A “chico espertisse” da nossa Direita na encenação de uma crise política que colocasse o Governo e o PS contra a parede teve, mais uma vez e tal como na votação do PEC 4 em 2011, a prestimosa e até ternurenta participação do PCP e do BE.
Aquela fotografia onde se amontoam uns quantos deputados (mulheres e homens) tentando escrevinhar um papel que pretendiam virasse lei ( o da contagem dos tais nove anos e não sei que mais do tempo de serviço perdido pelos Professores-e outras carreiras), que pelos vistos num afã deveras assinalável até votaram antes mesmo que ele estivesse pronto, é o rosto perfeito de tudo aquilo que a política não deve nem pode ser: o da despudorada tentativa de aproveitamento para fins eleitorais dos votos de uma classe!
Mas, pior ainda, o da consonância de interesses de quem tão diferente é, pressupondo assim que, por motivos apenas tacticistas e de imediato efeito, nem os Partidos da Direita ( o que para nós-de Esquerda-seria normal) nem os da Esquerda à esquerda do PS, se importam minimamente com a saúde das nossas contas públicas, com a nossa reputação e com o sentido de responsabilidade com que tudo isto deve ser tratado.
Mas a mim interessam-me particularmente as posições dos Partidos mais à Esquerda, nomeadamente daquele em quem regularmente votei e, confesso-vos, sinto-me transtornado, muito descrente do seu sentido de Estado e mesmo a perguntar-me se, podendo eles algum dia virem a ser governo, também algum dia merecerão o meu voto. No momento não!
E fico estupefacto com o que vem acontecendo. Em primeiro lugar porque votando uma lei assassina para as nossas contas, para o futuro da minha reforma, o Estado Social e tudo o resto, nem se dão conta da irresponsabilidade em que mergulham e nem sequer das consequências eleitorais que tal implica! Por isso a Direita, quando viu a reacção de comentadores e demais agentes, rapidamente recuou!
Estupefacto ainda com as justificações que lá vão arranjando, fazendo tantos exercícios de contorcionismo que me pergunto até onde terão eles agora a cabeça. E os Partidos mais à Esquerda insistem. E porquê? Porque, não querendo ficar perante os Professores e o reverendo Nogueira, com o ónus de terem sido eles a impedir esse absurdo de conceder a uma simples classe aquilo que o Estado não pode dar, nunca se importariam de ficar com o ónus de, a muito curto prazo, verem impostos a aumentar ou despesa ( pensões, prestações sociais etc) a ser cortada…como não se importaram com as horríveis consequências do seu voto no PEC4!
Eu publiquei muitos textos de reflexão na altura das anteriores eleições e depois da formação deste Governo e nunca me esqueço daquilo que escrevi. Escrevi, por exemplo em 10 de Novembro de 2015, num texto a que chamei “ Um Governo de Reposições”, esta coisa simples:” Eu não espero muito deste putativo Governo. Nem muito posso esperar porque sei dos limites do possível. Por isso me sentirei muito feliz se ele conseguir ser um Governo de Reposições. Da normal reposição do anormalmente retirado”.
O meu apoio a este Governo adveio no início da esperança, da confiança na geringonça, no Ministro das Finanças e, acima de tudo, em António Costa, o meu e nosso Primeiro Ministro, e agora pelo trabalho realizado e pelos patamares alcançados, que eu nem sequer imaginava o pudessem ser em tão pouco tempo.
E por tudo isso muito me admira que, com o aplauso de toda a Direita, que apenas quer o insucesso do Governo e concomitantemente de Portugal, neste final de legislatura o PCP e o BE não resistam ao esticar da corda pretendendo por todos os meios prejudicar o OS e daí, pensam eles, obterem ganhos eleitorais. Mas muito enganados estão se assim pensam. E se assim pensam é porque, realmente, não conhecem o eleitorado!
Por fim e na mesma onda destes dois Partidos vou referir um dos escrevinhadores e comentadores mais lidos pelas gentes das esquerdas, eu incluído: o Daniel Oliveira. Mas o Daniel tanto escreve e opina que, ao contrário de mim, facilmente esquece o que antes escreveu. E, na sua mais que alva “transparência” também se esquece do que defendeu e no sábado passado também culpou o António Costa pelo presumível desabar da Geringonça pois, diz ele, “ semeia a desilusão e o desalento nos que apoiaram esta solução política”.
Francamente Daniel Oliveira, então ele semeou em si a desilusão? Pois em mim NÃO! Mas este prolífico escrevinhador e comentador acusa também António Costa de “manipulador” e aponta-lhe sete (7) manipulações! Eu até acho que só a Cristas lhe conseguiria apontar mais…!
Mas acabo com mais uma pérola do Daniel e esta de uma profundidade tal que eu até vou buscar uma bóia enquanto a cito que é para não me afogar em lágrimas…:”Não faz sentido um Primeiro Ministro demitir-se porque as condições de governabilidade do executivo seguinte estão postas em causa e depois candidatar-se a liderar o executivo seguinte nessas mesmas condições”!
Não faz sentido, Daniel? Mas, por acaso, faz algum sentido o que você muitas vezes diz e pensa?