo.

O outro (Guterres) ficou sem emprego e foi lutar pela vida. A sua inteligência e brilhantismo eram reconhecidos e a sua competência, conhecimento do mundo e qualidades humanas levaram-no ao cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. E exerceu durante dez anos esse exigente cargo com a nobreza que conhecemos, o altruísmo que evidenciamos e a competência para todos óbvia. E onde demonstrou todo o seu humanismo, a sua bondade, a sua benevolência e a sua compaixão. E chamou gente muito diversa à causa, de que Angelina Jolie é apenas um exemplo e conseguiu financiamentos privados para a causa que não eram imagináveis.

Um pode estar neste momento ganhando muito dinheiro fazendo fretes e prejudicando o mundo, e de um modo tão abjecto que já nem passadeira vermelha na EU tem, vejam só, e o outro (Guterres) foi eleito, por aclamação e mérito próprios, senhor do cargo de maior relevância no Mundo. São ambos Portugueses, mas quanta a diferença, Deus meu…

De um nada mais esperamos que a continuação do “status quo” e do saque organizado que a instituição onde trabalha ou vai trabalhar promove, mas do outro (Guterres), pela sua independência, inteligência e abrangência, poderemos esperar ser o catalisador de vontades que possam, de facto, mudar o Mundo e a sua inevitável falência, com tudo o que isso pode implicar e que nem bom será lembrar…

Eu disse à minha sobrinha que não seria tanto assim, que isso era uma visão muito maniqueísta de ver as coisas e tal… mas que me apetece dizer que ela tem carradas de razão, lá isso apetece-me…

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