Assisti como muitíssimos mais à noite Eleitoral nas TV’s e, perante a amostragem por estas das sondagens à boca das urnas, que dado o enorme intervalo que apresentavam todas reclamaram como certas, logo perplexo fiquei quando a maioria dos comentadores presentes, na ânsia de apresentarem de imediato vencedores e vencidos sem cuidarem sequer de uma normal prudência, desde logo apresentaram o BE como um inequívoco vencedor da noite!
Também a Catarina Martins, ainda a noite era uma criança e muitos votos por apurar, naquele registo arrogante e eufórico que lhe é peculiar, veio proclamar a estrondosa vitória de seu BE afirmando este como a terceira força política em Portugal ( uma evidente verdade ), força esta essencial e imprescindível para qualquer solução de Governo, apressando-se a apresentar a Costa o seu caderno de encargos e da aceitação por este de tudo quanto o BE reivindicar, acrescento eu!
Mas a grande verdade é que final da noite o BE se ficou pelo mínimo das tais sondagens e não obteve nem os 22, nem os 24, nem muito menos os 26 mandatos que elas prognosticavam e ficou-se pelos mesmos deputados que obteve em 2015: Dezanove (19)! O BE um grande vencedor?
Mas mais: em 2015 tinha obtido 10,19% e à volta dos 550 mil votos. Agora em 2019 apenas atingiu os 9,67% e cerca de 493 mil votos. Perdeu quase 60 mil votos. Manteve os mesmos deputados, isso sim. Um grande vencedor o BE?
Vencedor em relação ao PCP aqui sim pois este, apresentado e bem como um dos grandes derrotados, teve na verdade um recuo eleitoral, passando dos 8,25% para os 6,5%, perdendo cinco deputados (passou de 17 para 12) e cerca de 115 votos em relação à últimas eleições. Muitos eleitores que antes votavam PC votaram desta vez PS, dando assim relevância ao papel do PS na governação. Também as sondagens já isso revelavam quando indicavam ser o eleitorado do PCP o maior adepto da Geringonça!
Mas nesta geometria eleitoral, naquela que realmente conta, o grande vencedor é apenas um, o PS, que ganha 20 deputados e tem apenas ele mais votação e mais deputados que toda a Direita junta. E ainda um outro vencedor, noutra ordem de grandeza, o PAN, que passa de 1 para 4 deputados e que passando a grupo parlamentar regista uma meritória vitória.
Mas fazendo um pequeno exercício de matemática, podendo o PS atingir os 107 ou mesmo os 108 deputados, ficará a 8 ou 9 da maioria necessária para aprovar Orçamentos e Leis normais. Mas abstraindo-nos do facto da Geringonça atingir a alargada maioria de cerca de 140 deputados, não serão os 19 deputados do BE que, por si sós, poderão obstaculizar a aprovação dessas Leis!
E porquê? É que atingindo toda a Direita o máximo de 87 deputados (78/80 o PSD, 5 o CDS mais os 2 da IL e do Chega), somando estes numa coligação negativa não inédita aos 19 do BE, apenas se chegará aos 106, a um ou dois menos que os do PS, pelo que uma simples abstenção do PCP, do PAN e do Livre bastarão a Costa para ultrapassar possíveis inexequíveis exigências do BE. Tenho portanto para mim que terão tanta importância decisiva os deputados do PCP, do PAN e do Livre juntos (17) quanto os do BE. Vencedor o BE?
São diversas para o PS as soluções numéricas mas fez muito bem António Costa, em nome da Estabilidade e da Continuidade, em propor a renovação da Geringonça, já dada por todos esses comentadores como morta na própria noite eleitoral, pois, tendo ela saído vitoriosa e reforçada, correspondendo assim à vontade da maior parte do eleitorado (mais de 53%), que razões poderão apresentar tanto o BE como o PC para a sua não continuação.
Irão eles de um modo irresponsável e não adequado ao inequívoco mandato do eleitorado obstaculizar um próximo Governo? Será que lhes passará pela cabeça aliarem-se mais uma vez à Direita?
Tal como antes e tendo em consideração que com estes resultados eleitorais fica mais que provado que os Portugueses prezam antes que tudo o mais a Estabilidade, todos os que a ela se opuserem e traírem o espírito que vigorou nos últimos quatro anos, sairão no futuro fortemente penalizados.
E também ficou mais que provado que quem é apenas contra e não apresenta alternativas coerentes, sólidas e credíveis será pelo mesmo eleitorado castigado, como aconteceu com o CDS. O ser-se apenas contra é árvore que já não dá frutos!
”Geringoncem”, portanto! E viva a Geringonça!