NOTA INTRODUTÓRIA: Não vos vou incomodar com um texto novo, mas vou-vos “massacrar” com um texto já antigo, de há quase três anos e ainda antes da resolução do BES.
Achei interessante reedita-lo e partilhá-lo pois, passados quase três anos, a minha análise não estava tão desfocada assim da actual realidade.
Não retirei ou acrescentei nada ao texto original, asseguro-vos! Mas, mesmo sendo uma pequena parte da realidade, eu penso que estão concentradas nestas duas personalidades as prerrogativas de casta que fazem dos mesmos uns autênticos “Anjos” e todos nós uns “Anjinhos”! Concentrei-me nestes dois e não falei do Governador, pois não era esse o tema. Aliás, com a recente reportagem da SIC, algo ficou mais claro acerca da intervenção ou não intervenção e putativa responsabilidade deste personagem…pelo menos por ocultação e passividade.
Ontem mesmo, o sempre “à posteriori” bem informado comentador JGF, dizia que, para aí dois meses antes deste texto, lá para Abril ou Maio, tinha sido promovido e autorizado um aumento de capital do Banco, subscrito até por vários Bancos internacionais mas que, logo depois, o tal cujo proibiu os balcões do BES de venderem obrigações do Banco…No entanto, a 3 desse mesmo mês de Julho de 2014, ele ainda declarava que a “a solvabilidade do BES era sólida e tinha sido reforçada pelo aumento do capital social…”. Vá lá perceber-se…
Leiam, por favor. É assim:
“ANJOS– São aquelas figuras icónicas que nos habituamos a ver nos altares das Igrejas, seres inocentes e alados que pairam numas nuvens em auréolas, protegendo santos e divindades.
ANJOLAS– São, para mim, uns anjinhos mais crescidos e convencidos, que se enquadram bem nos circuitos dos favores e das amizades, mas que, por qualquer circunstância adversa transformam a amizade em desprezo. Como tudo o que acaba em “ola”, como Rapazola, como Gabarola, como Estarola etc. etc. . São ufanamente arrogantes quando estão na mó de cima, mas tornam-se nuns “anjinhos” quando as coisas não correm bem. São “Anjolas” por oposição a “ Anjos”, portanto.
ANJINHOS– Embora sendo o diminutivo de “ANJOS” , têm na nossa linguística uma conotação e significado diferentes: são seres inocentes por imaturos, que facilmente são “ levados” e se deixam “ levar”, ultrapassar, utilizar e ludibriar. Como muitas vezes dizemos : “ fui um anjinho” ou “ foste muito anjinho”! Dos “Anjos” só lhes resta a inocência, portanto.
Vem tudo isto a propósito do caso BES e eu resolvi utilizar estes três derivativos “angelicais” para a caracterização das posturas e comportamentos de algumas pessoas em causa, neste cado duas, e para a sua padronização perante a sociedade.
Vou para o caso vertente ater-me em duas personalidades: Ricardo Espírito Santo Salgado e Henrique Granadeiro.
RICARDO ESPÍRITO SANTO SALGADO– Já tinha o destino traçado à nascença: iria ser Banqueiro. E estudou para isso. Possui todas as honras e comendas, desde Economista do Ano, a Personagem do Ano e Cavaleiro de diversas Ordens, Portuguesas e Estrangeiras. A sua reputação levou-o até a ser distinguido em 2012 (já em plena crise, portanto) numa iniciativa da DELOITTE com o “ Lifetime Achievement” em Mercados Financeiros na “ Investor Relation and Governance Awards”. Vejam só! E também possui o título de Doutor “Honoris Causa” por relevantes serviços prestados à sua Universidade.
Isto é só uma achega ao seu incontável percurso e, embrenhado em tanta coisa, esqueceu-se de declarar ao Fisco a módica quantia de 8,5 milhões de Euros. Dizem que oferecidos como recompensa por um indivíduo que não usa telemóvel para não ser escutado. Ter-lhe-á vendido a Comporta? Mas já agora: com portas ou sem portas?
Era por todos conhecido como “O Dono Disto Tudo” pois os seus tentáculos estavam por todo o lado, espalhando gente da sua confiança em todos os sectores, mesmo governamentais.
Um “ANJO”, sem dúvida, pairando inocentemente sobre isto tudo, e a quem os protegidos diziam: “O Sr. Dr. é um anjo”…
O seu “curriculum” e percurso são estonteantes, mas a sua gestão foi, pelos vistos, ruinosa. Escondeu dívidas à família e accionistas e aquiesceu na manipulação de Balanços, responsabilizando o Contabilista, que retrucou afirmando que ele há muito tempo sabia e…foi mandado em paz para o Brasil, mas compensado, devidamente compensado! Outro “ Anjo”, tão inocente, coitado!
E, no momento devido, chamou o amigo e disse-lhe: chegou a altura de, em nome do nosso passado, da nossa amizade presente e futura, do futuro da família e da Família e de tudo o que ambos sabemos…chegou a altura de honrares a tua palavra, que sempre juraste ser lei e faz a PT aplicar aqui 900 Milhões porque é agora que de ti preciso. E assim foi, na paz dos “ANJOS” e com dois “ANJOS”, tão ternos e inocentes…
HENRIQUE GRANADEIRO– Que também transporta o sobrenome de “Fusco” por parte da mãe, é oriundo de Borba e de família humilde, foi sempre muito bom aluno desde pequeno e obteve por esse motivo uma Bolsa da Gulbenkian para ir para a Universidade ( era assim que os bons alunos de origem humilde iam para as Universidades e um irmão meu teve também a mesma sorte) e aí conheceu alguns Espírito Santo que ali também estudavam, em Évora, e que o incentivaram a jogar na Bolsa. E assim começou a sua saga de vida, sempre bem vigiada pelos “Anjos” e pelos Espírito Santos. Já nos anos 70 andava pelos Gabinetes Ministeriais, passou incólume o 25 de Abril, continuou pulando de organismo em organismo, de empresa pública em empresa pública, chegou a assessorar Eanes, passou por Bancos até que…chegou ao topo da pirâmide : CEO da PT, a cúpula das cúpulas, com ajuda e indicação dos seus “ Anjos” protectores. As suas ligações aos “Anjos” vêm de muito longe e aos Espírito Santos também. Um “Anjo” também, sem dúvida. Cometeu um pequeno erro de gestão, é humano, todos erram…Mas é um “Anjo” e dizem os seus colaboradores: “Um Anjo de pessoa”…
Um, o que era “O Dono Disto Tudo”, fez tropelias sem fim, deixa tudo dependurado e angustiado. Deixa uma cadeia de dominó assente num equilíbrio tão instável, tão instável que uma simples aragem pode desencadear a catástrofe. Em cadeia porque, na economia global de hoje, tudo está interdependente e em cadeia…
O outro, o outro simplesmente pagou o favor, a sua palavra e a sua honra como se diz na linguagem da Família. Vai-lhes acontecer alguma coisa de relevante? NÃO! Isso é que era bom! Eles são Banqueiros, eles são gestores de topo. Eles pertencem a uma casta, são protegidos e protectores : são “ ANJOS”, têm asas, pairam sobre as nuvens, são imunes e impunes, porque o Poder lhes foi atribuído por ordem Superior. Cometeram apenas pequenos erros de gestão, coisa singela para quem tantos títulos tem e tantos serviços prestou à Pátria e à Família…
A poeira irá passar e quando e se forem chamados a depor eles irão distanciadamente apelar à memória da sua inquebrantável idoneidade e pureza sem máculas e chamarão depois tudo quanto é figura e figurinha e todos jurarão da sua lisura, da sua ética moral e cívica e da sua probidade e honradez…
E depois acabarão a acusar o Estado, essa entidade sempre culpada e apontarão o dedo a Sócrates, o responsável por tudo e por isto também. Porquê? Porque existiu e parece que ainda anda por aí a atormentar a sua calma…
E os “ANJOLAS”, essa cambada toda de jornalistas e comentadores, parasitas que viveram sempre na sua sola, não percebem o que é a privacidade e a discrição nos negócios…eles que lhes lamberam os pés, eles que sempre lhes fizeram todos os “trabalhinhos”, esses energúmenos querem agora sangue…cheira-lhes a “carniça” …Mas eles irão ver, coitados. Eles ainda não perceberam que são “Anjolas” e nós somos “ Anjos”, não morremos e temos asas e saberão, finalmente, que para nos abaterem terão que viver três vezes! Não duas, TRÊS!
E restam os “ANJINHOS”, coitadinhos, voyeristas empedernidos que deliram e repetem o que leem e ouvem nos Correios da Manhã económicos e botam faladura nesses fóruns da Rádio todos, esses coitados nem sonham o que lhes vai acontecer, ou será que já sonham? Vão pagar. Nós andaremos aí durante uns tempos pelos tribunais em julgamentos que nem irão começar, porque os Juízes não serão capazes e o rol de testemunhas será interminável e será eterno, como eterno é o tempo, e o tempo é todo nosso! E andaremos também pelas Comissões Parlamentares, acusando o Estado, os jornalistas esses ingratos e…Sócrates. Porquê? Porque se chama Sócrates…
E é isso: nós teremos o tempo e vocês, os “ANJINHOS” terão as nossas dívidas, como sempre foi e sempre será. E nós iremos reerguer a Família… em nome do “Padre, do Filho e do Esprito Santo”…
AMEN! “Assim seja, em Luxemburguês, Suiço ou Caimonês…”
E foi isto que eu escrevi há quase três anos, antes da resolução, portanto! Terei errado assim tanto?