Porque é que, embora veja com simpatia e aplauda tudo o que seja protestar contra este governo e esta política, eu não aplaudo este conceito?
Pacheco Pereira explica isto muito bem num excelente artigo publicado na revista Sábado, também disponível no seu Blog “ Abrupto”, intitulado “ O desprezo pelas Manifestações da CGTP…” e ao qual, sem qualquer problema, recorro para explanar a minha opinião.
E a primeira pergunta que me surge é: porque é que toda esta gente que vai as manifestações “ Que se Lixe a Troika” não vai às da CGTP?
A segunda pergunta é: porque é que para todos os “ media” estas são “ aceitáveis”, porque representadas por “ boa gente”, gente “culta” etc. e as da CGTP são intituladas de “cliché”, de “deja vu”, de organizações manobradas, repetitivas e apenas fruto da máquina do PC?
Porque será que todos os “Media” insistem em dizer que estas são “ fixes”, “imaginativas”, “engraçadas e chiques”, com muita criatividade, com muita gente ligada à cultura e às artes, ecléticas, com gente conhecida e bonita etc… e as da CGTP são apelidadas de ” sempre do mesmo”, demasiadamente bem organizadas, com gente ordeira e firme mas “ feios, porcos e maus” ? Ah! Dizem também que as do “ Que Se Lixe a Troika” são modernas, são convocadas pelas redes sociais, pelo Twiter, pelo Facebook, pelos IPHONES e restantes Smartphones, são livres, frequentadas por gente que ocupa o espaço público, como poetas, músicos, arquitectos, artistas, actores, professores universitários, historiadores, jornalistas e fotógrafos, investigadores, pintores, declamadores, designers etc.etc…gente culta, muito culta e bem formada.
Já as da CGTP pouco significam para ao “Media” pois são frequentadas por gente “ feia”, sem nome nem espaço, pelo “lumpem”, por gente com profissões que eles, muitas delas, nem conhecem : corticeiros, mecânicos, mineiros, estofadores, funileiros, picheleiros, trolhas, carpinteiros, motoristas, afinadores, empregados têxteis e de mesa, jardineiros, electricistas, marinheiros, cortadores de carne, empregados de balcão, auxiliares, empregadas domésticas…mas estas profissões existem e esta gente existe, mas passa-lhes ao lado pois nunca são notícia. São desprezados porque só sabem jogar sueca, não frequentam concertos nem vão museus, vão de férias para campismo e são fãs do Tony Carreira, são plebeus e não frequentam lugares da moda…Ah, e os reformados, caquéticos, que querem eles? Não lhes chega, eles que passam os dias nos jardins e o que fazem é só jogar sueca e dar milho os pombos? E manifestam-se? Também querem ser notícia?
Mas queridos amigos, a grande verdade é que uns e outros, todos, lutam pela mesma coisa: pelos seus direitos! Uns porque estudaram e investiram e não têm saída, outros porque lhes impingiram cursos que a economia não absorve, outros ainda porque a cultura passou a ser um bem secundário, outros porque o mundo das artes passou a ser uma selva etc… mas lutam pelo direito à VIDA, direito inalienável! Do outro lado, do lado dos sem espaço público, lutam pela dignidade, pelo direito ao salário justo, pelas condições de trabalho, pela melhoria das condições de vida, por uma assistência médica decente, pelo direito ao ensino dos seus filhos, pela igualdade de oportunidades…pela VIDA!
Por isso pergunto novamente: porque é que os manifestantes do “ Que se Lixe a Troika” não vão às manifestações da CGTP, quando é verdade que muitos que vão às da CGTP também vão às do “ Que se Lixe a Troika”?
Eu não tenho nenhum preconceito mas dá-me que pensar: porque é que sendo os objectivos idênticos ( o direito ao Trabalho, o direita à Vida, a inversão desta política ruinosa…) esta gente não se une? Porquê este “ apartheide”e esta “muralha”?
Se não houver união, a desejável união, estarei sempre ao lado dos segundos…