Nada apontava para que a Hillary Clinton perdesse estas eleições e muitos menos tão estrepitosamente como perdeu nos chamados “swing states”, aqueles oscilantes que costumam determinar o vencedor, de acordo com o sistema eleitoral Americano.
Aconteceu mas, no meu entender, sendo ela a derrotada, não tenho dúvidas em afirmar que o grande perdedor da noite foi o Partido Democrático. E foi-o porque não soube antecipar nem ler os porquês da renhida luta que ela teve com BERNIE SUNDERS para alcançar a sua eleição na Convenção.
É que, na verdade, SUNDERS com um discurso completamente à esquerda não era suposto ter tantos apoios mas, representando o desencantamento de uma grande fatia de uma juventude esclarecida e de muitas massas trabalhadoras, para quem ele surgia com um discurso diferente e directo, rompendo e criticando o “establishment” e que era, no fundo, de um modo muito mais rude a agreste o que do outro lado Trump fazia.
O desejo de mudança que era pressentido e o rompimento com um “status quo”, já de cheiro a mofo que a muitos e muitos já cansava por não lhes trazer nada de novo, eram tão visíveis como era para muitos por demais evidente que nunca seria Hillary a corporizá-los. E as sondagens eram suficientemente eloquentes quando isso constatavam: mais facilmente ganharia SUNDERS a Trump do que Hillary. E essa miopia acabou por resultar catastrófica para o Partido Democrático.
O Daniel Oliveira que ao serviço do Expresso esteve nos EUA durante aquele período das Convenções, detectou isso mesmo e escreveu acerca da desilusão de uma grande maioria dos apoiantes de SUNDERS que, já nessa altura, lhe diziam que muito dificilmente votariam em Hillary. Lembram-se? Mas não foi só ele a refletir sobre o assunto pois muitos mais o fizeram com consciência e previsibilidade.
Ainda ontem assisti, durante o período de votação, à declaração de uma jovem de 18 anos, que apoiou e votaria em SUNDERS, a dizer que iria votar Trump. E quantos e quantos não o fizeram? Esta análise sociológica deixo-a para quem de direito mas, olhando para o que, por exemplo, se passa em França onde minorias e mesmo classes trabalhadoras, desiludidas com um “sistema” que tudo lhes exige e nada lhes dá, se dispõem a votar em populistas e na ultra nacionalista Le Pen, difícil não será concluir que os eleitorados cada vez menos acreditam em quem lhes promete mais do mesmo.
Os Americanos não foram votar desiludidos com os OBAMA, que fizeram tudo o que puderam contra os inacessíveis muros que lhes eram impostos pela Câmara dos Representantes e pelo Senado, claramente hostis. Foram votar no” change”, na mudança, na experiência em algo novo e votaram em quem tinham ali à mão: em Tump. Mas, estou convencido, votariam muito, mas muito mais em SUNDERS do que em Clinton, uma mulher, sim, mas muito fragilizada pelos casos dos Emails, que Trump e os Republicanos usaram até à exaustão.
Isso ajudou à morte política de Hillary, mas o seu coveiro foi o Partido Democrático e os interesses instalados que inundaram a sua candidatura de dinheiro.
Mas nem isso lhe valeu… Mas a vida continua…