E também os Merceeiros, já agora!
O Dr. Passos Coelho, naquele seu arrebatado discurso de ontem à tarde, para o qual se resguardou, mandando para a frente da liça a sua “ainda” ministra das finanças, a Marilu, imitando deste modo o Costa que também mandou o Centeno, mas este Ministro das Finanças mesmo, ouvindo certamente vozes profundas que lhe diziam “avança, pá”, “não faças como no anterior e diz que vais fazer propostas, pá”, não resistindo àquele disfarce de Diabo que tanto o tem perseguido, desatou a afirmar que “este orçamento é mau, muito mau…um orçamento que rouba aos pobres e necessitados (coitados) para dar não se sabe a quem…que não tem uma estratégia…que vai lançar Portugal para um precipício…”, precipício esse que, desta vez, ele quer evitar e, para isso, vai fazer propostas de alterações a esse indecoroso documento…
E aceita vir a fazer propostas, mas não como se fosse uma “Mercearia”! Já há uns tempos o tinha dito, e não se tendo esquecido do brilharete(!) que tal palavra proporcionou, tratou de a reiterar. Ele não negoceia, quererá ele dizer, como se fosse um “Merceeiro” …
O Jerónimo até se benzeu porque, mesmo não sendo crente, quando o ouvir dizer que este orçamento “estava a liquidar o estado social, o serviço público e a despesa social…”, julgou estar mesmo na presença do “Belzebu” e teve aquele assomo de religiosidade, assim como dizendo “coitado, não sabe o que diz e sofre de desgaste de memória…”. E Deus lhe perdoe, como dizia um amigo no Facebook. Eu não vi em directo, mas ouvi com estes olhos que a terra há-de comer alguns excertos, e fixei aquela última frase sua, a tal de “mas não como uma Mercearia”!
Mas eu vou-lhe perguntar, assim muito simplesmente: Sua Excelência saberá ou fará assim uma pequenina ideia do que é uma Mercearia ou um Merceeiro? Claro que não sabe! Enquanto eu em pequeno ia à “Venda” (para que saiba é uma Mercearia) e tinha que decorar o que a minha Mãe me pedia, e repetia as coisas todo o caminho para de nada me esquecer (um quarto de açúcar, um quartilho de vinho, arroz, massa etc. etc…), na sua casa quem ia à Mercearia era a empregada. Não admira, pois, que não saiba.
O que você sabe é aquilo que já há muitos anos se tornou moda, de tal modo que são agora muito raras as Mercearias, e que é o “Toma Lá Dá Cá”, assim mesmo como se chama o Talho onde eu compro carne, aqui no Mercado da Póvoa : eu dou-te a mercadoria e tu dás-me o guito! Tal como nos Minimercados, nos Supermercados e nos Hipermercados, que é onde o Sr. Dr. deverá ir, e só a eles.
Para o Senhor Doutor, portanto, uma Mercearia será assim um tipo de lugar onde as coisas se regateiam… Mas não, Exmº Sr. Dr. Coelho, a isso chama-se “Feira”! Já foi a alguma? Comprar assim umas cuecas contrafeitas ou um polo com um lagarto? Ora, concluindo, se conclui que nem sabe o que é uma Mercearia, nem sabe o que é uma Feira. Nada! Niente! Nicles!
É que, tentando perceber o que o digníssimo chefe da oposição quis dizer, talvez arrisque adivinhar que ele quererá apresentar propostas na tal base do “Toma Lá Dá Cá”, isto é, tu cedes aqui e eu cedo acolá, pois que, não sendo assim, como raio é que ele veio com a tirada da “Mercearia”?
Eu podia-lhe explicar o que eram os Merceeiros antigos, como funcionavam etc. mas talvez nem valha a pena! Sabe, por exemplo, Sr. Deputado Coelho, o que eram as “cadernetas”? Não eram as de cromos, eram as outras. Eram o que agora se chama “contas correntes”! As pessoas levavam e iam pagando, com dinheiro ou com produtos que colhiam, muitas vezes sazonais e, nesse entretanto, eram os Merceeiros que matavam a fome à pobreza, não cortando o fornecimento…confiando no seu conhecimento das pessoas, da sua honradez e da sua palavra! Conheceu, porventura, algum? Eu conheci alguns, não vou falar de nomes, mas a um deles posso-lhe dizer que a minha família está eternamente grata e nunca esqueceremos o que ele contribuiu para que pudéssemos estudar…Disso você não sabe nada! Mas, se não sabe, para que fala, denegrindo assim uma actividade e gente a quem tantos, mas tantos Portugueses tanto devem…?
É que, se está a falar nas Mercearias de hoje, não faz qualquer sentido. Quererá V. Senhoria dizer que não vai pagar para que o Governo ceda a uma imposição sua, assim como na Mercearia do “Toma lá Dá Cá”, que é a única que conhece? Levar a mercadoria sem pagar? Já viu o ridículo? Nem que pagasse, ora…
Mas, afinal,o que quererá será vender, assim uma proposta, assim uma luminosa ideia sua que evite que Portugal vá para o precipício? Mas quem lhe disse que o Governo a quer comprar? Já tem “fornecedores” suficientes, ainda não percebeu?
Ou pensará ainda S. Eminência que o Governo necessita, assim como do pão para a boca, do seu apoio? Ainda não percebeu que o que queira vender, embora até possa vender barato, não deixará nunca de ser muito caro? E desnecessário, porque “mono”? E gasto? Ou, como agora se diz, “produto descontinuado”?
Ó “Sinhor”, como se diz aqui ao lado, nas Caxinas, veja-se ao espelho e, já agora, vá estudar: Vá procurar saber o que é uma Mercearia! E, ainda, também uma Feira!
É isso, meu “Sinhor”, é isso…