Disse um dia destes Chico Buarque: “As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisa nunca mudem…”
Mas também e há muitos, mas muitos anos Camões escrevia: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e…todo o mundo é composto de mudança… e acrescentando…trazendo sempre novas qualidades…”.
Vivemos tempos de mudanças. Aliás, vivemos sempre tempos de mudanças! O problema é que continuamos sempre a ver uma quantidade de gente à nossa volta que, mesmo observando as mudanças, sempre contra elas estão. Porquê? Por medo, por receio que elas os venham apoquentar, que os venham acordar da sua sonolência, dos seus velhos fantasmas, do seu imobilismo. São os chamados “ reaccionários”! Eles não se importam que as coisas mudem, porque sentem impossibilidade em contrariar as mudanças mas…nunca se querem envolver nem assumir que as coisas mudem. Porque têm que se adaptar. Porque têm que acordar e preferem ficar a dormir não suspeitando que os seus, filhos e netos e demais família, os poderão depois acordar sem mesmo quererem. Ou pode haver uma revolução que os acorde do imobilismo e depois, depois eles adaptam-se. São os “ reaccionários”, são aqueles que, por eles, nada mudava. Mas entravam as mudanças com o seu imobilismo. Sempre foi assim. Em nome de um reaccionarismo básico, como o descrito, ou em nome de interesses instalados, de privilégios consuetudinários, de benesses prometidas ou de estatutos adquiridos. Receiam as mudanças!
Mas o mundo, adverso a tudo isso, muda! Tudo muda…
Mudar queremos sempre para melhor, e é bem natural. Melhor para nós, para os nossos, para os amigos, para todos. Mas muitos pensam que tudo isso só decorre do esforço individual, do tudo para nós mesmos, do tudo valer para nós como se não houvesse outrem, do tudo ser possível para alcançarmos o que desejamos como se não houvesse mais alguém a disputar os mesmos desejos que os nossos. Desejos de vida, de vida simplesmente, daquele viver que só se alcança quando não estamos sós no mundo, quando também dependemos, quando também sentimos a necessidade de partilhar, de sermos uns entre muitos, atingindo uma felicidade que não é alcançada sem princípios de ética, sem estarmos, em suma, abertos às mudanças. Ao futuro. A um futuro que, dependendo de transformações múltiplas, nos obrigue a estar de frente para a vida e abertos às mudanças.
Tudo muda, tudo muda!
Vivemos tempos de mudanças e, como sempre, aparecem os velhos espíritos agoirentos, espíritos retrógrados apelando ao medo da mudança, ao medo do futuro, como se fosse pecado mudarmos. Mudarmos de pensamento, mudarmos de sítio, mudarmos de vida, mudarmos de sentir, mudarmos de políticas, mudarmos…
E, a propósito destes dias, dias de inequívoca mudança, dias como os que a minha geração por muitas vezes já viveu, e já vivemos muitas mudanças, umas como intervenientes e outras não mas sempre solidários com elas, lembrei-me dessa canção da Mercedes Sosa, La Negra: “ Cambia, Todo Cambia”, uma canção que há muito me acompanha e me serve de mote ao relativismo com que eu encaro este tempo de mudança ou qualquer tempo de mudança : “…Assim como tudo muda, que eu mude não é estranho”.
E, dando forma a este sentir, um sentir de afectação ao progresso, ressalvando o facto de haver coisas que nunca podem mudar, como o nosso Amor, a pessoas e a causas, aos princípios e aos valores civilizacionais que nos fazem diferentes e à postura perante o futuro, transcrevo na integra o poema desta canção porque ele é, em si mesmo, uma potente declaração contra o imobilismo e a favor da mudança, das mudanças:
Muda o superficial/ Muda também o profundo
Muda o modo de pensar/ Muda tudo neste mundo…
Muda o clima com os anos/ Muda o pastor seu rebanho
E assim como tudo muda/ Que eu mude não é estranho…
Muda o mais fino brilhante/ De mão em mão o seu brilho
Muda de ninho um passarinho/ Muda de sentir um amante…
Muda de rumo o caminhante/ Mesmo que lhe cause dano
E assim como tudo muda/ Que eu mude não é estranho…
Muda o sol em sua carreira/ Quando o norte subsiste
Muda a plante a sua veste/ De verde na Primavera…
Muda de pelugem a fera/ Muda o cabelo o “ anciano”
E assim como tudo muda/ Que eu mude não é estranho
Mas não muda o meu Amor/ Para mais longe que me ausente
Nem a recordação nem a dor/ Do meu povo e minha gente…
O que mudou ontem/ tem que mudar amanhã
Assim como eu mudo/ Nesta terra tão estranha..
Muda, tudo muda/ Muda tudo muda…
E vai mudar…!