“MUITO MAIS É O QUE NOS UNE, QUE AQUILO QUE NOS SEPARA…”

Esta frase, uma frase clássica a que muitas vezes se recorre, e recorre-se a ela para dizer precisamente o que ela diz, mas que pode, contudo, ser aplicada às mais variadas circunstâncias da vida, desde o Amor, ao Casamento, às Alianças Políticas e outras, eu ouvi-a hoje proferida pelo PAPA FRANCISCO ( com letra bem grande) a propósito da sua visita à Suécia, onde existe uma comunidade Católica de apenas 1% da população, população esta maioritariamente Protestante e Luterana, para uma tentativa de aproximação da Igreja Catódica à Luterana, na senda do que tem vindo a fazer e a que se chama “ Ecumenismo”! Quer isto dizer, a união de todo o cristianismo…

E isto a propósito dos 500 anos do “Cisma” promovido por Martinho Lutero, cujas teses da época o PAPA FRANCISCO considera justas, mas que levaram à separação que o mesmo “Cisma “provocou…Mas o PAPA afirma ter sido ele um Homem inteligente…

É que, no fundo, comungando os mesmos pressupostos religiosos, um único e mesmo Deus, o mesmo livro divino-  Bíblia- os mesmos Mandamentos e os próprios Evangelhos, porquê continuar, cinco séculos depois, esta separação, separação esta que faz com que se possa pensar que de uma outra Igreja de trate…

Claro que os eternos conservadores dentro da Igreja Católica, tanto Padres, como Bispos, como Arcebispos ou como os Cardeais, numa escadaria hierárquica que mais parece a Tropa, no seu reaccionarismo congénito, logo vieram contestar.

Mas, na verdade, o que fez Lutero de tão grave que não fosse, naquela altura, denunciar aquilo que hoje todos temos historicamente por adquirido, ter sido aquela época uma página negra na história da Igreja Católica: os poderes mundanos e os privilégios dos Papas, os favores de isenção de culpas e “pecados” que qualquer vil metal pagava e isentava… Tudo em troca da manutenção de um poder que tinha tudo menos de divino! Eram as “bulas”, as “indulgências”…mas os pobres fiéis pagavam tudo e até a própria Basílica de S. Pedro pagaram…e tudo isto Lutero denunciou…e foi excomungado!

E o PAPA FRANCISCO, que ao Mundo já pediu perdão pelos “crimes” da Igreja na questão sensível da Pedofilia, e também no colaboracionismo com ditadores sanguinários, na sua habitual clareza e frontalidade, definindo Lutero como um Homem inteligente está, no fundo, a aceitar ter sido ele, mais que um predestinado, um percursor que teve a lucidez e a bravura de, apesar da excomunhão, ter denunciado os vícios que todos conheciam, mas não ousavam contestar…

E ao afirmar que “É muito mais aquilo que nos une, que aquilo que nos separa…” o PAPA FRANCISCO não está apenas a fazer uma reaproximação ou actualização da História, mas a adaptá-la, tal qual uma luva, ao que acontece nos nossos dias, tanto no campo Político como Económico e outros, perguntando: Então qual a razão, ou razões, por que não se entendem, nem que seja, para princípio, naquilo que os une?

Fazendo este exercício comparativo é evidente que eu não pretendo juntar os dois, mas vê-los como exemplos, mesmo que diversos. Mas vai dar ao mesmo! Os consensos entre os Homens devem ter sempre por princípio os que os une em detrimento do que os separa. Isso virá sempre depois e, forçosamente, com menos força…

O PAPA FRANCISCO no seu imenso e hercúleo esforço em dessacralizar coisas simples, mas todas tidas por complexas, têm-nos presenteado com a sabedoria e a clarividência que só estão ao alcance de Grandes Homens, inevitavelmente Humanistas, com chamamentos claros e inequívocos à nossa, de todos, Razão…

A forma como ele tem desmontado eternos “tabus”, a forma como tem reiterado a igualdade de todos perante o seu Deus, a forma como todos, sendo Católicos, têm direito a todas as prerrogativas sacramentais e outras e também aos deveres que pertencer a uma Igreja impõem, sejam eles casados ou separados, divorciados ou em união de facto, mães casadas ou solteiras, lésbicas ou gays, e tudo o resto que ouvido temos, fazem dele um Lutero dos nossos tempos: um Revolucionário!

Acima de tudo está o SER HUMANO, nasça onde nasça, seja Cristão ou Muçulmano, Hindu ou Judeu, crente ou não crente, seja quem for, ele é um SER HUMANO e, portanto, igual perante qualquer Deus que seja justo. E é, justamente, tudo isto que o PAPA FRANCISCO vem dizendo e fazendo, e a razão por que dele tanto gosto e o admiro… apesar de não ser um Católico praticante!

Pois, apesar de me considerar um Católico por tradição (e, já agora, de Esquerda por nascimento!) e ter andado até num Seminário durante cinco anos ( No Seminário dos Espiritanos- Missionários- no Fraião, em Braga), onde muito me ensinaram da vida e do mundo, eles que o mundo percorriam, o que nos levava a saber mais do mundo lá, internamente, do que as pessoas na época cá fora…), mas de onde saí, ou antes fui convidado a sair, por não entender, e contestar mesmo, certas coisas que me eram apresentadas como inexoráveis ( os “dogmas”) e com os quis eu não concordava.

Como não concordava que um “seminarista” tivesse que ser um ser alheio a tudo o resto…Disseram-me que eu me comportava como um estudante qualquer…Resumindo, não dava para aquilo. Mas fiquei a admirar muitos, mas muitos professores Padres, que conheciam mundo, África e América Latina essencialmente, o outro lado do mundo para não dizer o seu…e que muito me ajudaram a abrir a minha mente. Eles nunca me falaram dos “ Infernos” porque esses eles conheciam, nem da Igreja serventuária pois nela não estavam inscritos, e estavam ao lado dos  necessitados e não ao lado dos poderosos.. A minha sincera gratidão a todos eles: Uma Escola!

Tal como o PAPA FRANCISCO, tive razão antes do tempo? O tempo o dirá, mas vai no bom caminho…

Escrevo este texto com todo o respeito a todos os Praticantes, direi mesmo “Militantes” que, sob o manto da Igreja fazem coisas incríveis e se dedicam ao próximo de uma maneira que até de faz corar de vergonha…

À minha IRMÃ, Católica Militante, que vive para os outros, e aos meus sobrinhos CARINA E FRANCISCO ( já aqui falei deles) que, um nome de um impulso, de um chamamento ou seja lá o que for, recém casados, foram para São Tomé e Príncipe, um ano, para um dos bairros mais pobres ( o  Bairro da Boa Morte), vivendo como eles viviam e comendo do que eles comiam…sem água, sem luz eléctrica ( apenas às vezes), sem frigorífico e demais coisas básicas. Foram ensiná-los a organizarem-se, a viverem com dignidade, a promoverem os seus próprios negócios, básicos mas negócios, dando-se àquela gente, gente a quem tudo falta e a quem nada se dá e tudo se nega…

Que orgulho eu tenho neles! E o PAPA FRANCISCO também teria se os conhecesse…

E, mesmo não querendo, desta vez, falar de Política, falei de Política…Porque tudo é Política!

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