Li num Blog que sigo a seguinte observação de um leitor, reagindo a um texto sobre o mesmo tema e que, por entender ir de encontro ao que penso, transcrevo:” Um conselho amigo: poupem as críticas aos actos de Obama pois vão precisar delas todas a multiplicar por cem para classificar os de Trump”.
Sei que muitos Amigos meus, uns fisicamente próximos e outros apenas do Facebook mas que, pela intimidade já alcançada, considero igualmente Amigos, não concordam ou não vão concordar comigo mas, mesmo assim e seguindo o que a minha consciência me dita, vou passar a escrito um resumo daquilo que sobre o tema penso.
Em primeiro lugar, do ponto de vista do conhecimento profundo e intrínseco da sociedade americana, eu não me sinto capacitado para sobre ela fazer um juízo definitivo e duvido que sejam muitos os que tenham a real percepção do que ela é e onde se funda o seu chamado “ American Way of Life”. Por isso, tentar compreender de uma forma séria como foi possível a eleição de Trump, não é tarefa fácil. Do mesmo modo que entender em França o fenómeno Le Pen, em Itália o Pepe Grillo and so on…
Por isso mesmo, e em segundo lugar, eu entendo que afirmar-se ser OBAMA o “obreiro” de Trump, porque não fez reformas profundas, porque foi laxista, porque não desmilitarizou o país, não conseguiu implementar tudo o que prometeu ou não promoveu o tal “America great again”, é demasiado precipitado e mesmo injusto. Trump já há muito existia e foi favorecido pelos tempos…
Tempos que, principalmente desde o princípio da globalização e da deriva neoliberal iniciada no Reaganismo e Thatcherismo, têm vindo a varrer do planeta conceitos históricos e sagrados, como o valor do trabalho, as políticas sociais, os direitos cívicos e de igualdade, em troca de um capitalismo de casino que tem concentrado o poder absoluto em meia dúzia de organizações que são autênticos abutres e de cuja influência e poder tem resultado mesmo o sequestro da autonomia dos governantes, são os tempos que são, sendo que eles sim, eles é que têm que ser combatidos.
No meio desta caminhada para o abismo eu, lembrando-me da longa história dos negros pela conquista dos direitos cívicos, que não vou repetir, chorei de felicidade com a eleição de OBAMA, não só por ser negro e isso por si só ser já um notável feito, mas também por ser um homem culto, inteligente, orador brilhante e decente e que poderia ser um contratempo a esses tempos. Como se veio, de certo modo, a provar, não só pelo estilo como também pelo conteúdo.
Mas quem conhece a orgânica político-constitucional dos EUA sabe da quase impossibilidade de se governar, ou fazer aprovar leis que incorporem mudanças ou acrescento de direitos, quando entre os três poderes (Presidência, Senado e Câmara dos Representantes) se tem dois contra e, neste caso, completamente reaccionários e lobistas. Foi com este panorama que OBAMA governou a maior parte dos seus dois mandatos e foi isto, e apenas isto, o que o impediu de ir mais além na prossecução de muitos dos seus desideratos e promessas.
Mas existem ainda mais dois poderes, um deles o Supremo Tribunal que tem que ser proactivo, e um outro, este visível mas de conhecimento quase invisível, o Pentágono, onde se jogam interesses sem fim e cujo manejamento, digamos assim, depende da maioria acima referida.
A hostilidade permanente dessas duas Câmaras foi vital para o insucesso de OBAMA em muitos dos seus desejos de progressos e ter conseguido negociar o Obamacare, os direitos das comunidades minoritárias como os LGBT, por exemplo, a retirada das tropas americanas do Iraque, o célebre “Bring Back Home”, a recuperação da indústria automóvel e o ataque quase Keynesiano à brutal crise de 2008 que recebeu de herança, e muitos outros, são feitos notáveis e definidores de um Homem humanista e progressista.
Mas é deste Homem informal, humilde, humano, equilibrado, clarividente e, acima de tudo, DECENTE, que eu vou ter saudades. E do melhor orador que até agora conheci.
E da sua Grande Mulher, MiCHELLE OBAMA, que dignificou o cargo, abriu a Casa Branca a todos, a artistas, intelectuais, crianças de todas as raças, orgulhosa da sua raça e origem, mas com um reconhecimento global de Classe, de inteligência e de normalidade que só os grandes personagens possuem.
Mas eles irão para as suas vidas, vidas de Advogados ou Professores e as suas filhas irão para a Escola ou para a Universidade, como qualquer outro jovem das suas idades….
Para os OBAMA aqueles oito anos foram apenas uma parte da vida, uma passagem… Mas eu não os esqueço, nem esquecerei!
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