…. Democrática, dizia ele ainda nos tempos do Sócrates, pretendendo insinuar que o governo tudo decidia, tudo ordenava, tudo controlava e ele, coitado, que não era governo, nada podia decidir e era asfixiado porque, no fundo, o governo lhe tolhia os passos. Como asfixiado se poderia sentir quem, pretendendo fazer com que os outros fizessem aquilo que ele deseja, o não conseguisse fazer.
Mas ele falava no Parlamento como chefe da bancada parlamentar, mantinha o seu emprego nas “Quatro Casas”, escrevia nos jornais e debitava na televisão…Assim como que asfixiado! Daria aulas ainda?
Que vivia numa asfixia, protestava ele! E era natural porque ele, anafado como estava, com bronquite asmática talvez e com insuficiência respiratória provocada pela falta de exercício físico que a demasiada estadia naquela bancada provocava, sentia dificuldade em respirar. Mas seria mesmo em respirar? Não, não era respirar nesse sentido: era não ter tempo para tudo. Para o parlamento, para as “Quatro Casas”, para os jornais e para as TV´s. Essa era a sua asfixia, pese estar anafado. Daria aulas ainda?
Mais eis que chegou outro governo, o seu governo, e ele emagreceu. Talvez para dar o exemplo. Seria? A verdade é que a asfixia se foi e foi-se porque o novo governo lhe trouxe aquilo que ele pretendia: Ar puro! Quais asfixias, quais dificuldades respiratórias, quias bronquites asmáticas, quais nada. Ele passou a respirar.
Mas como por aqui o ar ainda se mantinha um tanto ou quanto empestado ( ele havia manifestações, ele havia protestos, ele havia um clamor da sociedade) e havia assim um sentimento de tal repulsa que ele abalou à procura de novos ares, de ares mais limpos e foi para Bruxelas.
“ Three in one” como por cá se diz: não perdeu o seu lugar nas “Quatro Casas”, não deixou de escrever nos jornais e não perdeu a voz nas TV´s. E será que ainda dava aulas?E passou a “hablar” num grande areópago, um enorme lugar com centenas de pessoas de todas as europas e num ambiente de puro ar. E onde, para além das suas outras lucrativas actividades, passou a “alabar” o seu governo. Ele, livre das asmas, das dificuldades respiratórias e das sinusites lá se “prantou” e lá foi enaltecendo as virtudes dos ares de Portugal. E tanto orou e proclamou que chegou a dizer e a escrever um livro afirmando ser tudo obra de Deus…
Que esse seu Deus o teria salvado da asfixia, curado da bronquite asmática, que o céu se tornara estrelado e de um azul imenso, que as estrelas nunca tanto brilho tinham tido e que o espaço era cada vez mais infinito…E mais livre: os negócios mais isentos de impostos, as suas subvenções mais amimalhadas, a sua voz sem qualquer resquício de tosse e a sua vida cada vez mais parecida com ar que respirava. Um verdadeiro Éden esses quatro anos, um lugar onde se obedecia a quem mandava e era castigado quem não obedecesse.
Ele olhava para o futuro como um tempo livre de asfixias e onde ele vivia curado, definitivamente curado das maleitas passadas. Era questão ultrapassada e não mais recordaria as asfixias. As dele porque, havendo as dos outros, as dos que ficavam asfixiados quando viam as filas para as sopas dos pobres aumentarem, o desemprego a subir, os impostos a dispararem, as empresas a falirem, os ordenados a reduzirem, as reformas a minguarem, os subsídios a desaparecerem, os abonos a serem abolidos…ele tinha a certeza que eram asfixias de estirpe diferente. E eram…
Até que…até que sucedeu o impensável: o inefável pantomineiro, o inqualificável demagogo, o detestável monhé, o incrível e inelegível Costa, em golpes de magia negra, tão negra como ele, retirou-lhe de novo o ar! Inaceitável, gritou ele no parlamento europeu, nas “Quatro Casas”, nos jornais e nas TV´s. Será que também na Faculdade? Inacreditável, desabafou já com o ar faltando: Como é que um “gajo” derrotado se consegue armar em vencedor? Como é que um “ilegítimo” destes consegue atrair para a sua causa “inimigos” da causa? Como se pode arvorar em vencedor? E a sua asfixia voltou, lentamente voltou…
Isto não vinha nos livros e nunca por ele foi estudado, ele que de estudo tudo sabia. E a sua douta cabeça ficou feita num melão. Chegaram as enxaquecas e até de uma encefalite suspeitou. E pudera pois, pela magreza restante, o espelho a ampliava e a barba afundada em tão defeituoso enquadramento em nada ajudava.
E assim novamente asfixiado quando a Bruxelas volta, com todo o ar que lhe restava e com a bomba na algibeira, desata a protestar e a pedir punição a quem a asfixia lhe fez voltar. E foi quando Mr. Esquentador lhe disse: Não é dos ares Mr. Rangel, é dos gases…solte lá os gases ó fedorento…
Devíamo-nos ocupar mais do Rangel porque ele é já reincidente! Tem novamente asfixia! Será de o internar? Fazemos um peditório ou um “Croudfunding”?
Mas o fantástico é que a criatura, mesmo asfixiada, não deixou de estar em Bruxelas (17 mil Euros/mês), nas “Quatro Casas” (???), a escrever nos jornais (???) e a debitar nas TV.s (???)! Mas será que ainda dá aulas? Se asfixiado é assim, como seria se respirasse…?